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Um amigo de Salazar, um perseguido pela PIDE: o outro lado da família Pacheco de Amorim

Manuel de Almeida / Lusa

O primeiro deputado democrata-cristão, a intentona da Mealhada e António de Spínola: entrevista a Duarte Amorim.

Foi um artigo publicado ainda antes das eleições legislativas, que iniciou a troca de pontos de vista.

Duarte Amorim é primo de Diogo Pacheco de Amorim, deputado do Chega e agora vice-presidente da Assembleia da República.

Salienta que é preciso “contextualizar”, sobretudo em relação ao passado familiar de Diogo – e dele próprio, claro.

Fez uma viagem ao passado nesta conversa com o ZAP. Passámos pelo avô (amigo de Salazar) que estreou a democracia-cristã no Parlamento, pelo tio que teve de fugir da PIDE e até começámos pelo general Spínola.

Spínola e as colónias

Após o 25 Abril, nomeadamente a 28 de Setembro de 1974 (o dia da manifestação da “Maioria Silenciosa” que foi abortada), essa data “consumou a instalação plena do comunismo em Portugal”, considera.

E foi por isso que nasceu o MDLP – Movimento Democrático de Libertação de Portugal, liderado pelo “ídolo do 25 de Abril” António de Spínola.

A prioridade do MDLP era clara: “Evitar que o comunismo se instalasse em Portugal. E agora cada um faz a sua leitura. Uma coisa é a memória, outra é a história…”.

Spínola foi aluno do Colégio Militar, tal como Duarte Amorim: “Conheci-o pessoalmente e ele era muito respeitado por toda a família militar, principalmente por um motivo: apesar de ter comandado várias forças nas frentes difíceis em África, estava sempre na linha da frente, não ficava só atrás a dar ordens. Daí a grande lealdade que havia com o General Spínola”.

Duarte recordou o famoso livro Portugal e o Futuro, escrito precisamente por António de Spínola, que defendia um regime federalista.

O MFP – Movimento Federalista Português acreditava que a independência das colónias deveria seguir o modelo federalista: “Com um Governo de transição de cinco a sete anos, para nenhuma das partes perder. Um pouco à imagem da Commonwealth”.

Com a independência das colónias em África, em 1975, o MFP foi extinto (já não tinha razão de existir) e foi fundado o Partido do Progresso, depois erradicado em 28 de Setembro. “Era de direita, sim, não era de extrema direita”, assegurou Duarte Amorim, contrariando o que já foi noticiado.

Fernando, crítico de Salazar

Nesses dois momentos (MDLP e MFP), ao lado de Spínola esteve presente o seu tio, Fernando Bayolo Pacheco de Amorim.

Fernando era licenciado em Ciências Políticas e especializado em Política Ultramarina.

Esteve presente na famosa intentona da Mealhada: “Avançaram para Lisboa para fazer uma revolução mas ficaram-se pela Mealhada”.

Fernando Pacheco de Amorim era um crítico do Estado Novo: “Sempre discordou de Salazar, escreveu vários livros na clandestinidade, sendo perseguido pela PIDE e privado de liberdade, inclusivamente, “hóspede” da Trafaria”, relatou.

Foi por isso preso pela PIDE devido às suas posições anti-regime.

Avô, amigo de Salazar

O avô, que também se chamava Diogo Pacheco de Amorim, não era monárquico (também ao contrário do que tem sido avançado) e foi até o primeiro deputado democrata-cristão em Portugal. Foi eleito pelo círculo da Covilhã, em 1935. Ficou até 1938 e mais tarde voltou a ser deputado entre 1945 e 1949.

Fundou o Centro Académico da Democracia Cristã em 1912 juntamente com… António de Oliveira Salazar e Manuel Gonçalves Cerejeira (mais tarde Cardeal Cerejeira), entre outros.

Diogo era amigo de Salazar: “Estudaram juntos, andaram todos no seminário e encontraram-se pela vida fora”.

Duarte Amorim conta ao ZAP uma fase curiosa da vida do seu avô: “Renovada a concordata (entre Santa Sé e Portugal, em 1940), houve uma briga e uma divergência que durou anos entre Cerejeira e Salazar. Cerejeira não concordou com algumas cláusulas e modificou-as, ficou mal visto no Vaticano. Lembro-me de o meu avô contar isso porque, durante anos, o meu avô andava no meio a tentar apaziguar as coisas entre os dois“, recorda, entre sorrisos.

No geral, o avô Diogo Pacheco de Amorim “era uma pessoa muito simples, apesar dos cargos importantes que ocupou. Os pais dele, os meus bisavós, eram caseiros numa quinta em Monção. Estudou em Braga, entrou mais tarde na faculdade de Coimbra, em Matemática, e licenciou-se com 20 valores. Teve mérito”.

“Respondeu muito bem”

Fechamos com o início: o Diogo Pacheco de Amorim mais novo.

Depois das conversas recuperadas na campanha eleitoral, a sua eleição para vice-presidente da Assembleia da República originou novas críticas.

De Mariana Mortágua, especialmente: Diogo Pacheco de Amorim “militou e participou em organizações terroristas que se opuseram ao 25 de Abril e à democracia”.

Aqui, a reacção de Duarte Amorim foi muito curta: “Ele já respondeu muito bem numa entrevista”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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