25 Abril, muitos mil saíram às ruas. Uma “ocupação pela liberdade”

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Comemorações dos 50 anos do 25 de abril na Avenida dos Aliados, no Porto

Milhares, muitos milhares de pessoas saíram esta quinta-feira à rua para comemorar os 50 anos do 25 de Abril. No parlamento, a direita atacou o Presidente por causa da herança colonial e Marcelo fez a defesa da democracia.

As celebrações começaram manhã cedo, com a cerimónia militar na Praça do Comércio, em Lisboa, onde desfilaram, em viaturas da época, militares que fizeram o golpe do MFA que derrubou a ditadura em 1974.

Milhares de pessoas passaram também no Largo do Carmo. À tarde, encheram a avenida da Liberdade, na capital, como há muitos anos não se via. Manifestações e desfiles repetiram-se no Porto, Coimbra, Faro e noutras cidades.

O desfile imenso que encheu a Avenida da Liberdade, em Lisboa, terá sido a segunda maior manifestação de sempre em Portugal, apenas ultrapassada pela multidão que encheu as ruas nas manifestações do 1º de Maio de 1974.

No Porto, o mesmo cenário: um mar de gente encheu as ruas da cidade, e convergiu para a Avenida dos Aliados, cantando “somos muitos, muitos mil — para continuar Abril”.

 

“É um ótimo sinal, é extraordinária esta participação massiva do povo português neste desfile, a celebrar os 50 anos do 25 de Abril com uma força, um entusiasmo de quem não quer andar para trás, de quem vai travar e dar combate a qualquer retrocesso social, económico ou cultural”, defendeu o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.

O líder socialista falava aos jornalistas no desfile popular na Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde se juntou a vários militantes da Juventude Socialista, já sem o fato e gravata que usou na cerimónia solene na Assembleia.

Mais atrás, na reta final do desfile, uma comitiva da Iniciativa Liberal juntou-se também à manifestação popular, com Rui Rocha a lembrar que o seu partido participa neste momento desde que foi fundado, “mesmo quando quiseram tentar que não estivessem”.

O líder dos liberais saudou a participação cidadã no desfile, considerando-a um bom sinal. “O 25 de Abril é uma data determinante da liberdade e, portanto, ver tantos portugueses que se juntam em festa, com diferentes visões políticas, com diferentes visões para o país, que se juntam para celebrar essa data que une os democratas e os que amam a liberdade, isso é fantástico”, defendeu.

À esquerda, a coordenadora do BE Mariana Mortágua, rejeitou estar perante uma manifestação mas sim “uma ocupação pela liberdade“, falando num “país inteiro que saiu à rua”.

“Há uma maioria de gente que sai à rua nos 50 anos e não é só para celebrar o 25 de Abril, para marcar um dia simbólico, é para marcar uma posição: para dizer que em Portugal a democracia não se negoceia, a democracia não está em causa, há uma maioria de pessoas que apoia a democracia, que defende a democracia, que acha que é o melhor sistema para Portugal”, considerou.

Também o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, enalteceu a participação massiva, expressiva e até “emotiva” manifestada pelos cidadãos, classificando-a como “uma grande afirmação de Abril”.

“Há aqui uma afirmação de Abril e, simultaneamente, da exigência que se cumpra Abril na vida das pessoas“, afirmou.

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Marcelo atacado com herança colonial

Depois do desfile militar, as cerimónias oficiais passaram para dentro da Assembleia da República, para os tradicionais discursos políticos, marcados pelas críticas do CDS-PP, Iniciativa Liberal e Chega, que acusou Marcelo de traição aos portugueses por ter reconhecido a responsabilidades de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.

Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto”, afirmou Marcelo, citado pela agência Reuters, na terça-feira, num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal.

A frase foi gatilho para um ataque por parte da direita, a começar por Paulo Núncio, líder parlamentar do CDS, que rejeitou “revisitar heranças coloniais” e “deveres de reparação”: “Não queremos controvérsias históricas nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos fora do quadro lusófono.”

Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal (IL), considerou que, quem declara ser obrigação de Portugal “indemnizar terceiros” pelo passado, está a atentar “contra os interesses do país” e disse a Marcelo: “E não, senhor Presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência.”

O mais violento nas críticas foi André Ventura, do Chega. “O senhor Presidente da República traiu os portugueses quando diz que temos de ser culpados e responsabilizados pela nossa História, que temos de indemnizar outros países pela História que temos connosco”, criticou.

