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Nota artística: Valsa bem ensaiada contra rumba dos inadaptados

Deixa cá preparar o musical da segunda jornada… Hoje vou ao Boavista-Porto. Cinco golos para os forasteiros, não foi? Não. Isso foi na semana passada, o Famalicão-Benfica. Começo cedo a misturar tudo. Deixa cá ver, Raul… Deixa cá ver, Raul… Ui, os visitantes marcaram mesmo cinco golos. Outra vez? Mais um quinteto?

Repetição trava originalidade para esta emissão. Não vamos escutar um mambo, outra vez. Fiquemos com a rumba.

Dérbi. Uma designação que vem de corrida de cavalos, ou do râguebi. No futebol, e a Norte de Portugal, encontramos o dérbi portuense entre Boavista Futebol Clube e Futebol Clube do Porto. Por cá, apenas cinco clubes foram campeões nacionais de futebol na primeira divisão. Lá estavam dois deles, num relvado do Bessa não tão impecável como noutros encontros – a água que caía constantemente não ajudava. O outono chegou, confirma-se.

Há que começar a decorar os nomes dos futebolistas do Boavista. Dos 11 que iniciaram este jogo, só dois já estavam no plantel na época passada. Nove reforços. Por exemplo, o guarda-redes e todos os defesas andavam por outros lados, há poucos meses (e nota-se). Do lado contrário, zero reforços na equipa inicial. Sérgio Conceição continua a acreditar que a operação que vai triunfar é colocar em campo os campeões nacionais.

Começa o dérbi portuense, ou o dérbi tripeiro, que teve pouca tripa para contar ao longo da primeira parte. Lado visitante mais ofensivo mas pouco perigoso, com exceção para o ferro que estragou os planos de Uribe; lado visitado a conter-se mais e com muito poucas aparições no ataque. Tática a comandar a partida, técnica pouco visível, entrega bem visível, espetáculo não muito atraente.

Acho que a segunda parte teve equipas diferentes da primeira. O jogo foi outro. Logo no segundo minuto, golo portista. Adil Rami é o único campeão do mundo a jogar no campeonato português, mas precisa de melhorar para justificar esse estatuto. Nesta jogada, o campeão do mundo em 2018, Rami, foi batido pelo campeão do mundo em 2020, Corona.

E o muro do Bessa caiu. Pouco depois foi um vice-campeão do mundo a marcar: Sérgio Oliveira. O bis de Marega fez rapidamente o 0-4. Eficácia. Quatro golos em quatro remates à baliza – nunca percebi porque os remates ao poste ou à barra não são contabilizados oficialmente como remates à baliza. Os ferros estão onde? Nas bandeiras de canto?

Em menos de meia hora da segunda parte, quatro golos. Um duelo que se tornou, para o FC Porto, aquilo que o primeiro tempo não fez prever: fácil.

“Pronto, estamos a ganhar por 4-0. Acabem o jogo”. Diria outro campeão do mundo, Casillas, se ainda fosse o guarda-redes dragão. Lembram-se da final do Europeu 2012, Espanha-Itália, quando a Espanha vencia precisamente por 4-0 e já nos descontos o espanhol começou, aos gritos, a pedir ao árbitro adicional (o português Jorge Sousa, por acaso) para o jogo ser encerrado? “Respeito pelo adversário, já está 4-0!”.

Não… O FC Porto de Sérgio Conceição pode respeitar o adversário mas não abranda. Nos últimos momentos do duelo, lá veio o quinto golo, por Luis Díaz. Já agora, venha o sexto e iguala-se a maior goleada de sempre do FC Porto no Bessa. Mas não, o jogo acabou logo a seguir.

Fica o registo de oito golos marcados pelo FC Porto em dois jogos. Fica o registo de oito golos sofridos pelo Boavista em dois jogos. O número oito repete-se mas o conteúdo é bem distinto. Há mesmo muito para trabalhar lá atrás, naquelas cinco caras novas, ó Vasco. Nem que seja preciso treinarem oito dias por semana.

E assim ficou para os livros mais um dérbi que confirmou a grande diferença entre os vizinhos: uma valsa não deslumbrante, mas bem ensaiada, contra uma rumba dos inadaptados.

NMT, ZAP //

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