Foi insultado e “ameaçado” dentro do partido: Miguel Quintas vai liderar a IL?

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Miguel Quintas, ex-candidato pela IL à Câmara de Lisboa.

Foi candidato por 3 dias à Câmara de Lisboa — um misterioso e repentino afastamento que só seria desvendado mais tarde. Caso chegou a tribunal e, três anos depois, pode dar uma nova vida a Miguel Quintas — e aos liberais.

Empresário, antigo (e muito breve) candidato da Iniciativa Liberal (IL) à Câmara Municipal de Lisboa e, agora, possível futuro líder do partido liberal.

Num longo texto, em publicação na sua página no Facebook, Miguel Quintas não só garantiu ter vencido em tribunal num processo judicial ligado ao seu afastamento como candidato à capital, como manifestou publicamente a intenção de retomar a vida política.

“A partir de hoje recomeçarei a minha vida política”, garante, ressalvando: “fá-lo-ei na medida em que eu desejar e quando eu o desejar”.

O anúncio já está a agitar as águas entre a forte oposição interna da IL, numa altura em que o partido pode ganhar um novo rumo, especialmente após a polémica saída de Tiago Mayan Gonçalves, que admitiu ter falsificado assinaturas do júri do Fundo de Apoio ao Associativismo Portuense enquanto presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.

A IL ficou, desde esse dia, sem homem-forte da oposição interna. Será Miguel Quintas o nome que se segue?

Candidato por 3 dias. Saiu para proteger os filhos

O processo contra Francisco Oliveira (ou ‘Quicas’, como era conhecido no seio da IL), empresário que se auto-intitula como “um dos fundadores do partido”, envolveu acusações de difamação e devassa da vida privada.

“Chegou ao fim o processo de queixa-crime que movi e que me fez desvincular da Iniciativa Liberal. Chegou ao fim com uma condenação em toda a linha”, começou por explicar Quintas na mesma publicação.

Após ser anunciado como candidato à Câmara Municipal de Lisboa em 2021, o candidato foi afastado em apenas três dias. Justificou a decisão com motivos pessoais relacionados com a “privacidade dos 3 filhos menores”, que segundo o próprio não estaria protegida se continuasse na corrida à autarquia: isso “vale mais do que qualquer política”, disse na altura.

O episódio levou à sua saída da IL e a um processo judicial contra Francisco Oliveira.

‘Quicas’ chamou “pulha” a Quintas (e perdeu)

O partido, na altura liderado por João Cotrim de Figueiredo, encobriu uma chantagem que afastou o candidato à Câmara de Lisboa, revelou uma reportagem da revista Visão.

Tudo começou apenas três dias antes da desistência inesperada de Miguel Quintas, quando um dos financiadores do partido, agora militante do PSD, enviou um documento intitulado “Um pulha será sempre um pulha e este suposto candidato a Lisboa ainda é menos do que isso” para Cotrim, Rodrigo Saraiva e outros altos dirigentes da IL.

O documento, como se podia desde logo supor pelo título, era um ataque íntimo e pessoal a Miguel Quintas. Francisco Oliveira acusava Miguel Quintas de simulações de divórcio e de ter uma filha “relegada para uma situação de indiferença”, fruto de uma relação extraconjugal.

Miguel Quintas ameaçou, junto dos principais dirigentes do partido, avançar com uma queixa-crime contra ‘Quicas’ — e assim fez. “Três longos anos” depois, ganhou.

“Hoje ficou demonstrado que não me subjugo a nenhum pequeno grupo de políticos, mesmo da mais alta responsabilidade partidária e política em Portugal. Não me subjugo a políticos e pessoas que se acobardam perante ameaças e sucumbem perante condenados e diante do crime praticado”, escreve Miguel Quintas ao abordar o culminar do processo: “sei que são poucos. Mas estão agarrados à cadeira do poder” e “desempenham cargos demasiado importantes“.

“Gostaria de não o fazer, mas não consigo evitar de dizer que vi alguns dos nomes mais ‘proeminentes’ da nossa política partidária e nacional a fazerem uma figura verdadeiramente penosa, que envergonharia qualquer comissão parlamentar de inquérito: ‘Não me lembro’, ‘Não sei”, ‘Não vi’, ‘Não consigo precisar’; ‘Não me recordo'”, relata, entre vários ataques à chantagem e falta de transparência do partido.

Cotrim de Figueiredo, chamado a tribunal como testemunha, negou qualquer tipo de chantagem ou ameaça, mas admitiu que o afastamento de Quintas se deveu a “conhecimento de elementos da vida pessoal que não eram conhecidos”: o risco de retirar a candidatura “era menor” do que mantê-la.

A vitória judicial de Quintas pode reforçar a sua posição como nova cara da IL — mas o episódio parece ter deixado marcas (e há desafios a ter em conta).

E agora?

Questionado pelo Observador se pode vir a ser candidato à liderança liberal, Quintas disse estar “sempre disponível para defender o liberalismo e o valores da transparência, da democracia, do mérito e coragem que devem nortear qualquer sociedade e em particular, a política e os partidos políticos, onde se inclui a IL”.

“Neste sentido, jamais poderei virar a cara a essa missão pelo que se for chamado pela sociedade e para defender tais valores direi sempre: presente, obviamente”, concluiu.

Miguel Quintas mantém uma ligação próxima com o Unidos pelo Liberalismo, a oposição interna da IL. Mas isso não basta.

Além da necessidade de reentrar formalmente na militância do partido, Quintas terá de agir rapidamente para assegurar a sua elegibilidade, dada a aproximação das datas do Conselho Nacional da IL, agendado para 30 de novembro.

Arriscado?

A possível candidatura de Quintas não gera consenso dentro do partido.

Para alguns membros da oposição interna, o empresário representa uma oportunidade de revitalizar a IL; para outros, o regresso é visto como arriscado.

“Apoiar o seu regresso com uma candidatura à liderança é um risco enorme”, desabafa ao Observador um membro do movimento do Unidos pelo Liberalismo: “Eu não estarei nessa candidatura, gosto muito do que foi construído pelo movimento, mas não acho que isso seja bom para o partido. Não acho que o movimento deva apresentar uma candidatura a qualquer custo.”

Outras críticas apontam para o tempo que esteve afastado e para a possibilidade de a sua campanha ser mais focada em retaliações ao passado do que em construir propriamente uma visão de futuro.

Tomás Guimarães, ZAP //

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