Pelos partidos à esquerda, a questão foi secundarizada, nos discursos e nas declarações após o discurso de Marcelo, embora Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, tenha dito ser importante que Portugal, tal como acontece noutros países, faça um debate sobre o seu passado colonial e rejeitado a narrativa da direita que “culpa a democracia por tudo o que de mal aconteceu”.

O PS, através de Alexandra Leitão, líder parlamentar, sublinhou que o discurso do Presidente foi de “união em torno destes 50 anos”, concordando que “por mais imperfeita que seja a democracia é sempre melhor do que qualquer ditadura”.

Marcelo, disse a socialista, fez um discurso de “um percurso histórico, de forma analítica destes 50 anos, referindo personalidades de vários quadrantes políticos” e “nesse sentido foi um discurso de união”.

E o que o Chefe do Estado defendeu foi isso mesmo, depois de revisitar as origens, os acontecimentos do 25 de Abril. Sem responder à polémica que o envolve, afirmou: “Tenhamos a humildade e a inteligência de preferir sempre a democracia, mesmo imperfeita, à ditadura.”

Para Marcelo, “são democracias, mesmo inacabadas, as sociedades mais fortes e criativas do mundo, como são as humanamente melhores, como são as ambientalmente mais avançadas, como são as mais livres, mais plurais, mais abertas, menos repressivas, menos persecutórias, menos intolerantes, menos avessas à diferença”.

Dos discursos ficam a defesa da democracia, e com balanços diferentes dos últimos 50 anos. Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, prometeu defender a democracia política, social e cultural “dos ataques dos novos e velhos inimigos”, considerando que Abril é uma vitória dos portugueses cujos problemas “não se resolvem com o populismo”.

Pelo PSD, a deputada independente Ana Gabriela Cabilhas alertou que “os políticos estão ao serviço do povo” e devem trabalhar para resolver os seus problemas, criticando os que querem “dividir o país”.

A social-democrata, de 27 anos, antiga presidente da Federação Académica do Porto, defendeu que “os devem trabalhar para resolver os seus problemas, criticando os que querem dividir o país“.

Ana Gabriela Cabilhas foi a única deputada independente a discursar na sessão solene. Além do PSD, apenas o CDS, que deu a voz ao deputado Paulo Nuncio, não se fizeram representar pelos seus líderes.

José Sena Goulão / Lusa

A deputada do PSD Ana Gabriela Cabilhas discursa nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril

Ainda à esquerda, Mariana Mortágua, coordenadora do BE, criticou as “carpideiras do salazarismo“, avisou que “os saudosistas são perigosos porque vivem para a mentira” e pediu um “manifesto pelo futuro” com alertas sobre o capitalismo.

Rui Tavares, do Livre, improvisou, lembrou o 25 de Abril como a “mais bela revolução do século XX”, uma data única, apelando a um país “cheio de desejos de objeto político” contra os inimigos da revolução.

Pelo PCP, o novo secretário-geral, Paulo Raimundo, criticou uma minoria “que tudo fez e faz para destruir conquistas e recuperar o poder perdido”, procurando “falsificar e reescrever a história”, e pediu que se retome “a esperança em Abril”.

A deputada do PAN Inês Corte Real alertou que os direitos humanos estão a ser postos em causa e defendeu que é hora de o país se “erguer contra aqueles que procuram silenciar a voz de Abril”.

Assim foram as comemorações do 50º aniversário da Revolução dos Cravos.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Quando o gang fascizoide conseguir ter um decimo de pessoas na rua a celebrar seja la o que for (até pode ser ja o 25 de novembro ou, se preferirem, que tal o 28 de Maio?) avisem.
    Nunca jamais conseguirao derrotar ou derrubar o mar de gente, nem com policias, militares, o que quiserem, aquele mar gigantesco de gente que encheu Lisboa, do Marquês aos Restauradores. Fascismo NUNCA MAIS!
    A resposta de ontem encheu-me a alma de satisfação e orgulho. Nao esse orgulho pateta dos nacionalistas e da palheta da nação e do tudo pela nação, bla bla bla, mas orgulho e satisfação em sair dali com um sentimento reforçado de que se for preciso ir à luta para defender a democracia contra os fachos, racistas, machistas, disfarçados de democratas, seremos sempre muitos, muitos, muitos mais.

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