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Especial ZAP | Catarina Rocha Ferreira: “O ambiente tem sido um parente pobre desta governação”

(fb) Catarina Rocha Ferreira

Catarina Rocha Ferreira, número três do PSD no círculo eleitoral do Porto, prometeu criar condições favoráveis às empresas, criticou a atuação do Governo no ambiente e na saúde e prevê que os sociais democratas possam surpreender nestas legislativas, ao contrário do que as sondagens indicam.

O dia decisivo das eleições legislativas aproxima-se a passos rápidos. A azáfama dos partidos em lutar pelos melhores resultados possíveis há muito que começou, mas é agora que se concentram os esforços finais no derradeiro sprint até à meta.

No entanto, esta é uma corrida quase invisível. Sabemos o que os corredores valem, sabemos o seu potencial, temos as sondagens que nos vão dando indicativos da sua posição, mas, na realidade, ninguém sabe como vai terminar. 

Metáforas à parte, o PSD procura recuperar o seu estatuto nestas legislativas. Depois de uma derrota inequívoca nas Europeias, Rui Rio espera reverter o panorama a nível nacional.  

As sondagens indicam que a situação não é favorável aos socais democratas. A mais recente aponta para uma liderança segura do PS. Contudo, os socialistas têm vindo a perder o avanço que levavam inicialmente. Pouco a pouco, as previsões sugerem uma descida do PS e, em contrapartida, o PSD sobe nas sondagens.  

Rui Rio já admitiu várias vezes que não atenta a elas, mas a verdade é que estas poderão começar a ser-lhe cada vez mais favoráveis. O cenário de uma maioria absoluta do PS é afastado pelo encurtamento nas sondagens.

Quem também desvaloriza as sondagens é Catarina Rocha Ferreira, a número três pelo PSD no Porto. Com 39 anos, Catarina presidiu até agora à Comissão Nacional de Auditoria Financeira do PSD. Entre 2012 e 2015, integrou o Conselho de Jurisdição Nacional social democrata e foi deputada municipal no Porto entre 2009 e 2013. 

Criar condições favoráveis às empresas

Como o seu curriculum sugere, tem um conhecimento profundo das finanças e da economia do país, sendo a pessoa ideal para discutir o seu atual estado. Neste sentido, Catarina Rocha Ferreira diz ser “incompreensível” que, com as condições que o Governo tinha, não tenha conseguido atrair investimento suficiente. 

“É incompreensível como é que o Governo, que teve todas as condições políticas, económicas e financeiras para atrair mais investimento para cá, na prática fez com que tivéssemos pouco investimento estrangeiro e poucas oportunidades de emprego“, disse. 

Ainda assim, reconhece um aspeto positivo ao atual Governo de António Costa: a redução da taxa de desemprego. Contudo, faz uma ressalva, e explica que o emprego que existe “não é de grande qualidade”. 

“Queremos atrair melhores empresas, melhores empregos e melhores salários. Para isso é preciso reduzir a carga fiscal. Temos uma carga fiscal que é muito avultada tanto para as pessoas, como para as empresas”, acusou.  

Para Catarina Rocha Ferreira, foi logo aqui que o Governo falhou. A deputada pelo círculo do Porto explica que há várias maneiras de atrair empresas para Portugal, mas que Costa e companhia pouco fizeram nesse sentido. “É uma das falhas deste Governo: não promoveu o desenvolvimento, não fez nada em reformas do Estado”, atirou. 

Mais especificamente, o PSD quer criar condições para tornar as empresas portuguesas mais competitivas e para que elas próprias possam pagar melhores salários. “Na área do turismo, uma das nossas propostas é a promoção do interior, como a região do Vale do Sousa, que é património da UNESCO, mas que está subaproveitado”, explicou, referindo ainda a criação de um programa de valorização dos produtos agrícolas e alimentares em função a pegada ecológica. 

Ambiente. “O parente pobre desta governação”

E é precisamente no ambiente que “o PSD tem uma obrigação histórica a honrar”. Catarina Rocha Ferreira recorda que foi com os sociais democratas que surgiu a primeira Lei de Bases do Ambiente e que se tomaram várias decisões importantes e históricas no país. No entanto, é no presente e no futuro que o PSD quer fazer a diferença, razão pela qual destaca a declaração de emergência climática presente no programa eleitoral do partido. 

