Miguel A. Lopes / Lusa

André Ventura afirma que candidatar-se às eleições presidenciais do início do próximo ano não é o ideal e que seria “um mau sinal para o país” que o líder da oposição seja candidato a Presidente. O Chega abordou a possibilidade de apoiar Gouveia e Melo, mas recuou.
O presidente do Chega mostrou-se hoje disponível para voltar a candidatar-se a Presidente da República, apesar de não considerar a solução ideal, e indicou que o objetivo é apoiar um candidato que dispute a segunda volta.
“Se quiserem, e entenderem que devo ir, aqui estarei. Se entenderem que não devo ir, aqui estarei. Se entenderem que outro ou outra e, quem, deve ir, aqui estarei também, como aquele que melhor vos representa”, afirmou André Ventura, no discurso de abertura do Conselho Nacional, que está reunido esta noite, em Lisboa, para discutir as eleições presidenciais.
O líder do Chega afirmou, no entanto, que candidatar-se às eleições presidenciais do início do próximo ano não é “o ideal” e que “seria um mau sinal para o país que o líder da oposição seja candidato a Presidente da República”.
“Porque entendo que o país me deu uma responsabilidade e uma missão, a de liderar a transformação que o país precisa nos vários ramos do poder político mas, sobretudo, conseguir levar Portugal a tornar-se um país decente, livre de corrupção, livre de compadrios, firme na segurança, firme na defesa de fronteiras e firme na luta contra esta cultura ‘woke’ que se instalou hoje em Portugal”, justificou.
Defendeu ainda que o partido deve ter um candidato, mesmo que apoie outra figura, mas recusou “entrar em aventuras loucas” e alguém que venha a ter um resultado que seja “um desastre”.
“Não devemos dar aos portugueses candidaturas vazias, sem significado ou sem impacto” e escolher alguém que seja desconhecido para os eleitores, acrescentou Ventura, que indicou também que o objetivo é o partido disputar a segunda volta das eleições presidenciais.
Num discurso de 30 minutos, aproveitou para criticar alguns dos candidatos que já entraram na corrida a Belém, nomeadamente Henrique Gouveia e Melo, Luís Marques Mendes e António José Seguro. O líder do Chega referiu que abordou com o partido a possibilidade de apoiar Gouveia e Melo, mas acabou por recuar.
“O Chega não pode apoiar um candidato que diz que vai limpar o sistema, mas mete Isaltino Morais e Rui Rio ao lado da sua candidatura”, disse Ventura.
“O Chega não pode apoiar uma candidatura presidencial que diga que vem fazer diferente, mas aplaude o veto do Presidente à Lei de Estrangeiros e diz que o país precisa de mais imigração”, acrescentou o líder do Chega.
“O Chega não pode apoiar um candidato a Presidente da República que diz que é verdade que se tem que apurar responsabilidades e aquela conversa cavaquista dos anos 90, mas quando o Chega propõe uma comissão de inquérito diz que é excessivo e negativo para a democracia“, justificou.
Ventura rejeitou também apoiar os antigos líderes do PSD e do PS, e indicou que deixaria a liderança do Chega se o partido decidisse subscrever a candidatura de Luís Marques Mendes ou de António José Seguro.
As críticas estenderam-se ao atual Presidente da República, que apelidou de “um desastre para a democracia“, com o deputado a dizer que não quer “outro Marcelo Rebelo de Sousa”.
Este Conselho Nacional foi convocado para ouvir a posição dos militantes quanto à que deve ser a estratégia do Chega para as presidenciais. Na terça-feira, em entrevista à CNN Portugal, Ventura indicou que a decisão será anunciada até segunda-feira.
Deputados, dirigentes e conselheiros do Chega descreveram ao Observador o ambiente como “muito dividido“, com muitos argumentos trocados entre quem considera que Ventura deve mesmo ir às presidenciais — muitos por assumirem que já não há nenhuma boa opção no horizonte — e quem olha para a ideia com receios.
Anunciada está já a recandidatura de Ventura a líder do Chega. “Quero-vos deixar hoje aqui claro, tal como vos disse noutros momentos, independentemente de avançar ou não para as eleições presidenciais e independentemente do seu resultado: Eu vou-me recandidatar a presidente do Chega, porque entendo que o meu trabalho não está terminado“, avançou Ventura.
O líder do Chega foi candidato a Presidente da República em 2021, quando Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito para o segundo mandato em Belém. André Ventura teve 11,90% dos votos, e ficou em terceiro lugar, atrás de Ana Gomes.
Antes das eleições legislativas de maio, o presidente do Chega tinha anunciado a intenção de se candidatar a Presidente da República, mas tinha vindo a distanciar-se dessa possibilidade depois do reforço do partido nas últimas legislativas, que se tornou na segunda maior força no parlamento.
A sondagem DN/Aximage divulgada esta sexta-feira coloca, pela primeira vez, o Chega como o partido com mais intenções de voto. Com 26,8% de intenções de voto, o partido de André Ventura supera os 25,9% da AD e os 23,6% do PS. As três forças políticas estão muito próximas mas o líder é o Chega.
A sondagem indica uma subida de 4 pontos percentuais do Chega em relação as resultados das eleições legislativas deste ano. 60% dos inquiridos reconhece ainda Ventura como o líder da oposição, até mesmo entre os eleitores do PS: apenas 35% atribuem essa posição a José Luís Carneiro.
ZAP // Lusa