À direita: a vaga de wokismo, a traição de Marcelo e uma gaivota que voou

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José Sena Goulão / Lusa

A deputada do PSD Ana Gabriela Cabilhas discursa nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril

A nova censura do bem, a traição de Marcelo, o 25 de Novembro, e a gaivota que não quer voar para trás. Os 50 anos do 25 de abril, vistos à direita.

Na sessão solene dos 50 anos do 25 de Abril, o PSD escolheu para discursar a deputada Ana Gabriela Cabilhas, de 27 anos, que foi dirigente estudantil, ao contrário da maioria dos partidos, que optaram pelos seus líderes.

A antiga presidente da Federação Académica do Porto defendeu que “os políticos estão ao serviço do povo” e devem trabalhar para resolver os seus problemas, criticando os que querem “dividir o país“.

Na sua intervenção, com um cravo no vestido branco, defendeu que não se pode aceitar que “a melhor versão” da democracia tenha ficado no passado, “cristalizada na Revolução dos Cravos”.

Nos 50 anos da democracia, considerou, é necessária “uma democracia melhorada e reconciliada com o povo, que não se contenta em sobreviver, mas que procura florescer com a intensidade de abril de 74, de novembro de 75 ou da ida às urnas para a Assembleia Constituinte”.

A voz do povo é a maior força da democracia. Por isso, a Casa da Democracia deve escutar o povo, para devolver ao povo a concretização das suas legítimas expectativas”, disse.

Para a jovem deputada, a solução passa pelo parlamento e por cada um dos deputados: “Recusando que os extremistas radicalizem a sociedade, dividindo-a em dois: os políticos e o povo. Não!”

Os políticos estão ao serviço do povo. Os políticos são também eles o povo.  Porque aqui não há nós e eles, somos todos Portugal”, disse, numa das várias passagens do seu discurso que também mereceu aplausos da bancada do PS, além das do PSD e CDS-PP.

A deputada defendeu que a liberdade tem de estar associada à verdadeira igualdade de oportunidades. “A igualdade de oportunidades vem com a solução aos problemas das pessoas que sabemos existirem, e para os quais este Governo e esta Assembleia estão dedicados em resolver”, disse.

Para Ana Gabriela Cabilhas, tal passa por elevar o debate político, convocar “a tolerância e o diálogo para a atividade parlamentar” ou reforçar a responsabilização dos titulares de cargos públicos. “Não são os partidos que ganham ou perdem, são os portugueses que têm de ganhar”, considerou.

A deputada do PSD defendeu que devem ser rejeitados os extremismos e populismos, “qualquer revisionismo histórico de saudade soviética“, e também “vagas ‘wokistas'”, a que chamou “a nova censura do bem“.

“Substituindo a política de café e do comentário nas redes sociais, por mais participação na comunidade. Rompendo com os interesses instalados. Concretizando as reformas de que o país grita. Dizendo não, não a quem quer dividir o país“, apelou.

A deputada considerou que “o futuro da democracia não é certo“, mas que a forma como for preparado é “a chave para a defender melhor”.

“Com mais progresso, solidariedade, mais respeito pelas pessoas e pela dignidade que a todos deveria estar consagrada, pelo planeta e os seus recursos“, disse.

No final da sua intervenção, deixou uma palavra para os militares e combatentes a quem disse que o país tem “uma dívida de gratidão” e a todos os portugueses, “dos mais novos aos mais velhos”, “do interior e do litoral”.

Ana Gabriela Cabilhas foi aplaudida, no fim, de pé pela bancada do PS e, sentados, pelos deputados do CDS-PP e vários do PS.

Também o 25 de Novembro

O líder parlamentar do CDS-PP rejeitou “revisitar heranças coloniais” e “deveres de reparação”, considerou que Portugal “não mudou de regime para ser um Estado insolvente” e destacou o 25 de Novembro.

Na sessão solene que assinala os 50 anos do 25 de Abril de 1974, Paulo Núncio afirmou que o CDS-PP não sente “necessidade de revisitar heranças coloniais”.

“Não queremos controvérsias históricas nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos fora do quadro lusófono”, indicou.

“A História é a História, e o nosso dever é o futuro, construído e alicerçado entre estados soberanos espelhados pelos quatro continentes sem discriminações ou preconceitos entre os hemisférios norte e sul, desde o ocidente ao oriente”, defendeu.

Na terça-feira, o Presidente da República reconheceu responsabilidades de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial e sugeriu o pagamento de reparações pelos erros do passado.

