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Especial ZAP | Pardal Henriques: “Espero que os portugueses não passem mais um cheque em branco ao PS”

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O advogado e porta-voz do sindicato nacional dos motoristas, Pardal Henriques

Em entrevista ao ZAP, o candidato do PDR, que foi o homem forte na luta dos motoristas, considera que pode ser uma voz ativa no Parlamento pela defesa dos trabalhadores e no combate à corrupção. E promete não “dividir os portugueses em portugueses de primeira e portugueses de segunda”, como fez o atual Governo socialista.

Quando pensamos nas greves dos motoristas, é impossível não nos vir este nome à cabeça: Pardal Henriques. O homem, o advogado, o antigo porta-voz do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) que fez frente aos patrões e que lutou por melhores condições para estes trabalhadores. E depois da luta pelos motoristas, vem aí a luta por todos os portugueses, sem exceção.

Em agosto, o advogado anunciou que ia deixar de ser porta-voz deste sindicato para integrar o Partido Democrático Republicano (PDR) como cabeça de lista pelo círculo de Lisboa. O advogado continua nas ruas, mas agora trocou os piquetes de greve pelas ações de campanha. “Coragem para mudar” é o lema do partido fundado em 2014 pelo ex-bastonário da Ordem dos Advogados e ex-eurodeputado António Marinho e Pinto.

Numa entrevista concedida ao ZAP, Pardal Henriques diz que, neste momento, “não existe nenhum partido político com assento parlamentar que defenda realmente os trabalhadores” e, por isso, considera que o PDR pode ser “uma voz ativa dentro da Assembleia da República”.

“Temos visto ataques violentíssimos aos trabalhadores, não só aos motoristas de matérias perigosas que eu represento, mas a todos os outros trabalhadores que ousam reclamar qualquer direito. Foi assim com os enfermeiros, foi assim com os professores, foi assim com os guardas prisionais. É assim e vai continuar a ser porque tudo isto são tubos de ensaio para mostrar aos trabalhadores que não adianta reclamarem porque as greves existem apenas no papel e a greve acontece da forma e como o Governo PS quiser”.

Crítico ativo do Governo de António Costa, o candidato do PDR também deixa farpas aos partidos de esquerda que o permitiram formar Governo há quatro anos, considerando que “estes ataques aos trabalhadores aconteceram com a sua conivência“.

“A grande diferença é que uns partidos dizem que defendem os trabalhadores e outros realmente defendem. Se esses partidos que estão na Assembleia da República, que tradicionalmente são de esquerda, defendessem os trabalhadores, não tínhamos assistido àquilo que aconteceu com a conivência e com a passividade deles”.

“É inaceitável que um partido como o Partido Comunista ou como o Bloco de Esquerda, ou mesmo como o Partido Socialista, assistam aos trabalhadores a serem obrigados a trabalhar com uma arma apontada à cabeça ou ignorem, por exemplo, os guardas prisionais, que se manifestam contra as políticas e contra o desprezo que lhes tem sido dado. O Governo nem sequer os chama para conversar, para saber o que se está a passar. A resposta do Governo é ‘a greve é ilegal’, mas não se preocupa sequer com o porquê de estas pessoas estarem a fazer greve. Não têm o bom senso de chamar o presidente do sindicato para saber porque é que estão a fazer greve”.

“É preciso ter coragem para isto e penso que já demos provas suficientes que coragem não nos falta para afrontar o sistema, para colocar em causa as questões que não nos parecem ser constitucionais e para defender as pessoas que são prejudicadas com estas decisões”.

Defesa dos trabalhadores e luta contra a corrupção

Ao ZAP, o advogado diz que a defesa dos trabalhadores é a grande bandeira do partido, a par da luta contra a corrupção, dando como exemplo os reformados. “As pessoas hoje em dia não vivem, sobrevivem com uma reforma e muitas delas porque foram prejudicadas durante o tempo de trabalho, tal como estavam a ser prejudicados os motoristas, que recebiam um salário por baixo da mesa e através de uma fraude fiscal grotesca que o Governo sabia — e que foi denunciado várias vezes — e que nada fazia para mudar esta situação”.

O candidato do PDR dá outro exemplo, lembrando as ações de fiscalização ocorridas em maio nas estradas com o intuito de cobrar dívidas. “É inaceitável que os inspetores da Autoridade Tributária vão para as rotundas para cobrar dívidas de pessoas que por acaso devem 100 euros às Finanças ou se esqueceram de pagar o imposto e vejam os seus carros apreendidos. Quando do outro lado são denunciadas fraudes fiscais que ascendem a cerca de 300 milhões de euros por ano e nada fazem para cobrar estas dívidas. Porque é que alguém que deve 100 euros às Finanças há-de ficar sem carro, e outras empresas que devem 300 milhões de euros continuam impunes?”, questiona.