Catarina quer ainda fazer do Estado um exemplo na área ambiental, nomeadamente com um programa de compras públicas ecológicas. “Se vamos exigir isto das pessoas, temos de começar pelo próprio Estado“, reconheceu. 

Quanto à maneira como o ambiente é gerido pelo atual Governo, a social democrata foi perentória: “O ambiente tem sido um parente pobre desta governação. Infelizmente eles têm tratado dos temas ambientais com pouca seriedade”.   

Ainda assim, há um tema que preocupa ainda mais a advogada: o Serviço Nacional de Saúde. “A coisa que o Governo fez de pior nestes últimos quatro anos é mesmo a saúde. Acho que é uma imagem má que deixa ao país“. Aumentos de filas de espera para tudo, faltas de médicos e falta de investimento público são razões enumeradas pela própria para explicar a grave situação. 

A solução passa por ter um melhor modelo de gestão para os hospitais públicos do SNS. Entre as várias medidas do PSD, destacou o alargamento da rede de cuidados paliativos e o investimento na prevenção da doença. 

Em relação à promessa de Rui Rio — e não só — em baixar os impostos, Catarina Rocha Ferreira acredita que é possível aliar esta descida da carga fiscal a um aumento da receita pública. “Dentro de um quadro macroeconómico, é perfeitamente possível que, baixando os impostos e a receita fiscal descendo, a economia suba e o crescimento económico suba também, porque vão haver mais transações”, explicou. 

O ano de 2019 foi um dos anos em que assistiu a mais pré-avisos de greve — desde 2013 que não havia tantos. Contudo, o PS continua a liderar nas sondagens, ainda que os sociais-democratas estejam a reduzir a desvantagem.

“Ando na rua há bastantes dias e o que as pessoas nos dizem é que não estão nada contentes com este Governo. Não gostam do António Costa, não gostam do que ele está a fazer”, atirou Catarina, explicando que não percebe como é que apesar disto, as sondagens ainda colocam o PS na frente. “Acho que não está a bater a cara com a careta”, acrescentou.

A deputada social democrata admite que pode haver “alguma falibilidade” nas sondagens. Para corroborar esta sua opinião, relembra que Rui Rio raramente ganha nas sondagens, mas a verdade é que o próprio “nunca perdeu nenhuma eleição” — à parte das Europeias.

Uma possível coligação com CDS

Como Rio já tinha mencionado no passado, no caso de ser necessário ter outro partido para obter uma maioria parlamentar, o CDS será o parceiro natural. Apesar de garantir que à direita nunca haverá uma geringonça, o líder do PSD não afasta um entendimento com o partido de Assunção Cristas.

Mas como Catarina Rocha Ferreira realça, “tudo depende muito dos resultados eleitorais e do cenário eleitoral”. Otimista, reitera que pode haver uma surpresa e o PSD sair por cima nestas legislativas.

A abstenção — ou aliás, a falta dela — pode desempenhar um papel importante nesta ambição da deputada pelo Porto. “Temos de inverter esta tendência. Se existem pessoas descontentes, que se iriam abster, têm aqui uma alternativa no PSD“, garantiu.

Quem tem uma visão diferente da sua é André Ventura, do Chega, que defendeu que os dois grandes partidos não têm interesse no voto obrigatório e que lhes interesse manter os níveis de abstenção altos.

“Isso é um disparate”, atirou Catarina, garantindo que numa sociedade democrática, ninguém tem interesse em manter níveis de abstenção altos.

“Julgo que se a abstenção descer, um dos partidos que tem mais votos é o PSD, porque quem se abstém está descontente com a política. Se existe uma alternativa à política que está a ser feita neste momento é Rui Rio. Se os abstencionistas forem votar, grande maioria vai votar PSD — não é Chega“, rematou.

Se o PSD conseguir formar Governo, Catarina Rocha Ferreira prevê grandes mudanças na governação. “O PSD de certeza que vai acabar com vários interesses instalados e contribuir para que todas as famílias portuguesas tenham uma vida melhor. Não só algumas, como agora acontece”.

DC, ZAP //

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