Galamba sai: era difícil adivinhar? 7 casos à volta do “ministro do estrume”

Miguel A. Lopes / LUSA

O ministro das Infraestruturas, João Galamba

Entre polémicas que têm anos e outras bem recentes, o percurso do agora ex-ministro nunca foi um caso pacífico. Mesmo enquanto deputado.

João Galamba demitiu-se. “Finalmente”, dirão muitos portugueses, sejam políticos, comentadores ou não.

O agora ex-ministro das Infraestruturas já era um caso pouco pacífico ainda antes de entrar no Governo.

Conhecido como um deputado aguerrido, classificado por alguns como “valente”, por outros como “rude” ou “mini-Sócrates”, passou a vice-presidente do grupo parlamentar do PS. Foi deputado durante 10 anos.

Em 2019, no início do segundo mandato de António Costa, foi escolhido para ser secretário de Estado Adjunto da Energia. Em 2022 subiu para secretário de Estado do Ambiente e da Energia.

Logo no arranque de 2023 subiu ainda mais: ministro das Infraestruturas, depois da saída de Pedro Nuno Santos.

Mas, como já tínhamos reforçado no artigo partilhado aqui em cima, João Galamba também foi subindo nas polémicas que acumulou.

Como secretário de Estado, começaram as suspeitas relacionadas com extracção de lítio em Boticas e em Montalegre.

Destacou-se a investigação pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal: suspeitas de crimes de tráfico de influências e corrupção no favorecimento do consórcio H2Sines (EDP/Galp/REN/ Martifer e Vestas), no megaprojecto do hidrogénio verde em Sines. Aliás, já estava a ser investigado quando foi escolhido para ser ministro.

Ainda nesse caso, Galamba terá estado sob escuta telefónica, por parte do Ministério Público, que também terá feito o mesmo a ministro da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira. As escutas em questão terão decorrido durante a fase de pré-escolha das empresas candidatas aos negócios do hidrogénio verde.

Uma escolha de Galamba também originou críticas: nomeou João Bernardo para o cargo de diretor-geral da Energia e Geologia – João Bernardo tinha deixado de ser director de Serviços de Sustentabilidade Energética porque tinha cometido várias “falhas no cumprimento das atribuições, com impacto negativo no serviço público”.

Também já foi associado à detenção de José Sócrates: terá avisado o antigo primeiro ministro, por mensagem de telemóvel, que algo iria ser feito contra ele – embora não soubesse o que era. Um mês depois, Sócrates foi detido.

Fora do Parlamento ou dos tribunais, é conhecido há anos pelos seus ataques pessoais. Tentou fazer uma piada com Passos Coelho, chamou “aldrabão encartado” a um professor universitário que criticou a Estratégia Nacional para o Hidrogénio e classificou o Sexta às 9, da RTP, como um programa de “estrume” e “coisa asquerosa”.

Já enquanto ministro, acumulou um caso muito mediático: a saída de Frederico Pinheiro, alegadas ameaças ao telefone, alegadas agressões no seu Ministério, queixa-crime contra o próprio Galamba… Mais tarde o ex-ministro foi mesmo alvo de uma queixa-crime, por parte de Frederico Pinheiro, seu antigo adjunto.

Na semana passada, e voltando aos negócios de lítio e hidrogénio verde, passou a ser arguido. É suspeito em quatro casos e, no fundo, de intervir em praticamente todas as matérias objecto da investigação do Ministério Público.

Voltando a Abril e Maio, poucos dias depois aquela famosa “noite do computador” no Ministério das Infraestruturas, pediu a demissão. Na altura, António Costa não aceitou a sua saída. O primeiro-ministro entendeu que não havia motivos para o ministro sair.

Agora sai mesmo. O comunicado da Presidência da República confirma a sua exoneração imediata.

No entanto, João Galamba acha que tinha condições políticas para continuar. “Isso aí é que me parece quase surreal. É um nível de arrogância e desejo de poder…”, reagiu Bernardo Blanco, deputado da IL.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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