Pardal Henriques considera que uma forma de o fazer é garantir que as entidades que são tuteladas pelo Governo, como é o caso da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) ou da Autoridade Tributária (AT), “trabalhem efetivamente em prol dos fins para os quais foram constituídas”.

António Costa, o abafa escândalos

Pardal Henriques não esconde que quer ser uma pedra no sapato de António Costa. Ainda na semana passada, referiu que queria debater com o primeiro-ministro, mas que este o ignora. O advogado considera que o Governo socialista teve vários erros ao longo desta legislatura, mas que “entretanto foram sendo abafados”.

“Acho que uma das características do dr. António Costa como líder desta geringonça é conseguir abafar os escândalos e os erros que vão cometendo ao longo da sua legislatura. O caso dos familiares que estão no Governo por forma a receberem do Estado português é um desses casos. Nunca se assistiu a uma coisa como esta e isto acaba por ser abafado”.

Outro caso bem presente é a questão dos lesados do BES. “Ninguém ouve falar disso e eles estão constantemente em manifestação nos locais onde o senhor primeiro-ministro passa. Aliás, são inclusivamente empurrados pelos agentes da PSP para que nem sequer consigam falar com o senhor primeiro-ministro. Há um problema para resolver, o senhor primeiro-ministro ignora estas pessoas e, por outro lado, tem uma capacidade tremenda de fazer abafar isto na comunicação social e na opinião pública em geral”.

Além disso, “o PS vem apresentar contas certas e vem agora fazer campanha a dizer que conseguiram cumprir todos os objetivos, mas há que perguntar: contas certas à custa de quem ou à custa do quê?”, questiona o candidato do PDR, acrescentando que “nunca se assistiu em Portugal a tantas greves como nos últimos dois anos”.

“Se os trabalhadores se manifestam contra a forma como está a sua vida laboral, é porque não está tudo bem, antes pelo contrário, está tudo mal. Nem na altura da troika, que foi uma altura em que os portugueses sofreram para pagar uma dívida — que por acaso até tinha sido criada pelo mesmo partido que agora está no Governo —, existiram tantas greves. O PS e os outros partidos da geringonça vêm dizer que conseguiram cumprir os objetivos, conseguiram-no à custa do sacrifício dos trabalhadores que são cada vez mais desprezados”.

“Acho que um dos maiores erros deste Governo foi dividir os portugueses em portugueses de primeira e portugueses de segunda“, aponta ainda.

PSD e CDS não fizeram oposição

Mas mesmo com tantos erros, quase todas as sondagens dão vitória ao PS nestas eleições. Como é que se explica isto? Para Pardal Henriques, além da capacidade de abafar estes casos, existe um outro motivo: a ausência de oposição.

“O PS estava no Governo, o PCP e o BE estiveram a acompanhá-lo, e os outros partidos não fizeram oposição. Ninguém questionou as medidas do Governo, ninguém questionou os ataques aos trabalhadores, ninguém questionou absolutamente nada”.

“Aliás, eu questionei o Governo sobre estes ataques aos trabalhadores e a reação foi de processos e uma série de calúnias contra nós para tentar que alguém nos silenciasse, já que não havia oposição”, declara o ex-porta-voz do SNMMP, referindo-se ao processo em que alegadamente está a ser investigado por burla.

Sobre esse “hipotético processo”, o candidato do PDR diz que, embora tenha sido anunciado pela comunicação social em abril, a verdade é que “estamos no final de setembro e ainda não fui notificado”. “Concluo que tenha sido mais uma mentira para tentar bloquear aqueles que realmente fizeram oposição ao Governo”.

Questionado pelo ZAP se considera que a direita está a passar por um período crítico, Pardal não tem dúvidas, mas contrapõe com uma nova questão. “Sim, considero que durante estes quatro anos o PSD e o CDS não fizeram oposição ao PS mas, em primeiro lugar, temos de nos perguntar: qual é a direita e qual é a esquerda em Portugal?”.

“As políticas dos partidos têm-se confundido muito. Antes de nos questionarmos se a direita está enfraquecida temos de questionar se existem na Assembleia partidos de direita e de esquerda ou se são partidos que vão criando políticas de forma oportunista relativamente aos assuntos que se vão passando na sociedade”.

E por falar em PSD, Pardal Henriques não contesta o artigo do jornal Público, que avançou que partes do programa eleitoral do PDR são iguais a partes do programa social-democrata. O advogado considera que não há aqui polémica nenhuma porque no PDR não são “hipócritas”.

