Rodrigo Antunes / Lusa

Dados deste ano sugerem que menor nível de escolaridade beneficia o Chega. Dar menos atenção às notícias (reais) também ajudará.
Foi uma notícia que terá surpreendido alguns portugueses. Outros nem por isso. A sondagem DN/Aximage coloca o Chega como o partido com mais intenções de voto.
É a primeira sondagem que coloca o Chega na frente para umas eleições – mesmo que não haja eleições (legislativas) marcadas.
Com 26,8% de intenções de voto, o partido de André Ventura supera os 25,9% da AD e os 23,6% do PS. As três forças políticas estão muito próximas mas o líder é o Chega. Pela primeira vez.
Só textos curtos (e títulos)
Esta sondagem foi publicada apenas dois dias depois da divulgação de um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que mostra que 46% dos portugueses – entre 25 e 64 anos – só conseguem perceber textos simples e curtos.
Quase metade dos portugueses tem muita dificuldade em interpretar textos e só consegue compreender textos muito curtos e com o mínimo de informação relevante.
Os adultos com ensino superior têm maior facilidade na compreensão e análise de textos: em média, tiveram mais 36 pontos do que quem se ficou pelo ensino secundário, e mais 70 pontos dos inquiridos sem o 12.º ano concluído.
Não será coincidência
Nas eleições legislativas deste ano, o Chega conseguiu 22% dos votos entre os eleitores com ensino secundário ou inferior; mas, entre os votantes com ensino superior completo, ficou-se pelos 11% dos votos. É metade. E é, de longe, a diferença mais evidente nas três maiores forças políticas neste contexto, verifica-se no portal Mais Liberdade.
É uma das evidências, ao lado de outros inquéritos e sondagens, que sugerem que eleitores com menor nível de escolaridade e menor consumo de notícias apoiam mais o Chega.
Mais do que não consumir notícias, ou ler apenas textos curtos (ou até só os títulos), muitos desses eleitores também confiam mais em fontes de informação polarizadas ou alternativas – e muitas vezes falsas.
Este padrão pode contribuir para o apoio a partidos como o Chega, que utilizam diversas vezes um discurso radical, uma comunicação polarizadora.
O problema acentua-se quando, entre os textos curtos ou os títulos que lêem (na diagonal), também fazem uma leitura selectiva. Traduzindo: André Ventura disse que Marcelo Rebelo de Sousa ia a um festival de hambúrgueres – quando foi a uma festa de cidadãos; disse que o presidente da República já realizou 1.550 viagens – quando fez 165 viagens.
Quem lê textos curtos, ou se fica pelos títulos, e ainda por cima escolhe o quer consumir e partilhar, só se ficou pela primeira indicação: Marcelo foi mesmo aos hambúrgueres e às francesinhas, e já fez “umas 2.000 viagens, ou mais”. A esta altura, a “informação” já chegou a essa escala.
As notícias reais, como tu dizes, estão longe dos media tradicionais, basta olhar para a cobertura do caso Iryna Zarutska, que foi completamente silenciado pelos media de esquerda.
Será que estão ligados à perda substancial de votos do PS? Migraram?