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Manuela Rey chegou ao Porto. Que estatuto tem? Nenhum

(dr) TNSJ

Peça do Teatro do Noroeste é uma celebração da (curta) vida da actriz que morreu aos 23 anos. Mas só pode ser vista durante dois dias no Teatro São João.

Manuela Rey nasceu em 1842 e morreu em 1866. Aos 23 anos. Tuberculose.

É um nome do teatro que pouco dirá à grande maioria dos portugueses mas a jovem galega, de Mondonhedo, emigrou muito jovem para Portugal – e, por cá , foi uma das actrizes mais célebres na sua época.

Estreou-se aos 15 anos no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, onde foi a primeira actriz principal.

O Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana tem uma produção que é uma celebração da curta vida da actriz e escritora.

A peça chama-se Manuela Rey Is In Da House e chegou ao Porto. Tem apenas duas sessões previstas no Teatro Nacional São João: hoje (quinta-feira) às 19h e amanhã às 21h.

Mariana Carballal, Neto Portela, Nuno J. Loureiro, Rafaela Sá, Raquel Crespo, Teresa Vieira e Xosé Lois Romero compõem o elenco.

O encenador e dramaturgo Fran Núñez, também director do Centro Dramático Galego, falou com o ZAP sobre esta espécie de regresso triunfal de Manuela Rey aos palcos.

ZAP – Pareceu-me ter ouvido no início (do ensaio de imprensa) que Manuela Rey era uma “mulher-lírio”. Porquê?
Fran Núñez (FN) – Quando fizeram a biografia dela, o último poema que escreveram para ela e que recitou em palco foi o Lírio. Chamavam-lhe “mulher-lírio” como actriz. Pela sua delicadeza, porque o tom de pele era branco, pela sua fragilidade… Mas depois descobriu-se que a sua fragilidade era porque ela estava doente, ela era tísica.

ZAP – Que estatuto tem Manuela Rey na Galiza?
FN – Acho que é o mesmo que tem em Portugal: nenhum. Ela sumiu da história.

ZAP – Sumiu porquê?
FN – O que recordamos, ou não, também nos define como povo e como país. Mas não sei porque ela desapareceu. Mas é estranho, ainda por cima porque escreveram uma biografia sobre ela um ano depois da sua morte. Fazer uma biografia de uma artista era mesmo estranho naquela altura.

ZAP – Então qual foi o teu fascínio por Manuela Rey?
FN – Há 10 ou 15 anos encontrei um artigo de um conterrâneo seu, a dizer que havia uma tal Manuela Rey, actriz, que percorreu Galiza e Portugal, que foi a primeira actriz no Teatro Nacional D. Maria II…e que desapareceu da história. O meu fascínio foi resgatar essa memória e, de repente, descobrir quantas coisas ela fez durante a sua curta vida, e ver como ela é uma metáfora da nossa união entre Galiza e Portugal. Está aqui mas esquecemos.

ZAP – Há muita música neste espectáculo. Com que objectivo?
FN – É para celebrar. Isto podia ser um funeral, triste; e a ideia é celebrar a vida da Manuela. E temos os textos que aparecem no espectáculo que foram escritos por ela, ou apareceram em jornais da época sobre ela, ou na biografia. É quase uma colagem de textos do século XIX.

ZAP – Se não tivesse morrido aos 23 anos, a que patamar é que teria chegado?
FN – Pois… Na biografia lê-se que, se ela não tivesse vindo para Portugal, e tivesse aparecido por exemplo em França, ela teria reinado em toda a Europa. Nós próprios, no espectáculo, levantamos essa pergunta para o público. Talvez tivesse sido uma escritora importante; na peça temos textos escritos por ela de qualidade, com um monólogo brutal. Talvez tivesse sido encenadora. Ou uma grande dramaturga daquela época. É uma grande questão. Nunca vamos saber. Hoje seria mesmo muito mais importante do que chegou a ser.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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