“Não somos políticos profissionais e também não somos hipócritas. Não temos de discordar com tudo o que os outros dizem. Só porque temos de cumprir uma formalidade, não temos de estar a inventar políticas. Há muitos partidos que o fazem porque têm de cumprir um programa eleitoral, que depois no dia das eleições é completamente esquecido. Nós não queremos ser assim, não queremos transmitir essa hipocrisia e não temos de discordar com tudo aquilo que os outros partidos apresentaram no programa. Se são medidas que nós até concordamos, também fazem parte do nosso programa”.

Candidatura foi “oportunismo político”?

Aquando do anúncio da sua candidatura pelo PDR, muitos o criticaram pelo seu “oportunismo político”, tanto que Pardal Henriques chegou a dizer que só se candidatava por causa do primeiro-ministro. Segundo o advogado, a política nunca foi o que quis para a sua vida profissional e não vai “para ganhar dinheiro, antes pelo contrário”.

É aqui que deixa uma crítica ao líder comunista. “O secretário-geral do PCP veio dizer que Pardal Henriques é um oportunista porque entrou no sindicalismo e, depois daí, entrou para a política. Gostaria que o senhor Jerónimo de Sousa pensasse o que é que foi o seu trajeto. Antes de entrar no Parlamento, também era sindicalista. Porque é que me vem acusar a mim de uma coisa que ele fez há muitos anos? Assim como muitos outros que estão no Parlamento”, aponta.

Mas, afinal, o que é que o fez mudar de decisão? Apesar de ter prometido à família que não o faria, o ex-porta-voz do SNMMP diz que, depois do “massacre contra os motoristas”, também os seus familiares mais próximos mudaram de opinião. E deixa alguns exemplos.

“Motoristas que conduziram com militares à frente e atrás do camião; um motorista que abrandou para me cumprimentar e que viu três agentes da GNR armados com uma metralhadora a perguntarem porque é que tinha abrandado; motoristas a trabalharem com helicópteros da Força Aérea a sobrevoar por cima deles; a ACT e militares da GNR a irem buscar motoristas a casa para trabalharem forçados”, enumera.

“Tudo isto nos fez parecer que não estávamos num Estado democrático, num país que pertence à União Europeia e que mais parecia um país com um regime tipo Coreia do Norte. Foi depois disso que eu e a minha família ficámos convencidos de que era necessário eu candidatar-me”.

Em 2015, o PDR foi o partido mais votado entre os que não conseguiram eleger deputados, tendo conseguido 61,6 mil votos (1,14%). Pardal Henriques não tem dúvidas de que o partido vai conseguir um bom resultado no próximo dia 6 de outubro, basta que os portugueses lhe deem o seu “voto de confiança”. Seja qual for o resultado, uma coisa é certa para o homem forte dos motoristas: “Espero que os portugueses não passem mais um cheque em branco ao PS porque, atribuindo-lhe a maioria absoluta, é um problema sério para a democracia portuguesa”.

Nota: No âmbito das Eleições Legislativas 2019, o ZAP contactou os partidos que, em 2015, reuniram mais de 0,50% dos votos.

FM, ZAP //

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9 Comments

      • Será que não chega lá?
        Não sei quantos votos são necessários para eleger um deputado…
        Eu até fui a favor da greve dos camionistas, mas este advogado oportunista não vale nada…

  1. Penso que um dos maiores males deste país, ou mesmo do mundo, é o enormíssimo défice de democracia a que chegámos. A liberdade com responsabilidade é inexistente, hoje todos são ditadores do tipo “faz o que eu digo não faças o que eu faço”. Existem demasiadas leis e um cumprimento quase nulo das mesmas, ou pior, as leis são adaptadas aos casos particulares, sendo que os “amigos” e os “endinheirados” safam-se sempre. Os diversos governos têm vindo a regular todas as actividades não permitindo sequer que as pessoas errem e paguem pelos seu erros, presumivelmente somos todos futuros culpados ou futuros criminosos e, assim sendo, previnem-se os erros penalizando antecipadamente o presumível infractor.
    É apenas a minha opinião e vale o que vale.

  2. Pardais são pássaros inúteis e parasitas!
    Uma autêntica praga!
    Então se fedem a petróleo, estamos conversados.
    Este pardalão merece a “confiança” de
    0,000000001% dos eleitores…

  3. O Marinho Pinto já disse que é a ultima vez que se candidata. Que já está fora do prazo. Quando ele criou o PDR pensava que tinha o Povo a seus pés. Quando era bestonário, dizia na TV que o caso Casa Pia tinha sido inventado para decapitar o PS.. Que grande corja!!

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