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Suécia, o “país” onde o pior é o actor principal

TUNA/TNSJ

Cena de Suécia, peça de teatro de Pedro Mexia

A estreia de Pedro Mexia como dramaturgo mereceu aplausos de pé no Teatro São João. Ai a social-democracia, a social-democracia…

Fica a sensação de que, nos últimos tempos, a Suécia tem aparecido mais vezes nas notícias, nas secções de cultura.

No mês passado, Loreen fez história e voltou a levar para a Suécia o troféu do Festival Eurovisão da Canção; nesta semana Beyoncé apareceu relacionada com o aumento da inflação nacional sueca.

Por cá, estreou a peça Suécia, no Teatro São João, no Porto.

Aliás, são duas estreias: a da peça e a de Pedro Mexia enquanto dramaturgo.

O texto merece aplausos. Repleto de humor inteligente, trocadilhos acima da média, um recheio assinalável de referências históricas e literárias (e alguns dos cruzamentos são brilhantes), conversas profundas, até filosóficas, mas descontraídas ao mesmo tempo…

A peça centra-se na Suécia de 1976. E na social-democracia. Porque “o que há para falar sem ser sobre Suécia e social-democracia?”. Isto num país onde o Partido Social Democrata local venceu sempre (!) as eleições desde 1932 até àquele ano.

Sob a sombra do então primeiro-ministro Olof Palme, aparecem diálogos que mencionam também o realizador Ingmar Bergman, o químico Alfred Nobel, o grupo ABBA ou o tenista Björn Borg, entre outros.

E nem é uma peça sobre a Suécia, avisa Pedro Mexia – que nunca esteve naquele país. É uma ideia da Suécia, muito presente na sua infância (e na de outros portugueses) ao longo da década 1970.

Mas, mesmo sem nunca ter ido à Suécia, é um bom enredo, muito bem enquadrado. As referências e o conhecimento estão lá. Pedro Mexia passou com distinção no primeiro grande exame no palco.

O “ritmo” também está lá: novos aplausos para o encenador Nuno Cardoso.

Joana Carvalho é uma Monika com a ansiedade natural de quem vai casar. Joana mostra que sabe ser ansiosa mas que também sabe ser uma noiva corajosa que confronta o pai (e mete a mãe pelo meio). Sabe ser jovem sueca dos anos 70: liberdade, atrevimento, beleza. Boa interpretação.

Um elogio que se estende a Paulo Freixinho, que até passou para segundo plano as calças à boca de sino e o estilo algo vistoso de Björn, o noivo. Ainda bem.

Ainda entre os jovens, o ex-noivo Johannes é interpretado por Pedro Frias, que não hesitou em ser um bom hesitante. Nota muito positiva para a tese que nunca escreveu.

Lisa Reis, a jovem amiga Eva, disse que não tinha muito a dizer mas, quando falou, foi jovial, expressiva, acertada. Mais palmas.

Outro que ouve mais do que fala – e que estabeleceu diálogos curiosos precisamente com Marianne – é Stromberg, interpretado pelo experiente Jorge Mota, que mostra o que sempre mostrou: segurança, sabe estar, tem postura. Um bom actor.

Depois entrou Patrícia Queirós. E quando Marianne, a mãe da noiva, surge no palco, parece que a peça muda – para melhor. Os excertos de ópera ajudam mas a força, a presença de Lisa em palco, são notórios logo nos primeiros segundos.

Entre o elenco, só falta o actor principal. Quando, ainda antes de começar, vi que seria António Fonseca a trazer-nos Egerman (pai de Monika), a desconfiança aumentou. E, de facto, o experiente actor atrapalhou-se diversas vezes: esqueceu-se de uma ou outra fala, trocou várias outras – foi possível confirmar isso graças às legendas em inglês por cima do palco. Mais importante do que isso, para quem está na parte de trás do teatro como eu estava, não deu para perceber algumas frases; ou porque falou demasiado depressa, ou (e sobretudo isto) porque baixou demasiado o “volume”. Qualquer actor ou actriz tem este princípio básico: cada espectador presente na plateia, independentemente da cadeira que ocupe, tem de perceber cada palavra. Não aconteceu. Dia “não”, excepção?

Foi o ponto negativo numa peça que merece ser vista.

E será que a social-democracia vai dominar a Suécia para sempre…? É preciso ir ver a peça, que estará no Teatro São João até ao dia 25 de Junho.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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