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Sem 25 de Abril, Portugal seria agora “potência mundial”

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Entrevista a Duarte Amorim, que inclui a Revolução dos Cravos no contexto da Guerra Fria. PCP ajudou a impedir progresso de Portugal.

No contexto de uma outra conversa sobre a família Pacheco de Amorim, à qual pertence, Duarte Amorim começou a falar com o ZAP sobre o 25 de Abril.

Mas, primeiro, salientou outra data: 16 de Março. O dia da famosa “intentona das Caldas”, quando 200 soldados saíram das Caldas da Rainha e rumaram a Lisboa para derrubar o Estado Novo. Esperavam apoios de outras militares – Lamego, Mafra e Vendas Novas – mas ninguém apareceu em Lisboa.

Ao voltarem às Caldas, foram cercados por militares defensores do Estado Novo; renderam-se horas depois e foram detidos.

Esse movimento abortou porquê? Porque todos os oficiais leais a Spínola avançaram para Lisboa mas “as outras unidades, as que não avançaram, é que fizeram abortar o golpe. O Spínola, ingenuamente, ou alguma força à revelia, sabotou o 16 de Março. Isso tinha de ser manobrado, principalmente, pelo Partido Comunista”, responde Duarte Amorim.

Duarte destaca que, nesse dia, ao largo de Lisboa estava um porta-aviões dos EUA.

E aqui encaixa a Guerra Fria na conversa: “Recordo que fomos o último país a deixar as colónias. Isto numa altura em que o mundo estava dividido entre EUA e URSS. O provocar a nossa revolução foi com o conluio dos dois. Interessava aos dois“.

Sem o 25 de Abril, acredita, Portugal seria hoje uma potência mundial: “50 anos depois, podemos imaginar o que seria Portugal agora. Na altura tínhamos uma moeda forte, uma posição geoestratégica terrível e, se a descolonização fosse feita com calma, nós seríamos uma potência – e isso é que incomodava essas duas potências (EUA e URSS)”.

E volta a falar sobre o PCP: “Claro que a URSS tinha cá o Partido Comunista, que estava na clandestinidade mas era o único partido organizado”.

“António de Spínola estava à frente do 25 de Abril, mas todos os capitães de Abril eram desconhecidos – todos foram indicados para participarem numa revolução que teria de dar certo, para nos reduzir aqui ao rectângulo. Mais nada“, assegurou.

Para Duarte Amorim, também houve interesse económico evidente na revolução: “Queriam levar o país para a bancarrota, que foi o que aconteceu. Mário Soares andou a pedir dinheiro em todo o lado”.

“Salazar conseguiu um empréstimo de Inglaterra, com a garantia de que os impostos alfandegários eram para pagar a dívida. Foi assim que conseguiu dinheiro para aguentar o país”, destacou.

Questionado sobre um país fechado ao resto do mundo, Duarte lembra o caso do país vizinho: “Espanha ficou na miséria, depois da guerra civil. Franco fechou as fronteiras porque tinha que se estimular a produção nacional. Foi uma maneira de recuperar o país”.

Em Portugal, “claro que havia fome, como noutros países, principalmente por causa das Guerras Mundiais”. Mas no geral, destacou que Salazar “recuperou a economia portuguesa – e de que forma”.

Já na educação: “Durante 30 anos acreditei que o Salazar queria um povo analfabeto. Acreditava no que diziam, diziam isso todos os dias, ainda hoje dizem. Só ao fim de 30 anos é que abri os olhos – depois é que começaram a fechar escolas, que havia uma em cada freguesia. E quem é que construiu as escolas? Foi no tempo do Salazar. Afinal, Salazar não queria o povo analfabeto“.

No entanto, Duarte Amorim acha que António de Oliveira Salazar “deixou muito tarde” o poder. Deveria ter saído por vontade própria, muitos anos antes: “O que tinha a fazer já estava feito há muito. As pessoas também se apegam ao poder, ainda hoje é assim”.

Duarte reconhece que não havia liberdade de expressão, de reunião, durante o Estado Novo. Mas depois do 25 de Abril, sobretudo no famoso Verão Quente de 1975, “só se podia reunir se fossem a favor do novo regime”.

“Hoje ninguém vai atrás de nós, desde que não haja extremos. Eu condeno os extremos. A extrema-esquerda e extrema-direita não têm grande nexo”.

“E o que difere esquerda de direita? Na comunicação social, onde você está, não se usa o termo direita”, atirou.

Então, por exemplo, o PSD não é de direita? “Se formos ver a diferença entre PSD e PS, entre social-democracia e socialismo… É o peso do Estado na economia. Estou do lado da direita: mínimo peso possível do Estado, e a economia, os empreendedores, é que fazem movimentar a economia”, respondeu.

Voltando a outro exemplo externo, Duarte Amorim revelou que se identifica “um bocado” com Javier Milei, presidente da Argentina: “Claro que está a ser controverso, é normal: as pessoas não gostam de mudanças. Quem tem privilégios odeia mudanças. Mas ele está a dar provas de que está a recuperar a Argentina”.

