O número dois do Chega é (ou foi) terrorista?

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ZAP // Grupo Parlamentar Chega, André Kosters / Lusa

“Nunca foi condenado”, lembra Ventura. Estava numa associação que “matou um padre”, reage Mortágua. Por onde andou Diogo Pacheco de Amorim.

O assunto está longe de ser novo mas voltou à agenda mediática por causa do debate entre André Ventura e Mariana Mortágua, na campanha eleitoral para as legislativas de Março.

Durante a conversa desta terça-feira, Mortágua atirou: “O seu partido (Chega) é que tem como número dois um dirigente da principal organização terrorista em Portugal, que fez 600 atentados e foi responsável pela morte do Padre Max”.

Nenhum nome foi mencionado mas o próprio Ventura fez logo a associação, que era fácil de se fazer: estava a falar sobre Diogo Pacheco Amorim.

O deputado tem agora 74 anos; curiosamente completa 75 anos no dia das eleições, 10 de Março.

Aliás, é mais do que um deputado: é visto como o ideólogo do Chega.

Estado Novo, Coimbra, 25 de Abril

Mas tem realmente um passado “duvidoso”. Desde logo, a nível familiar. Lembrava a revista Visão que o seu avô era monárquico, mas próximo de Salazar (cresceu no meio da elite dos tempos da ditadura); e o seu tio fundou o Partido do Progresso, de extrema direita, no pós-25 de Abril.

Logo aos 6 anos já começava a espreitar as tertúlias com políticos – incluindo ministros do Estado Novo – que havia em casa do seu avô. O interesse começou cedo.

Estudou filosofia em Coimbra. Durante a licenciatura faltou às famosas greves dos estudantes em 1969. Era descrito pelos colegas universitários como “fascista”, contou o próprio à revista Sábado. Na reacção, entre “pancada”, chamava “comunas de m…”.

Foi um dos criadores do Grupo da Cidadela, movimento de direita anti-greves e que defendia por exemplo a manutenção dos territórios em África (uma das ideias era passar a capital de Portugal para Luanda).

Os anos passaram, continuou a ser visto como fascista e, poucos meses depois do 25 de Abril, foi enviado para os Açores por causa disso. E desde cedo “duvidou” da Revolução dos Cravos: “Toda a malta de direita estava nos Açores – o que para eles correu mal porque depois acabámos com o 25 de Abril nos Açores. Chegámos lá e começámos a meter tudo na ordem”.

MDLP

Rapidamente se tornou membro do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP) ao longo do PREC – Processo Revolucionário em Curso.

É essa a organização terrorista, de extrema-direita, que tentou um golpe de Estado no dia 11 de Março de 1975, associada a diversos atentados à bomba.

Um desses atentados matou, já em 1976, o padre Max e uma estudante que o acompanhava, Maria de Lurdes. Membros do MDLP foram a tribunal – mas nunca foram condenados; faltavam provas claras. A organização em si, o MDLP, foi considerada culpada, mas ninguém foi alvo de pena de prisão.

O MDLP estava ligado ao Movimento Maria da Fonte e ao Exército de Libertação de Portugal; cruzavam fontes, colaboradores e patrocinadores.

Refira-se que o líder do MDLP era António de Spínola.

Não há condenação, não há terrorista

Voltando ao debate com Mariana Mortágua, André Ventura assegurou que Diogo Pacheco Amorim “nunca foi condenado por tribunal nenhum”.

O próprio Diogo Pacheco de Amorim disse à Sábado que o MDLP tinha três sectores separados e que nunca teve qualquer contacto com os responsáveis pelos (eventuais) atentados: “Se houve bombas postas, nós nunca soubemos, nem daríamos acordo a uma coisas dessas”.

