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Canalizador cobra 12 euros… por minuto. Justifica-se?

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Entre o material, a lei da oferta e procura, ou a postura do cliente. DECO deixa algumas dicas – e tenha calma…

Está em casa nas suas vidas – neste caso nas suas necessidades – e, ao descarregar o autoclismo, repara que a sanita ficou entupida.

Não é nada urgente, porque tem outra casa-de-banho; mas procura um canalizador, que até consegue ir lá a casa no próprio dia.

O profissional abre o sifão que está no chão da casa-de-banho, coloca um tubo pela sanita, liga uma máquina durante uns instantes.

E já está. Em 10 minutos (ou menos), problema resolvido. Pelo menos por agora.

– Quanto é?
– 120 euros.

Este relato não é ficção. Acontece em inúmeras casas em Portugal; provavelmente já aconteceu com o leitor deste artigo. Um serviço que demorou 10 minutos custou 120 euros.

“Pergunte aos meus colegas se levam mais barato!”, justifica o canalizador, ainda em casa da cliente.

O ZAP perguntou.

Entre os quatro profissionais contactados, um não respondeu e dois disseram que só no local é que estimavam o orçamento.

O único que deu orçamento ao telefone avisou que o valor mínimo seria 60/70 euros, mas admitiu que podia chegar aos 110 euros. Portanto sim, quase igual aos 120 euros.

120 euros em 10 minutos são 12 euros por minuto. 720 euros por hora, 5.760 euros por dia. Um salário de quase 127 mil euros por mês.

Claro que estes valores estão dentro de vários “se”: se as reparações fossem sempre assim, se houvesse serviço todos os dias e a toda a hora, se não houvesse deslocações pelo meio, se o dinheiro fosse todo para este profissional… E por aí fora. O vencimento real não é esse.

Perguntámos depois ao tal canalizador dos 120 euros o que justifica este preço. “É o valor do desentupimento”, começou por responder, ao telefone com o ZAP.

O profissional explicou que aquela máquina que usou custa 5.400 euros; cada mola da máquina custa 120 euros: “Se uma mola se solta, não vou dizer ao cliente que são mais 120 euros”.

O mesmo canalizador contou-nos que tem um salário médio de 800 euros por mês. É a sua realidade, não sabe dos vencimentos dos outros.

Aceitar ou não

Diogo Martins, jurista da DECO PROteste, começa por lembrar o ponto mais importante: estes serviços são privados, por isso cada profissional apresenta o valor que quiser. O cliente “ou aceita, ou não aceita”.

O jurista lembra que há cada vez menos profissionais neste ramo em Portugal. Menor oferta, procura semelhante – uma das consequências é o aumento dos preços.

Muitas vezes os serviços são feitos sem factura, sem orçamento, sem comprovativo de pagamento. E isso origina problemas mais tarde, de desresponsabilização, quando o trabalho não é bem feito, alertou Diogo em conversa com o ZAP.

Mas há uma consequência positiva neste contexto: as empresas. Foram criadas empresas para este sector do mercado, que aparecem na internet, onde a pessoa interessada pode espreitar os comentários, as avaliações. Há acesso mais fácil, mais informação, maior fiscalização. Deixámos o esquema quase exclusivo do “passa a palavra” – quando muitas vezes o “profissional” que ia lá a casa nem era profissional, só se “desenrascava” naquela obra de menor dimensão.

Diogo Martins contou que as queixas que têm chegado em relação ao preço estão mais relacionadas com os serviços extra incluídos em pacotes de empresas de energia. “As pessoas reparam que estão a pagar um extra por mês, mas depois reparam que ficaria mais barato se contactassem directamente (e não através da empresa de energia) a empresa que faz a reparação”.

E o preço, obviamente, ainda aumenta mais em situações urgentes. E muitos destes casos são urgentes.

O jurista da DECO deixa algumas dicas para casos não urgentes: comparar valores entre três ou mais profissionais, pedir um orçamento por escrito – “logo aí se vê a postura da empresa” – é “sempre importante” ficar com uma factura.

E ainda um conselho essencial: ter calma. Se alguma reparação não ficou bem feita, o consumidor deve primeiro tirar fotografias ao serviço. “Não entrar a pé juntos, que é o que acontece muitas vezes. As coisas escalam, não há necessidade. Toda a gente erra”. Deve expor a situação, sempre com provas (e tranquilamente), e perguntar ao profissional o que se pode fazer.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

14 Comments

  1. O jurista da DECO, de certeza absoluta, nunca teve um problema deste tipo com um canalizador que foi reparar um entupimento (sanita, lava-louças, banheira, lavatório, etc.) e que depois a “reparação” ter saído defeituosa…

  2. Querem todos ir para doutores…
    Conheço canalizadores, técnicos AVAC e outros profissionais do género que ganham mais de 5 mil euros líquidos por mês.

