Vitorino Silva candidatou-se pela primeira vez à Presidência da República em 2016. Cinco anos depois, repete o feito, convicto de que a voz do povo jamais se calará.
Rejeita formalidades e gosta de ser tratado por Tino de Rans, a terra que ajudou a pôr no mapa. Vitorino Francisco da Rocha Silva tem 49 anos, mas foi aos 21 que se habituou a colocar a política na agenda, quando se tornou presidente da Junta de Freguesia de Rans, no concelho de Penafiel.
Esteve oito anos no cargo e em 2016 decidiu dar um salto maior. Foi então que se candidatou, pela primeira vez, à Presidência da República e conseguiu arrecadar 152 mil votos (3,28%). Depois de ter sido militante do PS durante vários anos, criou o seu próprio partido – o RIR (Reagir, Incluir, Reciclar) que, avisa Tino, está vivo e de boa saúde.
O mesmo não diz sobre o estado da democracia. Em entrevista ao ZAP, o candidato a Belém não hesita em declarar que a democracia “está em perigo” e que a sua candidatura surge no sentido de a curar.
“A minha prioridade é vacinar a democracia. Tenho pena… ninguém gosta de levar injeções”, confessa.
Apesar de admitir alguns percalços, não tem dúvidas de que “a democracia é do povo” e, enquanto candidato à Presidência da República, Vitorino Silva fará de tudo para assegurar este garante.
O objetivo figura nas prioridades do calceteiro, que se aventura nesta campanha eleitoral como representante dos portugueses. Porque não há, nem deve haver, os de primeira e os de segunda. O povo, para Vitorino, é todo igual.
Da mesma forma, acredita que o tratamento da comunicação social deveria ser igual para os sete candidatos a Belém. Ao contrário dos restantes, Vitorino Silva foi excluído dos debates presidenciais nos canais generalistas, tendo sido incluído depois da revolta que essa decisão causou.
Em declarações ao ZAP, Tino de Rans diz que se tratou de “má fé”. “Já me puseram de parte há cinco e há dois anos. O povo ficou chateado e obrigou-os a cair na realidade. Era uma pena se eu não pudesse ir aos debates, porque eu, em dois dias, consegui uma ressonância magnética para o Hospital de Penafiel“.
Foi no debate que colocou frente-a-frente o candidato do RIR e a eurodeputada do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, que Vitorino Silva criticou as falhas na saúde do país, lembrando que “vieram sempre carradas e carradas de dinheiro” da União Europeia e que, apesar disso, continuam os problemas.
É o caso do Hospital de Penafiel, que serve 500 mil pessoas, incluindo “pessoas da terra da avó do Marcelo”, e que “não tem uma ressonância magnética”.
Ao ZAP, Tino diz que, “só por isso, já valeu a pena ser candidato”. “Em dois dias consegui uma ressonância magnética, imagine se tivesse mais. Conseguiria muitas outras coisas. Era por isso que eles me queriam calar. Querem calar a voz do povo, mas o povo também merece lugar”, sublinha.
Questionado sobre as suas aspirações políticas futuras, rejeita traçar um rumo. Neste momento, “estou a pensar em ser Presidente da República”. “O amanhã está à minha espera, sou um homem feliz. O objetivo é ter mais um voto, é a minha luta.”
No dia 24 de janeiro, os portugueses vão às urnas eleger o próximo Presidente da República. Tino de Rans acredita que o povo precisa de ter vez e voz e cá estará, pela segunda vez, a garantir que há uma alternativa capaz de representar Portugal.
“Marcelo devia ter tido um pulso mais forte”
Sobre a atuação do atual Presidente da República, Vitorino Silva considera que Marcelo Rebelo de Sousa “sente a necessidade de ser o primeiro em tudo” e que a missão de fiscalizar o Governo saiu falhada.
“Houve muito embalanço de parte a parte. Eu acho que eles [Governo e Marcelo Rebelo de Sousa] estiveram colados demais”, justifica ao ZAP. “O Presidente da República não pode estar no Parlamento. O Presidente tem que estar fora do Parlamento.” Nesta gestão, “Marcelo devia ter tido um pulso mais forte”, frisa.
Na ótica do calceteiro, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa “disputaram a culpa” numa manobra que nada mais serviu do que para “empalear o povo”.
“Foi das coisas mais hipócritas que eu vi. Nunca vi tanta hipocrisia. Todos contentes a empalear o povo, mas o povo não se deixa empalear. Os dois a lutar pela culpa. O país a sofrer, as pessoas a morrerem e eles todos contentes na disputa para conseguirem serem culpados”, afirma.
Questionado sobre uma eventual crise política em 2021, Tino de Rans não tem dúvidas: “Há uma coisa que eu tenho a certeza: não vai haver crise nenhuma“.
“Tenho a certeza de que o Governo não vai cair. Há muito interesse por parte da esquerda de não ir a votos até ao final do mandato. Porque a esquerda, uma parte, anda à deriva e se houver eleições antecipadas ainda mais à deriva fica. A esquerda vai fazer tudo por tudo para que não haja eleições antecipadas”, sustenta.