E deixou uma garantia: o MDLP nada teve a ver com o assassinato do padre Max: “É uma questão cronológica: no 25 de Novembro (de 1975) o MDLP acabou. Não foi dissolvido oficialmente por questões burocráticas, mas já não existia” – a extinção oficial do MDLP decorreu no dia 29 de Abril de 1976; o padre Max morreu 27 dias antes.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

16 Comments

  1. Esta Mortagua e a sua Hipocrisia…, na Assembleia da Republica diz ao Ventura que, “nao se pode eternizar uma pena de prisao”, mas mal poe os pes fora da Assembleia, que faz ela???!!!!!, tenta constantemente eternizar as penas de prisao que os seu opositores Politicos ja cumpriram, e na falta de argumentos, faz o mesmo a quem nunca foi condenado!!!!, e tudo isto, feito por uma Comuna, que e filha de um ssaltante de Bancos que nunca respondeu pelos seus crimes!!!!!, nas FP 25 de Abril, que foram responsaveis por 17 Homicidios, nao fala ela…

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  2. A Mariana Mortagua deveria também falar do pai!
    Muito correto foi o Ventura em não lhe atirar à cara o que fez no passado o pai dela!

  3. Rui, o pai de Mariana Mortágua tem um passado heróico de Resistência ao Regime fascista em plena Guerra Colonial e de perseguição da polícia política, PIDE, devia ser condecorado nos 50 anos do 25 de Abril.

  4. Do alto da minha reforma dourada, sou uma estadista(o)….
    Enfim, comigo estas opiniões não passarão!
    CHEGA sem medo, o futuro é dos jovens… ou devia ser.
    Como disse o outro …. é a tua tia!

  5. Tendo, ou nao tendo, um passado heroico…, nunca respondeu pelo crime de roubo ao Banco de Portugal, e devo lembrar-lhe que ele nao roubou os Fascistas, ele roubou o Povo Portugues, sabe que mais, aos olhos de muita gente, e infelizmente, o Otelo tambem teve um passado heroico…, o que nao o ilibou dos crimes que cometeu.

  6. Isto do terrorismo é uma faca de 2 gumes. Os resistentes franceses de 1940/44 também eram considerados terroristas pelos nazis e colaboradores de Vichy.

  7. O tio do Pacheco de Amorim foi preso, várias vezes, antes do 25 de Abril, inclusivamente, esteve na “cèlebre” Trafaria. Publicou vários livros, na clandestinidade, por isso, também, foi perseguido pela PIDE e a causa de ficar privado de liberdade, várias vezes.
    Licenciado em Ciências Políticas, especializou-se em descolonização.
    Após o 25 de Abril, fundou o Movimento Federalista Português para preparar a independência das colónias no “modelo” federalista, defendendo o s interesses de todos, pois, finalmente, Portugal vivia em Liberdade e Democracia.
    Consumada a Independência, exemplar, o MFP foi dissolvido e deu origem ao Partido do Progresso.
    Este, no 28 de Setembro, foi invadido e destruído. Então, passou de anti-salazarista a salazarista.
    Este ano comemoramos 49 anos da Independência das Colónias. Felizmente, todos os Angolanos, Moçambicanos, Guineenses, Cabo Verdianos… vivem em condições de Liberdade e Desenvolvimento, sem Fome e devidamente assistidos na doença.

  8. Lembro-me de Diogo Pacheco de Amorim a tocar piano e a cantar no bar Ibéria, um local que me seria liminarmente interdito se não fosse a Revolução, já que tinha uma fama dúbia.*
    na altura em que lá ia, acompanhada devidamente escoltada, era frequentado por várias pessoas ligadas à direita, e por outros, como eu, cheios de curiosidade por tudo o que estava a acontecer no país, e por quebrar as inrterdições que, sobretudo as meninas, tinham.
    Lembro-me de Francisco Sousa Machado, normalmente acompanhado pela filha Rosarinho e outros que não vou nomear.
    Diogo Amorim era muito talentoso, segundo me lembro. Compunha charges para as letras das musicas revolucionárias, ou dos trovadores malditos, com imensa graça. Lembro-me de uma sobre Otelo Saraiva de Carvalho, que acabava – e na garupa as divisas de general. Não me importava de a ouvir outra vez, nunca tive mais consideração por Otelo que a que sinto por Jean Marie le Pen.
    Quanto ao resto, percurso, ideologia e opiniões sobre a orientação do país e o papel do estado, faço votos para que nunca tenha poder para concretizar um centésimo.
    Cidadão pagador. Soa tanto a expressão religiosa. Cidadão expiador. Qualquer coisa de escuro e de penitente. De desesperança.
    ‘Eu que não creio peço a Deus por minha gente’.
    Deus nos ajude, mas é.

