Espia viveu uma vida de filme. Rejeitada, ergueu-se (com uma perna só) para se tornar a única mulher civil a ser agraciada pelos seus serviços prestado na II Grande Guerra.
Durante a II Guerra Mundial, Virginia Hall, uma agente norte-americana, tornou-se uma das figuras mais temidas pela Gestapo na França ocupada.
Conhecida pelos nazis como “a mais perigosa de todas as espiãs aliadas”, a “senhora que coxeava”, como lhe chama a CIA, operava secretamente em Lyon, onde comandava redes da Resistência Francesa, salvava centenas de soldados aliados e pregava rasteiras aos seus perseguidores — apesar de ter apenas uma perna.
Hall perdeu a perna esquerda num acidente de caça na Turquia e foi rejeitada pelo Departamento de Estado norte-americano, considerada inapta para o serviço estrangeiro.
Mas não desistiu: transformou a sua determinação, conhecimentos linguísticos e compreensão das culturas europeias numa carreira clandestina que a tornaria alvo prioritário da Gestapo.
Hall começou a trabalhar inicialmente com o British Special Operations Executive e depois com o Office of Strategic Services dos EUA, e fez da França ocupada a sua base de operações.
Organizou rotas de fuga para soldados aliados, coordenou grupos da Resistência e criou uma rede de casas seguras que funcionava como uma verdadeira linha de vida para os opositores ao regime nazi, recorda o podcast do All That’s Interesting.
O seu disfarce passava por pintar o cabelo de cinzento, limar os dentes ao estilo de camponeses franceses e adotar a identidade de agricultora.
Quando, em 1942, os nazis quase a capturaram, Hall atravessou os Pirenéus rumo a Espanha, sob condições extremas que quase lhe custaram a vida. Mas o momento mais audacioso ainda estava por vir: em 1944, convencendo os superiores da OSS a deixá-la regressar a França, Hall desembarcou na Bretanha, meses antes do Dia D.
Disfarçada de camponesa idosa, estabeleceu uma base no centro do país, treinando e armando combatentes da Resistência, coordenando sabotagens contra linhas de abastecimento alemãs e reunindo informações vitais que ajudaram a suavizar a defesa nazi antes da invasão aliada.
Apesar da importância das suas ações, muitas permaneceram classificadas e ignoradas publicamente durante décadas.
Depois da guerra, a espiã integrou a recém-criada CIA, mas encontrou resistência num ambiente dominado por homens: foi frequentemente relegada a funções administrativas, apesar da experiência em operações de campo.
Virginia Hall faleceria em 1982 como a única mulher civil a ser agraciada pela Distinguished Service Cross (Cruz de Distinção por Serviços Distintos) na Segunda Guerra Mundial.
“A Miss Hall demonstrou rara coragem, perseverança e engenho; os seus esforços contribuíram materialmente para o sucesso das operações das Forças de Resistência em apoio das Forças Expedicionárias Aliadas na libertação da França”, disse, na altura o presidente Harry Truman.