Cientistas decifraram o genoma completo da resiliente batata: tem origens híbridas e seis conjuntos de cromossomas, três vezes mais do que os humanos.
A batata doce parece um alimento simples, mas uma equipa de investigadores acaba de descobrir que o alimento é uma das culturas agrícolas geneticamente mais intrincadas alguma vez estudadas.
Segundo um estudo publicado em agosto na Nature Plants, o genoma completo da batata doce foi decifrado e revelou que esta é uma espécie híbrida com seis conjuntos completos de cromossomas — três vezes mais do que os humanos.
A complexidade do genoma da batata doce tem na verdade dificultado muito os esforços para melhorar a planta, através de cruzamentos ou engenharia genética, nota o IFL Science. Ao contrário de outras culturas como o trigo — onde as contribuições genéticas ancestrais estão organizadas em secções distintas do genoma —, a composição genética da tão essencial batata em várias partes do mundo é um como um mosaico entrelaçado.
A batata doce é extremamente resistente, exige poucos pesticidas e produz cerca de 70 quilocalorias por hectare por dia, o que a torna uma das culturas de base mais eficientes a cultivar. Então, resolver este enigma tem sido prioridade da equipa de Cornell.
Para tal, a equipa recorreu a técnicas avançadas de sequenciamento de ADN para mapear o genoma da variedade Tanzania, conhecida pela elevada produtividade e resistência a doenças. Conseguiu separar os 90 cromossomas da planta em seis conjuntos distintos, chamados haplótipos, alcançando um nível de detalhe sem precedentes. “Permite-nos ler a história genética da batata-doce com um detalhe extraordinário”, disse o investigador principal Zhangjun Fei.
O estudo revela que a batata-doce é um alopoliploide segmentar — um híbrido resultante de várias espécies ancestrais que, geneticamente, se comporta como se tivesse origem numa só. Esta estrutura complexa poderá estar na base da sua notável resiliência, já que os seis conjuntos de cromossomas fornecem várias cópias de genes essenciais, um fenómeno conhecido como amortecimento poliplóide. Estas cópias de reserva ajudam a planta a resistir à seca, a combater pragas e a adaptar-se a diferentes ambientes.
Com este mapa genético agora disponível, os cientistas esperam identificar genes ligados ao rendimento, valor nutritivo e resistência a doenças, abrindo caminho a futuras melhorias da já poderosa batata. Os métodos desenvolvidos poderão ainda ajudar a desvendar outros cultivos complexos, como o trigo, o algodão e as bananas, desbloqueando novos avanços agrícolas a nível mundial.