“Mentir é feio”
Numa altura em que Portugal vive uma profunda crise pandémica, este tem sido um dos temas mais comentados pelos sete candidatos presidenciais. O trabalho de Marcelo Rebelo de Sousa e do Governo tem sido duramente criticado, mas Vitorino Silva não esquece outros momentos em que a figura presidencial esteve envolta em controvérsias.
Um dos temas que gerou mais polémica em Portugal nos últimos meses foi a eventual extinção do SEF. Quanto a isso, Tino tem uma certeza: “não acabem com o SEF, não brinquem com a polícia, porque a polícia é uma coisa muito séria”.
Para o candidato, uma forma de controlar o corpo de segurança da instituição é “ter muito cuidado com as pessoas que entram. Muitos deles estão mal preparados e tem de haver um filtro. Não podem entrar pessoas de mal nas forças de segurança porque as forças de segurança é onde começa a liberdade de todas as pessoas”, defende.
Contudo, considera que essa tarefa está apenas nas mãos do Estado. “O Governo tem de ter gente capaz de escolher pessoas para essas funções tão difíceis que é, no fundo, defender as nossas fronteiras”, disse ao ZAP.
Quanto à postura de Marcelo Rebelo de Sousa perante os acontecimentos, assume que não gostou de ver o Presidente a enviar uma “mensagem de Ano Novo para o povo ucraniano”, enquanto que para os portugueses não o fez. “O povo português também precisa de uma mensagem”, reitera.
No que diz respeito ao caso do procurador europeu, Vitorino Silva é objetivo: “Eu nunca fiz um currículo, e andei na faculdade. Faltam-me meia dúzia de cadeiras para ter um curso superior. Nunca disse que era doutor, ou que era formado. Mentir é feio”, lamenta.
Ainda assim, diz que o que mais o assusta é “as pessoas quererem ser mais do que aquilo que são”.
Questionado sobre a possível demissão da ministra da Justiça, por suposto envolvimento no caso, afirma que “não podemos andar aqui sempre a despedir pessoas”. Por isso, sugere que esse tipo de decisões devem ser tomadas pelo “povo” na altura das eleições legislativas. “É quando houver eleições o povo votar. Porque eu acho que o povo é o garante e o único que pode”, remata.
Tino de Rans tem também uma postura sólida sobre a injeção de capitais na TAP. “A TAP é património nacional. Eu não quero que aconteça à TAP o que aconteceu ao Novo Banco. Que haja a TAP boa e a TAP má. Eu vou defender a TAP com unhas e dentes”, garante, depois de já o ter dito no debate que o colocou frente-a-frente com Tiago Mayan Gonçalves.
Neste sentido, sugere que a única hipótese é “pôr ali gestores que saibam gerir. Gerir a TAP a partir do zero. O zero é a dignidade, é o ponto de partida. A TAP tem de ser gerida a partir do zero”.
Sobre uma possível revisão constitucional, as opiniões divergem entre os candidatos a Belém. Uns apoiam, outros não. Já Tino acredita que esta possibilidade poderia ser um passo importante para Portugal.
O candidato alerta para alguns temas que deveriam ser revistos: “Eu não defendo a redução de deputados na Assembleia da República. Mas defendo que devia de haver como houve nos Açores, um círculo regional de compensação. Da maneira como está o sistema, é para favorecer os grandes. Eles no Parlamento protegem-se. Eles não querem concorrência.
“Quanto ao sistema eleitoral, não se compreende haver dois tipos de emigração. Não há eleições de primeira e de segunda. Europa e resto da Europa. Devia de haver só um círculo de emigração. Os emigrantes são todos iguais. Eu acho que devia haver mais representantes da emigração no Parlamento”, sugere.
“Os partidos não podem ter mordomias”
No dia 8 de setembro, Vitorino Silva anunciou a sua candidatura na Feira do Livro do Porto, no pavilhão Rosa Mota. A quatro meses das eleições, o candidato já dizia que a sua grande preocupação era “proteger os nossos idosos” e, nesse sentido, defendia o adiamento das eleições presidenciais.
“Disse que seria uma vergonha se as eleições fossem em janeiro, mas ninguém me ouviu. Disse que em janeiro faz frio de rachar e, na altura, até falei na música do Rui Veloso: parece que o mundo inteiro se uniu para nos tramar. Parece que os políticos se uniram para tramar os nosso idosos”, conta.
Em entrevista ao ZAP, Vitorino Silva assume que era a favor do adiamento das eleições porque “os partidos não podem ter mordomias” nem “estar à frente das pessoas”.
“É uma vergonha trancar as pessoas em casa. Se o povo for para casa, eu também vou. Porque eu sou o povo. Os partidos têm que se humildar, não podem estar num pedestal”.
E a promessa foi cumprida. O candidato cancelou as ações de campanha previstas para os dias do novo confinamento, afirmando que é importante dar o exemplo aos portugueses. A campanha continua, mas apenas por videoconferência.
De casa para o mundo: Tino de Rans acredita que é possível chegar a todos os portugueses.
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— Tino de Rans (@_tinoderans_) January 16, 2021