Moedas confirma mudança de cabo no Elevador há seis anos. “Vai ter de ser investigado”

European Committee of the Regions / Flickr

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas

Carlos Moedas diz que a decisão de mudar a composição do cabo do Elevador da Glória “tem que ser investigada, porque foi isso que aconteceu”, mas pede que não se tirem “conclusões precipitadas”. O cabo tem uma vida útil de 600 dias, mas nos cadernos de encargos a Carris exigia a troca ao fim de 1500.

O presidente da Câmara de Lisboa pediu esta sexta-feira que “não se tirem conclusões precipitadas” quanto às causas do acidente do Elevador da Glória, que vitimou mortalmente 16 pessoas, lembrando ter pedido uma investigação externa que se encontra a decorrer.

“Eu só peço que não se retirem conclusões precipitadas, é verdade que há uma mudança de um tipo de cabo há seis anos, portanto, isso vai ter de ser investigado, porque é que isso aconteceu”, disse Carlos Moedas aos jornalistas, após a cerimónia dos 134 anos da Polícia Municipal de Lisboa.

O autarca lembrou ter sido o primeiro a abrir imediatamente uma investigação externa e essa investigação está a decorrer. “Os dados que me apresentam, os dados novos que ficamos a saber, têm a ver com uma mudança de um cabo há seis anos e, portanto, isso mostra a importância da investigação”, frisou.

O jornal Expresso noticia esta sexta-feira que “a escolha de um cabo com ‘núcleo de corda de plástico’ está na origem do acidente” com o Elevador da Glória, adiantando que “o recurso a cabo com núcleo em fibra é apontado como causa por especialistas do IST e que óleo na calha por ter comprometido travões”.

Na Nota Informativa que divulgou na semana passada, o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) tinha entretanto revelado que o cabo que unia as duas cabinas do elevador da Glória tinha “cedido no seu ponto de fixação” à carruagem que descarrilou.

“Do estudo feito aos destroços no local, foi de imediato constatado que o cabo que unia as duas cabinas cedeu no seu ponto de fixação dentro da peça de encaixe superior da cabina n.º 1, a que iniciou a viagem no cimo da Calçada da Glória”, refere a Nota Informativa deste organismo, publicada a 6 de setembro.

Mas, na origem do problema, terá estado a mudança do tipo de cabo utilizado no ascensor, alteração feita há seis anos, quando se substituiu um cabo totalmente em aço por um cabo formado por seis cordões de aço com “alma em fibra”.

O núcleo do cabo passou, então, a ser constituído por uma “corda” que se “deformou” de forma irreversível quando foi apertada e que continuou a deformar-se ao longo dos meses, perdendo volume e levando o cabo a soltar-se, o que, depois, com que o cabo que suporta o ascensor se tenha soltado do trambolho.

Segundo a investigação, “o restante cabo” e todo o sistema, como “o volante de inversão e as polias onde este desenvolve o seu trajeto, encontravam-se lubrificadas e sem anomalias aparentes”, acrescentando que “o cabo no trambolho superior da cabina n.º 2, que estava junto à Praça dos Restauradores, encontrava-se também sem anomalias aparentes”.

Ainda segundo a nota do GPIAAF, o plano de manutenção do elevador da Glória, em Lisboa, “estava em dia” e na manhã do acidente foi feita uma inspeção visual programada, que não detetou qualquer anomalia no cabo ou nos sistemas de travagem das duas carruagens.

Parece não haver dúvidas de que a rotura do cabo que equilibrava o peso das duas cabines do Elevador da Glória foi a causa da tragédia, diz o Público.

Na altura do acidente, faltavam 263 dias para ser necessária a troca do cabo, que, segundo a prática corrente, era substituído a cada 600 dias, que, segundo o GPIAAF, é o seu tempo de vida útil.

No entanto, contratualmente, a Carris só exigia às empresas que se candidatavam à manutenção que o cabo fosse substituído após 1500 dias de trabalho.

“Em condições normais de funcionamento, o cabo é substituído após 1500 dias de trabalho e/ou em cada reparação intermédia e geral”, lê-se nos cadernos de encargos dos concursos de manutenção lançados em Abril deste ano e em maio de 2022, a que o jornal teve acesso.

Se não parece haver dúvidas de que a prática consistia na substituição do cabo após 600 dias de trabalho, não se percebe porque tal não estava previsto no caderno de encargos dos concursos, salienta o jornal.

Esta incongruência entre o pedido nos cadernos de encargos e a prática seguida nas manutenções, parece fragilizar a posição da Carris, que dependeria da boa vontade da empresa que fazia a manutenção dos elevadores para cumprir uma norma de segurança que ela própria terá estabelecido.

ZAP //

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