Paulo Núncio saudou a criação pelo Governo PSD/CDS-PP de uma comissão para a comemoração dos 50 anos do 25 de Novembro. “Em 2024 celebramos os 50 anos do 25 de Abril. Em 2025 vamos finalmente celebrar, e não esquecer, os 50 anos do 25 de Novembro, recordando a Fonte Luminosa, em Lisboa, e o levantamento democrático que venceu os extremismos”, apontou.

Paulo Núncio considerou que esta foi uma data “fundamental para a liberdade e a democracia plenas”, marcante para a História do país, e defendeu que as comemorações devem ser “justas, plurais e de âmbito nacional, feitas com militantes e civis, das instituições às escolas”.

“Celebrar o 25 de Abril não esquecendo o 25 de Novembro é uma questão de memória histórica e de sentido de gratidão. Se com o 25 de Abril caiu o Estado Novo, o 25 de Novembro trouxe a democracia e a liberdade plenas”, salientou.

“Portugal não mudou de regime para ser um Estado insolvente”, nem para “ser um dos países comparativamente mais pobres da Europa. Não mudou de regime para ter a taxa de emigração de jovens mais elevada da Europa e uma das maiores do mundo” nem para “promover o suicídio assistido e a eutanásia”, concluiu.

Combater o wokismo

O presidente da IL, Rui Rocha, considerou que quem declara ser obrigação de Portugal “indemnizar terceiros” pelo passado, está a atentar “contra os interesses do país” e a reduzir-se “à função de porta-voz de sectarismos importados”.

“Quem declara ser nossa obrigação indemnizar terceiros pelo nosso passado atenta contra os interesses do país, reduz-se à função de porta-voz de sectarismos importados e afasta-se do compromisso de representar a esmagadora maioria dos portugueses”, declarou Rui Rocha.

Rui Rocha considerou que Portugal não é “menos livre” porque tem “uma longa história de quase 900 anos”. “E não, senhor Presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência”, defendeu.

No discurso, em que salientou que, há 50 anos, “uma “gaivota levantou voo“, o presidente da IL considerou que há hoje quem queira “obrigar a gaivota a voar para trás”.

“Há quem queira, por exemplo, ajustar contas com as mulheres do nosso país pela liberdade que conquistaram. Há mesmo quem queira, sob disfarces piedosos, voltar a perseguir mulheres, decidir o destino, dizer-lhes o que é e o que não é próprio delas”, criticou.

Citando Natália Correia, poeta e antiga deputada do PPD/PSD, Rui Rocha defendeu que “nunca é o caso de as mulheres voarem demasiado alto, é sempre o caso de esses que as querem sem liberdade não terem asas para as acompanhar”.

A seguir, Rui Rocha considerou que “houve um tempo em que não se podia falar de nada”, “depois veio aquele tempo em que se podia falar de tudo”, e agora vive-se “num momento em que parece que se pode falar de tudo, mas não se pode falar de nada”.

É urgente combater esse ‘wokismo’ desnaturado que em tudo se infiltra, que quer acorrentar as gaivotas da expressão e do pensamento”, afirmou.

Traição de Marcelo

O presidente do Chega acusou hoje o Presidente da República de trair os portugueses ao defender o pagamento de reparações por crimes da era colonial, considerando que Marcelo Rebelo de Sousa devia “amar a História” de Portugal.

“O senhor Presidente da República traiu os portugueses quando diz que temos de ser culpados e responsabilizados pela nossa História, que temos de indemnizar outros países pela História que temos connosco”, criticou André Ventura

Segundo o líder do Chega, Marcelo Rebelo de Sousa “tem de respeitar” os portugueses “antes de tudo”, porque foi “eleito pelos portugueses, não foi pelos guineenses, pelos brasileiros, pelos timorenses”.

Pagar o quê? Pagar a quem? Se nós levámos mundos ao mundo inteiro. Se hoje em todo o mundo se elogia a pátria e o mundo da língua portuguesa”, acrescentou.

André Ventura disse não querer “prender ninguém, nem responsabilizar” e que tem orgulho na História de Portugal. “Eu amo a História deste país e o senhor Presidente também devia amar a História deste país”, acentuou.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Tendo em conta que Marcelo é filho de um antigo Governador Geral de Moçambique, talvez pudesse ele começar por pagar pelos crimes do pai, porque os filhos também herdam as dívidas dos pais…

  2. Marcelo cada vez mais “Lady Gaga”… o raio do velho caquético não se cala e, cada vez mais, só fala disparates.
    Onde tinha eu a cabaça qunando votei nele?!

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