Você comprava um carro a João Galamba? Uma jogada de póquer com consequências imprevisíveis

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Fernando Veludo, André Kosters, Hugo Delgado / Lusa

A continuidade de João Galamba como ministro das Infraestruturas abre uma guerra entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa de “consequências imprevisíveis”. Mas também se questiona a credibilidade de Galamba para liderar uma pasta com dossiers tão sensíveis como a TAP e o novo aeroporto.

“Não abona em favor do Estado a presença dele num acto de negociação”. É assim que o comentador da Rádio Renascença (RR), João Duque, considera que Galamba não tem credibilidade para liderar o processo de venda da TAP, considerando a “imagem muito degradante” que foi transmitida do ministro nos últimos dias.

“A pergunta é lícita de quem se senta do outro lado é: ‘quem é esta pessoa que está aqui a falar para mim e a tentar negociar comigo?´”, analisa João Duque.

Se tivesse que comprar um carro ao João Galamba, ia usar toda a precaução“, aponta ainda o comentador em jeito de comparação, notando que “pode ter uma palavra cuja veracidade se pode pôr em causa”.

“Alguém que descredibiliza a sua palavra, através de tanta trapalhada e de meias-verdades, que, depois, se vão descobrindo que, afinal, nem são meias-verdades, acaba por desvalorizar muito e pôr no Estado uma situação de grande fragilidade“, acrescenta o comentador da RR.

Já no editorial do Eco, o jornalista António Costa recorda que Galamba “mentiu sobre as reuniões com a CEO da TAP e deixou degradar as instituições com aquela cena imprópria dentro do ministério” que envolveu agressões e assessoras refugiadas na casa de banho.

Mas, além da questão da TAP – e será interessante conhecer os novos capítulos da novela quando Galamba e o seu ex-adjunto, Frederico Pinheiro, forem chamados, como deve acontecer, à Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da companhia aérea -, há outros dossiers importantes nas Infraestruturas que são decisivos para o futuro do país.

A escolha do local para o novo aeroporto de Lisboa é outro problema sem fim à vista. Na semana passada, anunciou-se que foram escolhidas nove opções das 17 estudadas.

A questão da ferrovia é outra preocupação, tanto mais numa altura em que os passageiros dos comboios portugueses têm tido dores de cabeça infinitas com as sucessivas greves.

Em águas de bacalhau continua o Plano Nacional Ferroviário, lançado por Pedro Nuno Santos, o antecessor de Galamba na pasta, que inclui, nomeadamente, a estratégia para a Alta Velocidade.

Ainda “mais trapalhão” do que Governo de Santana

Nesta história toda, não é apenas o papel de Galamba que está em causa, mas o do próprio Governo – e até o do equilíbrio de funções entre o Executivo e a Presidência da República.

O caso “rocambolesco” de Galamba foi apenas “a gota de água que fez transbordar o copo” no que à credibilidade do Governo diz respeito, segundo a análise do comentador da SIC, Paulo Baldaia.

O Governo de Costa “roubou o estatuto de mais trapalhão da III República ao Governo de Santana”, realça ainda o comentador da SIC, prevendo que “a dissolução da Assembleia da República é uma coisa que pode acontecer a qualquer altura”.

Jogada de póquer de “consequências imprevisíveis”

Ao não aceitar a saída de Galamba, Costa assumiu o choque directo com Marcelo que defendeu publicamente a sua demissão.

Foi “um acto de coragem com consequências imprevisíveis“, na análise de Manuel Carvalho no Público, onde considera que segurar Galamba era “a opção mais difícil de assumir, logo a mais corajosa”.

Contudo, a postura de Costa expõe-no “na pele de um líder arrogante, auto-centrado, que perdeu a dimensão da gravidade dos problemas e a ligação às exigências dos cidadãos”, diz ainda Manuel Carvalho.

“Grande encenação” já a pensar em eleições?

No Eco, o jornalista António Costa fala da “grande encenação” do primeiro-ministro quanto ao insólito episódio da demissão de Galamba que, afinal, não aconteceu.