  3. Se estão a reclamar do preço e gostam de fazer este tipo de trabalho estao todos á vontade para fazer o mesmo!
    Deve ser bom mexer e cheira a merda dos outros a preço de salário minimo! Ahahahah

  4. O serviço demorou 10 mins, mas o canalizador foi ao domicílio e gastou tempo que não está a ser contabilizado para esses cálculos. Ainda é preciso retirar a isso os materiais. E dos 110 euros… 20 euros vão logo para o estado em IVA, fora o resto: 15% do minimo de seg. social se for trab. independente (13 euros) + 25% de IRS (22.5 euros). No final sobraram 54.5, em que o canalizador tem de gastar nos transportes, materiais, custos de aquisição do cliente, etc. No final do dia, acabou por receber menos 20 euros de lucro. O problema não é o canalizador ser caro, é o estado ser caro.

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  5. Foi lá com a máquina e resolveu em dez minutos
    Mas o ir lá é uma deslocação de alguns quilómetros que tem custos e demora tempo
    E o custo da máquina para fazer o serviço rápido tem que ser contabilizado
    Quem acha caro que meta as mãozinhas na “massa”

  6. Estas contas de merceeiro, vai lá vai. Roubo é a EDP cobrar 20x o valor de custo de eletricidade a um pais inteiro e ninguém bufa….

    Deslocação, viatura de trabalho, gestão de agendamentos, ferramentas, consumíveis, formação, garantia das reparações, IRS, segurança social, taxa de urgência, etc.

    De facto quem não gostar para a próxima é chamar outro, pode ser que seja mais incompetente e leve 2h a fazer um serviço pior, estrague alguma coisa, cobre o dobro mas pareça menos.

    Se fosse tão facil e o salário tão alto era tudo canalizador.

  7. Quem quiser um canalizador da zona do Porto, competente e barato (a maioria dos serviços menos de 50€), terei todo o gosto em partilhar o contacto.

  8. É curioso… Já vi consultas médicas de 10 minutos por 120 euros e ninguém se queixa…. O canalizador também teve a sua formação, paga os seus impostos, compra os seus equipamentos…

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  9. Profissionais nestas áreas são cada vez menos. Ninguém quer fazer estes trabalhos. Por isso, aqueles que restam, podem cobrar o que quiserem.

    É a lei da oferta e da procura a funcionar!

    E, quando estamos numa situação complicada, é rezar para que algum esteja disponível para nos atender.

  10. Vamos ver ,onde fica a casa do cliente, quem paga a deslocação e depois tem outro trabalho mesmo ao lado, se calhar
    tem que fazer os 10 ou 20 km. É fácil falar, mas ninguém critica o Estado que não joga e vai logo receber milhões no minuto seguinte.
    As pessoas deem-se por felizes de ainda haver, alguém que arranje porque falta pouco para acabar, porque a malta agora é só computadores

  11. Se houver uma empresa pública (Estatal) o serviço será mais barato, talves, por 20,00 €. O restante, pagamos todos. Perfeito.

  12. EH! EH! EH! EH! EH! EH!

    Fica tudo maluco quando um ‘grunho’ que nem é licenciado nem nada, tem a lata de cobrar 120€ por um serviço.

    Isto são contas fáceis de fazer e eu, como prestador de serviços (embora num ramo que não canalizador), posso ajudar. Cá vai:
    – Deslocação até 10km: 30€ (inclui os primeiros 30 minutos de serviço)
    – Taxa de urgência (fora de horário de expediente ou fins de semana): 50€
    – Valor hora: 35€

    No lugar do Canalizador, num serviço de 12 minutos, sendo fora de horário de expediente ou fins de semana, eu cobraria – 80€. Não são 120€, ok, mas provavelmente seria também difícil de engolir por parte do cliente. Mas só é difícil de engolir, DEPOIS, do problema resolvido porque afinal, até seria uma coisa simples. O problema meus amigos, é que, aprender a reparar coisas ‘simples’, dá muito trabalho!

    Se fosse médico ninguém dizia nada. Ou um advogado. Agora…. um canalizador??? A lata! O escândalo!!

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