Chantagem na IL: candidato foi ameaçado com Cotrim a ver tudo

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Miguel A. Lopes / Lusa

Financiador da Iniciativa Liberal exigiu que a candidatura de Miguel Quintas à Câmara de Lisboa fosse retirada, ameaçando divulgar detalhes da sua vida pessoal. Cotrim pediu a desistência do candidato três dias depois.

É pessoal, ponto final. Foi assim que a Iniciativa Liberal justificou, há três anos, a desistência repentina de Miguel Quintas da candidatura à presidência da Câmara de Lisboa.

O candidato alegou “motivos pessoais” e disse que se afastava com uma prioridade: “a privacidade de três filhos menores”, que segundo o próprio não estaria protegida se continuasse na corrida à autarquia.

Apenas três dias antes, Miguel Quintas apresentava a sua candidatura com ânimo: “Estou aqui enquanto pai, porque acredito que é através do exemplo que guiamos os nossos filhos na direção dos desafios mais duros, sem sucesso garantido”.

Nunca se percebeu ao certo o que se passou e desde então que o partido, na altura liderado por João Cotrim de Figueiredo, encobriu uma chantagem que afastou o candidato à Câmara de Lisboa, revela esta quinta-feira a Visão, com detalhes de um processo judicial atualmente em julgamento que revelam os verdadeiros motivos para o afastamento de Quintas.

“Um pulha será sempre um pulha”

Tudo começou apenas três dias antes da desistência inesperada de Miguel Quintas, quando um dos financiadores do partido, agora militante do PSD, enviou um documento intitulado “Um pulha será sempre um pulha e este suposto candidato a Lisboa ainda é menos do que isso” para Cotrim, Rodrigo Saraiva e outros altos dirigentes da IL.

O documento, como se podia desde logo supor pelo título, era um ataque íntimo e pessoal ao candidato Miguel Quintas.

Francisco Rodrigues de Oliveira (ou ‘Quicas’, como era conhecido no seio da IL), empresário que se auto-intitula como “um dos fundadores do partido”, acusava Miguel Quintas de simulações de divórcio e de ter uma filha “relegada para uma situação de indiferença”, fruto de uma relação extraconjugal, avança a revista.

“Não sou pessoa a quem Cotrim possa dizer não”

O empresário de 58 anos — que não era militante da IL — era padrinho dessa filha de Miguel Quintas e dava agora ao partido o prazo de 48 horas para retirar a confiança política ao candidato à autarquia lisboeta.

“Não avançarei com o texto caso esse pulha se afaste pelo seu pé”, terá ameaçado em mensagem por Whatsapp dirigida a Cotrim: “Espero até à hora do jantar”.

E claro, o texto circulou rapidamente pela IL e Cotrim terá pedido a retirada da candidatura, de forma a evitar que o texto se tornasse público.

“Não sou pessoa a quem o João [Cotrim de Figueiredo] possa dizer não”, explicou o financiador à procuradora do caso.

Miguel Quintas ameaçou, junto dos principais dirigentes do partido, avançar com uma queixa-crime contra Quicas — e assim fez, mas não antes de pedir a Cotrim para “pensar duas vezes” antes de retirar a sua candidatura, alegando que “uma entrevista de vida já amanhã” podia resolver o problema e explicar tudo.

“Não fiz nada de errado”, escreveu num email no dia 9 de março de 2021 em que denunciava a “mentira” do financiador do partido e padrinho da sua filha e estranhava o pedido de desistência, até porque alertou “várias vezes” o partido que tinha uma filha de outra relação com quem tinha um “muito difícil relacionamento”, uma vez que a menor não queria estar com o pai.

Cotrim nega chantagem

Cotrim de Figueiredo, chamado a tribunal como testemunha, negou qualquer tipo de chantagem ou ameaça, mas admitiu que o afastamento de Quintas se deveu a “conhecimento de elementos da vida pessoal que não eram conhecidos”.

O risco de retirar a candidatura “era menor” do que mantê-la, cita a revista com base no processo a que teve acesso.

Apesar de Cotrim ter dito que a decisão “seria tomada de qualquer maneira”, uma vez que a situação da filha menor do candidato era dada a “aproveitamento político” na “praça pública”, o dirigente do núcleo de Lisboa da IL confirmou que abordou o assunto com Quintas antes de avançar com a sua candidatura e que a IL, como partido liberal, deu o assunto como “sanado”.

“Para nós, a história era pacífica”, disse Carlos Figueira, em julgamento.

Tomás Guimarães, ZAP //

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