Para fechar a conversa: qual é melhor solução política para o Portugal actual? “Dependemos da Europa”, resumiu Duarte Amorim.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

28 Comments

  1. Quando li o título, pensei: sto só pode ser conversa de chegano!…
    Não me enganei.
    Pena que dêem palco a isto e, como se não bastasse, o façam na antevéspera das comemorações do 25 de Abril. Meio século e, contudo ainda permanece quem duvide da pertinência de CUMPRIR ABRIL.

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    • Que vergonha de texto.

      No tempo da ditadura só os escolhidos tinham direito a ficar com os bons negócios.
      É sempre bom deter monopólio, não é? Claro! Sem concorrência, quem não progride?

      Depois do 25 de Abril de 1974, esses tiveram de começar a aprender o que significa partilha de recursos e de oportunidades.

      Fascismo nunca mais!

  2. Portugal sem o 25 de Abril não teria progresso nenhum. Isso é treta dos ricos.
    Não tínhamos as estradas, infraestruturas, a saúde, a escolaridade, etc. que temos hoje.
    Vejam no que os filhos dos ricos e os filhos dos pobres, se tornaram hoje.
    Os filhos dos pobres uns estudaram, outros emigraram, evoluíram e compraram os bens dos filhos dos ricos que esbanjaram tudo. Antes escolhiam os caseiros, agora não há quem queira cultivar as terras entregando 50% aos patrões.
    Ganhem juízo, não se deixem emprenhar pelos ouvidos, vejam pelas vossos olhos e pensem pelas vossas cabeças.

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  3. Inacreditável o espaço do jornal para um nonsense como esse, que destila apenas a própria opinião, sem nenhum dado coerente e ainda factos da própria cabeça, para justificar regimes autoritários e ditatoriais. Que país ditatorial há 50 anos é uma potencial mundial atualmente, ó raio de luz e sapiência?

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    • Caro leitor,
      Faz quinta-feira 50 anos que vivemos num país onde os jornais não são obrigados a dar apenas um dos lados da “verdade”, e em que os cidadãos são livres de expressar as suas opiniões — mesmo quando, como parece ser o seu caso, opinem que os outros não o podem fazer.

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  4. Inacreditável o teor desta publicação,
    Mas foi devido ao 25 abril que esta crónica vê a luz do dia.

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  5. “Portugal sem o 25 de Abril não teria progresso nenhum.”

    Pois! Mas em 1971-1972 o crescimento económico de Portugal foi de 10% ao ano… Graças aos Planos de Fomenbto, a medida de política económica mais bem sucedida que Portugal alguma vez teve, antes ou depois d o 25 de Abril. E foi o Estado Novo que iniciou a Previdência em Portugal, permitindo que muitos pobres tivessem finalmente acesso aos cuidados de saúde. Ou já se esqueceram do que eram as Casas do Povo e as Casas dos Pescadores?… O Estado Novo teve muita coisa má, mas teve igualmente muita coisa boa. Não o esqueçamos.

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  6. Uma super- potência!!!?? Esta é maior anedota sobre política que poderia surgir em Portugal.. o pai mais atrasado da Europa no tempo do fascismo vira milagrosamente 50 anos depois uma Super potência… É só rir e pasmar com tanta estupidez e cegueira politica. Só um fascistoide tipo Amorim diria uma alar idade deste tamanho.

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  7. Que artigo tão triste. Portugal antes do 25 de Abril, onde o analfabetismo grassava, as crianças andavam descalças e trabalhavam desde tenra idade, país onde a mortalidade infantil era motivo de vergonha, era realmente espatacular, para uma pequeníssima elite que agora vem à tona para tentar enganar os incautos e ignorantes…

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  8. O 25 de Abril não foi uma revolução, foi uma traição ao Povo e ao País. Hoje vivemos de aparências, não temos indústrias não temos nada… Apenas dívida e bandidos a governar. Estamos a ficar em primeiro dos últimos da UE, mas á boa maneira Portuguesa andamos todos á pancada por causa do futebol e ninguém se preocupa com o futuro próximo. Temos a comunicação social sempre debaixo da censura para controlar as mentes + distraídas, Presidente da República que devia ter vergonha e demitir-se por andar por aí a meter cunhas, tipos com 75.000,00 euros em gabinetes e não é crime!? Coelhos traidores da pátria que subjugaram um povo ao sofrimento sem sequer fazer nada perante um paralítico nazi… Despertai porque o tempo passa rápido demais

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  9. Liberdade de expressão não é dizermos tudo o que nos apetece sem pensar em consequências. Esse senhor está a banalizar e a enaltecer um período da história de Portugal em que houve uma ditadura em que nada favoreceu o país. Não deixou de morrer gente (cá e enviado para lutar lá fora) e se houve riqueza não foi para todos, só para alguns. Direto de antena todos devemos ter mas existem opiniões e ideias que não deveriam ter o apoio para serem difundidas principalmente quanto são saudosistas, nacionalistas e apelam a voltarmos a um tempo sombrio da história.

