Não participaram no crescimento demográfico impulsionado pela agricultura que transformou a Europa e grande parte da Ásia. Trajetória deixou cicatrizes no seu genoma.
Há décadas que os traços físicos únicos dos povos da Papua-Nova Guiné intrigam os cientistas, e agora a inteligência artificial (IA) pode fornecer respostas às longas questões em volta da sua complexa origem.
De acordo com recentes análises baseadas em IA, os papua-novo-guineenses partilham uma ascendência comum com outros povos asiáticos. A aparência dos papua-novo-guineenses durante muito tempo alimentou a narrativa de que poderiam descender de uma linhagem humana distinta, separada das restantes populações não africanas, mas a semelhança pode afinal dever-se a processos de seleção natural e adaptação ao clima tropical, e não a uma origem genética diferente, aponta a nova investigação, publicada a 9 de julho na Nature Communications.
Os resultados desafiam a hipótese da chamada “primeira saída de África” — que defendia que os antepassados dos papuásios teriam feito parte de uma migração inicial, anterior à dos restantes humanos modernos, seguindo uma rota costeira através do sul da Ásia.
Embora os vestígios arqueológicos na Oceânia, com cerca de 50 a 60 mil anos, sugiram ocupação humana muito antiga, os novos dados genéticos não confirmam uma linhagem separada. Estudos ao ADN mitocondrial e ao cromossoma Y indicam que estes povos descendem do mesmo evento de dispersão que originou as restantes populações não africanas, ocorrido há cerca de 50 a 70 mil anos.
Um dado singular da genética papuásia é a elevada proporção de ADN dos Denisovanos — um grupo humano extinto aparentado com os Neandertais, lembra o autor principal do estudo ao SciTechDaily. Esta herança genética terá resultado de cruzamentos entre os antepassados dos papua-novo-guineenses e populações denisovanas no Sudeste Asiático ou na Oceânia.
Segundo os investigadores, os antepassados dos papua-novo-guineenses enfrentaram um acentuado “estrangulamento populacional” após chegarem à Papua-Nova Guiné — uma redução drástica no número de indivíduos que perdurou durante milhares de anos. Ao contrário de outros povos não africanos, não participaram no crescimento demográfico impulsionado pela agricultura que transformou a Europa e grande parte da Ásia, mantendo-se relativamente isolados. Esta trajetória demográfica única deixou marcas no seu genoma que, mal interpretadas, poderiam parecer indícios de contribuições genéticas de populações desconhecidas.
Ainda assim, os cientistas admitem que algumas questões permanecem em aberto, como a possibilidade de traços residuais dessa hipotética “primeira saída de África”.