Assim, “fez de um enorme problema uma maior oportunidade” numa “jogada política para acabar com as dúvidas sobre quem manda”, analisa, considerando que conseguiu “arrumar com Marcelo depois do Presidente ameaçar com a dissolução nas últimas semanas”.

O que falta saber é quais serão as consequências deste braço-de-ferro.

Como um bom jogador de póquer, Costa jogou o trunfo da “situação económica e social do país”, da “instabilidade e incerteza financeira”, com o intuito de “preservar o poder pelo poder”, atira o jornalista do Eco.

E mesmo que Marcelo resolva avançar com a “bomba atómica”, Costa pode usar o trunfo da vitimização numas eleições legislativas antecipadas.

Susana Valente, ZAP //

17 Comments

  1. Ou seja, mais uma vez o projecto de poder do Costa sobrepõe-se ao interesse do país.
    E muito provavelmente ganha, tendo em conta a literacia e inteligência do eleitorado tuga.
    Temos o que merecemos enquanto povo…. paga tuga…

    • Mário, não penses que estás a falar em nome dos portugueses. estás apenas a falar em teu nome e de ti, provalvelmente. Asinino és tu! Não são os eleitores que que não concordam com a tua sumidade que até agora nada é reconhecida.

  2. Concordando ou não com ele na decisão tomada, parece-me que neste processo ainda foi o primeiro ministro que conseguiu mostrar algum sentido de Estado, não se deixando arrastar pelo circo mediático. Ver-se-á qual o resultado, mas isto talvez sirva para nos recordar que os eleitores não esperam dos governantes uma atenção diária ao espetáculo das fofocas em redes sociais (que as TVs e jornais só imitam). O PR tem de esquecer o seu gosto pelo comentário político: há outros que são pagos para isso e até para se contradizerem frequentemente.

  3. Concordando ou não com ele na decisão tomada, parece-me que neste processo ainda foi o primeiro ministro quem conseguiu mostrar algum sentido de Estado, não se deixando arrastar pelo circo mediático. Ver-se-á qual o resultado, mas isto talvez sirva para nos recordar que os eleitores não esperam dos governantes uma atenção diária ao espetáculo das fofocas em redes sociais (que as TVs e jornais só imitam). O PR tem de esquecer o seu gosto pelo comentário político: há outros que são pagos para isso e até para se contradizerem frequentemente.

  4. votaram nele , agora aturem-no, pena eu eu e muitos termos de andar a Pagar pelos que Lhe deram Maioria, Grande Parte dos que lhe deram a Maioria também são aqueles que vivem á conta do Estado certamente , os Chamados pseudo subsidiarios

      • Bem…o Costa só teve o voto de 2 em cada 10 portugueses. Tudo o resto é mentira. Apenas 2 em cada 10 portugueses é que votaram no Costa.

  5. O que têm em comum, Costa e Galamba? São ambos socráticos e pertenceram a um governo estouvado e de patetices, que estão a procurar imitar.

  6. na minha opinião o galamba tem o costa na mão (fez o que o costa mandou e tem provas disso) e agora se o costa o poem fora ele abre a boca e cai o governo assim, o costa prefere uma guerrinha com o marcelinho que daqui a 5 dias ja passou e até bebem um copo ha nova bazuca que €€€€€€ que vem da europa e os outros que fechem a porta…

  7. Este Gamba ilice já tem vários antecedentes quando era secretario, basta lembrar como foi resolvido o caso do lítio!
    para não falar de casos mais antigos que ligam -no ao “socratismos”
    Este desgoverno tem vários membros que faziam parte da” quadrilha Socratistas” que levou o país à banca rota.
    Estão à espera de quê? lembrem-se que a divida publica está nos 300MM e vai ter de ser paga, por isso o 1º ministro já quer fugir, para a Europa, esta afronta ao PR trás “agua no bico” como sabe que não ganha, pede a demissão e alio alio.
    Como neste país ninguém è preso por roubar ao Estado, até á manhã camaradas…

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