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Veículo elétrico em posto de carregamento com tomadas CCS2 (esq) e CHAdeMO (dir)
Comprar um elétrico usado é menos arriscado do que adquirir um carro usado a combustão: há muito menos componentes que possam avariar. Deve dar atenção a alguns detalhes, mas o mais importante é a bateria. Felizmente, há o chamado SoH, o Estado de Saúde da bateria — e formas de o testar.
Comprar um carro elétrico usado assusta muitos condutores: alguns recusam-se mesmo tentar, outros acham arriscado, há quem garanta a pés juntos que é uma loucura.
Mas há quem já tenha feito a experiência e garanta: é a melhor decisão que alguma vez tomou. Quentin Willson é um deles.
O jornalista e produtor de televisão britânico foi apresentador dos programas automobilísticos Britain’s Worst Driver, Fifth Gear e da versão original do Top Gear, e há quinze anos que conduz veículos elétricos. Vai no seu sétimo modelo diferente, e diz que nunca teve problemas.
Num artigo na BBC Science Focus, Willson garante que comprar um elétrico usado é muito mais sensato do que se pensa, e explica as regras essenciais para fazer uma boa compra.
Condução simplificada
Segundo explica Willson, comprar um VE usado é menos arriscado do que adquirir um carro usado com motor de combustão, porque há muito menos componentes que possam avariar. Um sistema de tração elétrico tem cerca de 20 peças móveis, comparado com mais de 200 num veículo a gasolina ou gasóleo.
Em embraiagens, unidades de controlo da caixa de velocidades, bombas de combustível, válvulas de recirculação de gases de escape… a lista de problemas possíveis nos motores de combustão parece interminável.
Enquanto isso, vários estudos mostram que os VE avariam menos do que os carros com motor de combustão.
A manutenção de um VE envolve substituir o filtro do habitáculo, trocar o líquido de travões de três em três anos e rodar os pneus para uniformizar o desgaste. E isso é tudo, porque há muito poucos componentes sujeitos a atrito.
Assim que começamos a compreender quão simples é a mecânica de um VE, começamos a saber a que devemos prestar atenção. E, como já todos, ou quase todos adivinhávamos, o mais importante é a bateria. Esta é a maior preocupação de quem compra um VE usado.
Na verdade, há atualmente dados de milhares de milhões de quilómetros que mostram que a taxa de falha das baterias de iões de lítio é, na realidade, muito baixa.
A maioria dos VE vem com uma garantia de bateria de oito anos ou 150.000 km. Na maior parte dos casos, se a capacidade cair abaixo de 70% dentro destes limites, a bateria será substituída gratuitamente.
Willson já conduziu um elétrico fora da garantia, com 400.000 km nas baterias originais, que ainda mantêm boa carga e autonomia. Atualmente, a maioria dos especialistas concorda que a bateria de um VE dura mais do que o chassis do carro.
Um estudo da Consumer Reports estima que a vida útil média de uma bateria seja de 320.000 km; e uma análise à bateria de 10.000 veículos, conduzida pela Geotab, mostrou uma perda de capacidade de 10% ao longo de 10 anos. No mesmo período, um motor de combustão também perde eficiência, devido ao desgaste mecânico.
O que deve observar
A maior parte do concessionários fornecem o certificado de Estado de Saúde da bateria (SoH), e muitos elétricos têm software próprio, que permite ao proprietário verificar o estado da bateria. Willson fez isso no seu Tesla, aos 80.000 km, e descobriu que ainda tinha 93% de capacidade.
Se comprar o seu VE num concessionário, certifique-se de que lhe é fornecido o certificado SoH. Se se tratar de uma venda particular, verifique a capacidade da bateria num serviço especializado. Em Portugal há vários serviços, como a DEKRA ou a VerifiCar, que lhe permitem consultar o SoH da bateria em 15 minutos.
Qualquer valor de SoH em torno de 90% significa que a bateria tem ainda muita vida útil, uma vez que em muitos modelos a degradação das células estabiliza a partir desse ponto.
Há, no entanto, algumas exceções, salienta Quentin Willson.
A versão inicial do Nissan Leaf teve problemas de arrefecimento da bateria, e perde autonomia e capacidade mais rapidamente do que outros VE. Também os primeiros Renault Zoe apresentam problemas de gestão da bateria, e os modelos Smart EV mais antigos podem ser difíceis de reparar.
Além disso, segundo a WhatCar, modelos mais antigos do BMW i3 e Opel Corsa E apresentam falhas de fiabilidade. Como regra geral, evite as primeiras gerações dos modelos elétricos, que podem parecer tentadoramente baratos.
Nos últimos anos, a tecnologia das baterias melhorou, oferecendo agora maiores autonomias, carregamento mais rápido e melhor software. Prefira um modelo produzido depois de 2017, pois estará a adquirir tecnologia mais moderna.
Alguns modelos podem ter tomadas CHAdeMO, que estão a ser eliminadas em muitos países, embora seja possível comprar adaptadores para o Combined Charging System (CCS), agora usado em todos os carregadores.
Em alguns VE, houve problemas com as tampas das tomadas de carregamento, as próprias tomadas e os cabos, mas são casos relativamente raros.
Assim, antes de comprar, verifique a funcionalidade da tomada e da tampa, carregando o carro durante algum tempo e observando de o ecrã central mostra avisos de carregamento ou falhas de conexão.
Peça ao vendedor que carregue a bateria até 100% antes da sua chegada e verifique a autonomia indicada. Se for significativamente inferior à autonomia anunciada pelo fabricante, afaste-se.
A maioria dos VE perde autonomia com tempo frio, mas se a temperatura ambiente for amena, a autonomia deve aproximar-se do valor oficial. VE equipados com bombas de calor oferecem melhor autonomia em baixas temperaturas.
A bateria de 12 volts em alguns VE, tal como nos carros com motor de combustão, pode perder carga com o tempo, e isso pode afetar o carregamento da bateria principal e confundir parte do software. Por isso, é aconselhável substituir a bateria auxiliar de três em três anos.
Além de falhas elétricas, verifique o desgaste da suspensão nos braços e buchas da frente, e se houver rangidos ou estalidos, pergunte a razão. Os VE devem ser silenciosos e extremamente suaves.
Um ponto muito importante antes de decidir comprar o seu primeiro elétrico é se tem forma de instalar um posto de carregamento doméstico, para poder carregar o VE em casa, aproveitando as tarifas mais baixas de energia. Carregar o seu elétrico em casa permite-lhe poupar até 80% do que gasta num veículo a combustão.
Mas, seja qual for a forma de carregar o seu VE usado, será sempre mais económico do que o que está habituado a pagar para fazer 100 km num carro a gasolina ou gasóleo, conclui Willson.