Não são 65 mil: já morreram cerca de 680 mil pessoas em Gaza, admite ONU

Mohammed Saber / EPA

380 mil mortos serão crianças com menos de 5 anos. Estimativa com base em cálculos sobre o nível de destruição no território e o número de locais é apoiada por Francesca Albanese, sancionada pelos EUA e impedida de lá apresentar o seu relatório à ONU.

A relatora da ONU para os territórios palestinianos ocupados afirmou esta segunda-feira que o número de mortos na guerra de Gaza é muito superior a 65 mil e pode rondar os 680 mil.

Em conferência de imprensa, Francesca Albanese declarou que a população da Faixa de Gaza “tem suportado” 710 dias de “horror absoluto” e “65 mil é o número de palestinianos alegadamente mortos, dos quais mais de 75% são mulheres e crianças”.

“Na verdade, devemos começar a pensar em 680 mil, porque este é o número que alguns académicos e investigadores apontam como a verdadeira cifra de mortos em Gaza”, afirmou.

Albanese referiu que meios científicos especializados e até investigadores israelitas apontam para esta estimativa com base em cálculos sobre o nível de destruição no território e o número de pessoas que aparentam ainda viver ali.

“Se este número se confirmar, 380 mil serão crianças com menos de 5 anos”, sublinhou.

A operação israelita no enclave governado pelo Hamas causou mais de 64 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais, e um desastre humanitário sem precedentes na região. Mas esta não é a primeira vez que investigações independentes avisam para que esse número esteja muito abaixo da realidade.

Um estudo da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM) sugeriu no início deste ano que o Ministério da Saúde palestiniano em Gaza, controlado pelo Hamas, subestimou o número de mortes devido à violência em cerca de 41%. Neste caso, os investigadores utilizaram um método estatístico conhecido como “análise de captura-recaptura” para estimar o número de mortes por lesões traumáticas.

Em julho do ano passado, uma polémica estimativa publicada na revista The Lancet apontava para a possibilidade de o número de mortes confirmadas pelo ministério de Gaza estarem cerca de 80% abaixo da realidade.

Face à intensidade dos bombardeamentos israelitas, que destruíram praticamente toda a Faixa de Gaza, “levará anos a verificar o número verdadeiro de vítimas e a recuperar os restos mortais desta catástrofe, como aconteceu na Bósnia”, acrescentou a relatora, uma das primeiras figuras públicas a afirmar que está a ser cometido um genocídio em Gaza e sancionada pelos Estados Unidos devido à sua posição. Entre outras restrições, a italiana não pode viajar a Nova Iorque para apresentar o seu relatório à Assembleia-geral da ONU, salvo se obtiver uma isenção de última hora.

Sobre a nova vaga de ataques israelitas na capital do enclave, a cidade de Gaza, Albanese afirmou que Israel está a utilizar “armas não convencionais que nunca se tinha visto, bem como armamento recentemente montado, que destrói bairros inteiros e o que resta dos edifícios onde a população procura refúgio”.

A relatora disse ainda que este último assalto tem como razão o facto de ser “o último pedaço de terra onde a guerra deveria ser impossível antes de avançar com a limpeza étnica e dirigir-se, provavelmente, à Cisjordânia”.

Relativamente à Cisjordânia, Albanese sustentou que a população enfrenta uma “pressão intensificada”, com mais de mil palestinianos mortos desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, incluindo 212 crianças, além do aumento de assassínios seletivos, da destruição de campos de refugiados e do deslocamento forçado de 40 mil civis.

A ONU declarou a região da cidade de Gaza como em situação de fome, quando Israel tem em marcha um plano militar para ocupar a capital do território e expulsar centenas de milhares de habitantes, além de prever o desarmamento do Hamas e a recuperação dos reféns, antes de entregar o enclave a uma gestão civil não hostil a Telavive.

ZAP // Lusa

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