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  10. Não me parece uma resposta de todo adequada quando o leitor nem sequer disse nada sobre não poder dar a opinião. Estou de acordo com o leitor que refere factos de contraponto ao que esse senhor diz na entrevista e que o órgão de comunicação social dá tempo a antena a opiniões meramente especulativas que só serva para apelar a um lado nacionalista que tem sido banalizado por todos nós. Há que selecionar os artigos pelo conteúdo que trazem e não unicamente pelo mediatismo que podem trazer.

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  11. Como é possivel falarem em 10 % de crescimento ao ano quando tudo era viciado … quando a população era quase 50 % analfabeta .. E sim seria os Estados Unidos a União soviética e Portugal atenção e Portugal.. será que alguma vez saberemos o que eles fizeram e quem prejudicaram e por aí a fora para terem o que têm? Nunca na história da humanidade houve um multimilionário que não tivesse “prejudicado ” alguns. .. o trabalho escravo para estes senhores é o que daria jeito .. sou pobre mal consigo ter dinheiro até ao final do mês.. e fico muito triste ao ler o que li de alguém multimilionário. Em que acha que é melhor a falta de liberdade ,e a doutrina de Hitler melhor do que a felicidade e liberdade .. Deve achar que Portugal precisa de pessoas como ele..

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  12. Quando li o título pensei ” Ide-vos encher de moscas!”
    Realmente, era uma superpotência, a viver ás custas do povo, a trabalhar sem direitos, com escolas só até aos 14 em grande parte do território. Oh caros senhores, achei piada o comentário sobre a liberdade de expressão que tão bem nos trouxe o 25 de abril, então em que ficamos, melhor antes sem ter liberdade de expressão para publicar artigos deprimentes como estes ou melhor depois com liberdade em que tudo vale para ter cliques? Eu não passei o 25 de abril nasci depois, quase uma década, mas ainda ouvi os meus pais a recordar a fome que passaram e a sonhar com os sapatos que não tinham. Entristece-me este vale tudo de artigos sem conteúdo, mas fico feliz porque os meus pais poderam começar a comer carne, a calçar bons sapatos, a falar livremente os seus pensamentos sem medo de ir presos mas acima de tudo que nos tenham proporcionado a mim e ao meu irmão a infância que a eles lhes foi roubada por um ditador.

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  13. ZAP, obrigado, apesar de este senhor ser contra o 25 de Abril, e ser, exactamente, isso que lhe dá a possibilidade de publicar uma entrevista com este teor, obrigado por apresentarem ideias de todos os quadrantes. Não é como alguns aqui dizem, que não se deve dar luz a este tipo de ideias. Se as afastarmos nunca terão contraditório e pensaremos que o país está livre delas, até ao dia em que votam e aparecem. É importante toda a gente ter voz, só assim se expõem os erros e falácias de determinadas formas de pensar.
    Continuem o bom trabalho de jornalismo isento.

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  14. A ignorância do povinho de esquerda é óbvia…sim tínhamos uma moeda forte, mas para isso tem de se saber economia. Infelizmente os esquerdalhos não sabem o que foi o pós 25 abril ( negro) COPCON, o PREC, a infame reforma agrária, a inflação de mais de 50%…enfim , tanta ignorância…CHEGA estudem

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  15. Falou e disse! Claro que a esquerdalha não gosta de ouvir as verdades, preferiam ter visto o país virar uma cuba ibérica, onde todos são pobrezinhos! A única coisa boa que a abrilada trouxe foi o fim da guerra, mas o resultado foi o que se viu por lá e por cá…

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  16. 25 de Abril SEMPRE!.
    Fascistas NÃO PASSARÃO!
    (está é a tal “outra verdade” Espero que mereça honras de publicação, tendo em conta a vossa isenção e “imparcialidade”.

  17. A estória das escolas só pode vir de um ignorante ou de um idiota. No caso faz o pleno. O anormal vive num mundo paralelo. As escolas fecharam? Sim é verdade, mas porque fecharam? Porque deixou de haver alunos, seguramente para os acéfalos para quem a criatura fala faz sentido.

  18. Os números não enganam
    Analfabetismo em Portugal 1930 – 70% 1973 – 24%
    Taxa de mortalidade Infantil 1930 – 130 por mil, 1973 40 por mil
    Maior crescimento da economia portuguesa aconteceu na década de 60 e o Escudo era de facto uma da moedas pujantes na Europa.

  19. Que entrevista válida! Enquanto os políticos não expuseram a verdade sobre o dia 25 de Abril de 74, Portugal não evolui.
    Agora inventaram a história da plantação dos cravos de 74, em Tavira. O futuro não se constrói com base em mentiras do passado. Habituem-se à liberdade de expressão da direita. Aceitem essa igualdade do direito de expressão de todos. Dói menos.

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