O “Rh nulo”, caracterizado pela ausência total de antigénios Rh nos glóbulos vermelhos, é (quase) o tipo sanguíneo mais raro do mundo: apenas 50 pessoas têm este “sangue dourado”. São dadores universais — mas apenas podem receber o seu próprio grupo sanguíneo.
Dizer que o sangue é vital é pouco. Circula pelos órgãos que compõem o sistema cardiovascular — coração, vasos sanguíneos e veias — transportando oxigénio, nutrientes e hormonas por todo o corpo, apoiando o sistema imunitário e eliminando produtos de desperdício.
No entanto, quando se fala em tipos de sangue, o Rh nulo é um dos mais raros e difíceis de encontrar, razão pela qual é conhecido como “sangue dourado”.
Mais raro, apenas o recentemente descoberto “Gwada negativo”, identificado numa mulher que se encontrava a realizar análises de rotina antes de uma operação — e que é “a única pessoa no mundo que é compatível consigo própria”.
Para perceber porque o “sangue dourado” é tão raro, convém primeiro entender como os grupos sanguíneos são determinados.
Os tipos de sangue são classificados pela presença ou ausência de antigénios, que são proteínas fixadas às células vermelhas do sangue, e que o sistema imunitário ataca caso lhes sejam estranhas.
É isso que explica os sinais positivo e negativo nos oito grupos sanguíneos mais conhecidos: A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, O+ e O-, explica a Smithsonian Magazine.
Para além do sistema ABO, os laboratórios usam também o sistema Rh para classificar o sangue. O antigénio RhD é o mais comum entre mais de 50 antigénios Rh testados, razão pela qual muitos grupos sanguíneos são igualmente classificados como RhD positivo ou negativo.
O que torna o Rh nulo tão especial é que as células vermelhas não apresentam absolutamente nenhum antigénio.
Durante muito tempo os médicos acreditaram que, devido à ausência de antigénios, ter sangue Rh nulo equivalia a uma sentença de morte precoce — até 1961, quando se descobriu que uma mulher indígena australiana tinha esse sangue.
Desde então, foram identificadas menos de 50 pessoas com este tipo raro. Infelizmente, ele apresenta vantagens e desvantagens, sobretudo no contexto das transfusões.
O corpo humano pode perder até cerca de 40% do seu volume sanguíneo antes de a morte ou complicações graves se tornarem inevitáveis.
Numa situação de perda de sangue, é crucial administrar o tipo de sangue correto numa eventual transfusão. Se um doente receber sangue incompatível com o seu, o sistema imunitário poderá atacar as células vermelhas, causando uma reação potencialmente fatal.
As pessoas com Rh nulo, felizmente, são dadores universais para indivíduos com outros tipos raros de Rh, uma vez que as suas células não contêm antigénios. É semelhante ao que acontece com o sangue O-, que pode ser usado em doentes com qualquer grupo comum.
No entanto, ao contrário das pessoas que têm sangue O-, que além de dadores universais também são recetores universais, quem tem Rh nulo só pode receber sangue do mesmo tipo.
“Há apenas nove dadores ativos em toda a comunidade de dadores de sangue raro. Nove”, salienta Sandra Nance, diretora do American Rare Donor Program.
O que deve então fazer uma pessoa que tem “sangue dourado”? Essencialmente, algo parecido com “guardá-lo no banco”.
“Para as pessoas que vivem com sangue Rh nulo, as melhores opções são doar e congelar o próprio sangue para o usar em cirurgias programadas, e gerir com cuidado situações como anemia, com medidas como ferro ou ácido fólico, de forma a evitar transfusões sempre que possível”, explica o médico especialista em medicina transfusional Zaher Otrock.