Lea-Kim / Wikimedia Commons
Ler um livro ou ouvir música pode ser um gesto problemático na fronteira entre o Canadá e os EUA. Especialmente quando é possível fazê-lo com um pé em cada país.
Entre Rock Island, no Quebec (Canadá), e Derby Line, Vermont (EUA), existe um polémico edifício. O Haskell Free Library and Opera House, com mais de um século de existência, é constituído por uma biblioteca pública e uma sala de espetáculos.
Podia ser uma forma de unir despreocupadamente os interessados por cultura dos dois países, mas ao invés, nos últimos meses, tem-se tornado um problema para Donald Trump e a sua política fronteiriça.
A sala de ópera do Haskell tem mesmo o palco nos EUA e a plateia no Canadá, mas a entrada principal do edifício situa-se do lado dos Estado Unidos.
Com vários serões de cinema, música, teatro e literatura, o espaço é frequentado por canadianos e norte-americanos, ainda que desde o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 os EUA tenha começado a exigir a identificação dos utentes.
“Há lugares ali onde, sentado, fica com cada nádega num país diferente“, comenta o voluntário da biblioteca Peter Lépine com o The Guardian.
Agora, a partir do próximo mês, segundo uma nova regra imposta pelo presidente norte-americano, os canadianos terão de atravessar uma passagem fronteiriça oficial antes de entrarem na biblioteca.
Donald Trump, que tem apelidado o Canadá de “51.º estado” dos EUA, tem-se mostrado impiedoso nas relações diplomáticas com o país vizinho, tendo inclusivamente apelidado o então presidente canadiano, Justin Trudeau, de “governador”.
Mélanie Aubé, a bibliotecária principal do espaço, lamenta que o espaço se tenha tornado um problema político: “As pessoas querem transformar este lugar em algo político. Mas tudo o que queremos é prestar um serviço às duas comunidades. Só queremos manter-nos abertos”.