    * )- parece que fama e proveito.

  9. Anedota é a acusação do líder do partido protofascista, (que antecedeu o comentário de MM) que, com a casa cheia de auto-declarados fascistas (não sou eu que o digo são eles mesmos, é só visitar as imagens do ultimo congresso e ouvir as palavras dos próprios) e ex-membros de organizações declaradas formalmente terroristas como o MDLP, que tem no seu corriculum as “ivejáveis” acções: atentados bombistas: 116; Assaltos a sedes (na sua maioria do PCP, mas tb contra o PS e a UDP): 123; Incêndios:31; Atentados a tiro : 8, Espancamentos: 8; Apedrejamentos: 6. E Sim tenha ou não tenha participado nos atentados o nº2 do partido protofascista, era – ele mesmo o reconhece – membro do MDLP e seria impossivel não conhecer que o movimento era responsável por acções violentas contra os partidos da esquerda portuguesa.
    PS: Eu nem sou do BE, mas o minimo de honestidade intelectual exige assinalar os factos como aconteceram.

  10. Não existe nenhuma hipocrisia em assinalar o passado politico – ainda para mais com envolvimento em organizações simpatizantes do fascismo e envolvidas em accçoes violentas contra pessoas e contra a democracia – e ser contra a eternização de penas de prisão… porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, se não compreende a diferença terá dificuldade em compreender o básico da politica.

  11. Cruzes, Diabo, estes fascistas e Nazistas querem implementar novamente a PIDE.
    Já temos um cheirinho de PIDE na Justiça, mas vamos acabar com ela.
    Desculpem o meu elogio mas gostaria de ver os fundadores do chega no Inferno a beberem whisky em garrafas sem fundo com alguns buracos e ao mesmo tempo a passear com mulheres lindas mas sem nenhum buraco.

  12. Existe uma tendência generalizada para analisar comportamentos de ativistas, antes, durante, e após Salazar, colocando um traço comum, não obstante a complexidade do fenómeno.
    Vivi todos esses tempos. Marchei, obrigado, à sombra da Bandeira Portuguesa para a guerra no Ultramar. Quando parti, tive a sensação que ia defender Portugal das garras do terrorismo, quando cheguei tive a certeza que me apelidaram de terrorista.
    Nem tudo é branco e também nem tudo é preto. Existe um cromático identificado e processado por cada íris, e daí resulta , para o bem e para o mal, comportamentos diversos.
    A motivação do ativista bebe em fontes tantas vezes inquinada.. Para mim, indubitavelmente, tudo se resume à tomada de atitudes mais ou menos nobres, mais ou menos (ir)racionais. O mote poderá já ser dado a partir do berço ou, pelo contrário mais tarde aquando da vivencia de factos reais, da perceção – ou da falta dela – relativamente à forma como está organizada a sociedade no âmbito da governação, neste caso de Portugal.
    Há uma tendência clara, para ignorar o contexto, o tempo em que decorreu essa ação e, sobretudo uma falta de objetividade que teima em se travestir, a fim de perpetuar a ideia de que tudo poderia ser diferente, para melhor, basta sonhar.
    As liberdades alcançam-se, quantas vezes pagando um preço tremendo.
    A sociedade é insaciável, quantas vezes irrealista quanto ao que exige, tal como demonstra a predisposição para aceitar.
    Aceitamos de ânimo leve que um governo que aumenta uma pensão de 400.00€ e que tem a coragem – o desplante- para aumentar também uma pensão 3/4 mil €, usando rácios muito equivalentes. E não nos apercebemos que esses governos são considerados de esquerda.
    Em resumo, o ativista pode ser também ele um oportunista. E é por isso que o olho gordo De Mortágua vê o joio no meio de outros trigais mas não o vê, na sua seara.
    Que não fique a ideia que votei Chega. Aprendi que no meio mora a virtude, ainda que esta seja muito questionada. E ainda bem que o é.

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