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Após anos de controvérsia, a Rua dos Mouros em Berlim mudou finalmente de nome

cv AFP

Uma rua de Berlim foi oficialmente rebatizada este sábado, em homenagem a um filósofo africano do século XVIII, após anos de controvérsia sobre o seu anterior nome, considerado por muitos ultrapassado e ofensivo.

O conselho local do bairro de Mitte, no centro de Berlim, anunciou em 2020 a intenção de mudar o nome da Mohrenstrasse (Rua dos Mouros) para Rua Anton Wilhelm Amo, em honra do primeiro filósofo negro de que há registo a ensinar numa universidade alemã.

A estação de metro Mohrenstrasse passou também este sábado, data escolhida para coincidir com o Dia Internacional da Memória do Tráfico de Escravos, a ter o novo nome.

Em comparação com a palavra inglesa Moor, o termo alemão Mohren tem uma conotação mais direta com a cor da pele, sendo há muito considerado pejorativo e ofensivo.

Uma das placas toponímicas com o novo nome da antiga Rua dos Mouros foi descerrada por Stefanie Remlinger, presidente da autarquia local, juntamente com a escritora e ativista britânica, Sharon Dodua Otoo, que reside na Alemanha.

“A Rua Anton Wilhelm Amo representa solidariedade, reconhecimento. Uma verdadeira valorização da memória das pessoas africanas na Alemanha do século XVII”, afirmou Otoo, citada pela agência AFP.

“É uma grande vitória da sociedade civil, que luta há mais de 30 anos pela mudança de nome”, disse Tahir Della, da ONG Decolonize Berlin, que organizou celebrações para assinalar a alteração. “Fica claro porque é que o antigo nome é tão problemático para muitas pessoas negras na Alemanha”.

A origem da designação Rua dos Mouros não é clara. Data do início do século XVIII, em pleno auge do tráfico atlântico de escravos, e há quem sugira que possa estar ligada a antigos escravizados que ali se instalaram. Outra teoria aponta para uma delegação diplomática africana que teria visitado a cidade.

Independentemente da sua origem precisa, Della afirmou que o nome era uma “descrição racista para pessoas negras“.

Alguns moradores locais avançaram com ações legais contra a autarquia, numa tentativa de travar a mudança de nome.

Na sexta-feira, uma decisão judicial de última hora ameaçou por breves momentos bloquear o processo, mesmo depois de os trabalhadores já terem começado a substituir as placas da rua. No entanto, um tribunal superior reverteu a decisão horas mais tarde, permitindo que a alteração de nome avançasse.

Anton Wilhelm Amo, nascido por volta de 1700 no que é atualmente o Gana, terá sido vendido como escravo e levado para a Europa. “Amo era apenas uma criança quando foi trazido da África Ocidental” para a Alemanha, recorda Otoo.

Mais tarde, teve a oportunidade de frequentar as prestigiadas universidades de Wittenberg, Halle e Jena, tendo-se tornado uma figura importante no período do Iluminismo alemão.

O movimento Decolonize Berlin afirma que o novo nome homenageia um símbolo de “resistência, autoafirmação e conhecimento na diáspora africana”.

Della acrescentou que espera que a mudança sirva de “impulso para novas discussões sobre o espaço público“, numa referência a debates em curso sobre outros nomes de ruas de Berlim que evocam figuras do passado colonial alemão.

ZAP //

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