Ondas de calor extremo repetidas envelhecem-nos tanto como fumar ou beber

A exposição a longo prazo a eventos de calor extremo acelera o processo de envelhecimento do corpo e aumenta as vulnerabilidades a problemas de saúde, conclui um estudo a longo prazo com 24.922 pessoas em Taiwan.

Um novo estudo, publicado na semana passada na Nature Climate Change, sugere que aumentos moderados na exposição cumulativa a ondas de calor extremo aumentam a idade biológica de uma pessoa — numa extensão comparável ao consumo regular de tabaco ou álcool.

Quanto maior o número de eventos de calor extremo a que as pessoas foram expostas, mais os seus órgãos envelheceram.

Este é o mais recente estudo a mostrar que o calor extremo pode ter efeitos invisíveis no corpo humano e acelerar o relógio biológico.

A exposição a calor extremo, especialmente durante longos períodos de tempo, sobrecarrega os órgãos e pode ser letal, mas “o facto de as ondas de calor nos envelhecerem é surpreendente“, diz à Nature Paul Beggs, investigador da Universidade Macquarie em Sydney, Austrália, que não esteve envolvido no estudo.

“Este estudo é um alerta de que todos somos vulneráveis aos impactos adversos das alterações climáticas na nossa saúde. Reforça os apelos para uma redução urgente e profunda das emissões de gases com efeito de estufa”, acrescenta.

Aceleração do envelhecimento

A idade não é apenas resultado do tempo. Estudos anteriores ligaram vários fatores — incluindo stress ambiental e social, genética e intervenções médicas — a sinais de mudanças fisiológicas relacionadas com o envelhecimento — que coloca as pessoas num risco mais elevado de doenças cardiovasculares, cancro, diabetes e demência.

Para estudar os impactos a longo prazo das ondas de calor no envelhecimento, os investigadores analisaram dados de exames médicos entre 2008 e 2022.

Durante esse período, Taiwan experimentou cerca de 30 “ondas de calor”, que o estudo definiu como um período de temperatura elevada durante vários dias.

Os investigadores utilizaram resultados de vários testes médicos, incluindo avaliações da função hepática, pulmonar e renal, pressão arterial e inflamação, para calcular a idade biológica.

Depois compararam a idade biológica com a temperatura cumulativa total a que os participantes provavelmente estiveram expostos com base no seu endereço nos dois anos antes da sua visita médica.

O estudo descobriu que quanto mais eventos de calor extremo as pessoas experimentaram, mais rapidamente envelheceram — por cada 1,3 °C extra a que um participante foi exposto, cerca de 0,023–0,031 anos, em média, foram adicionados ao seu relógio biológico.

“Embora o número em si possa parecer pequeno, ao longo do tempo e através das populações, este efeito pode ter implicações significativas para a saúde pública”, diz Cui Guo, epidemiologista ambiental na Universidade de Hong Kong e autor principal do estudo.

De acordo com o estudo, trabalhadores manuais e pessoas em áreas rurais experimentaram os maiores impactos na saúde, provavelmente porque estes grupos têm menos probabilidade de ter acesso a ar condicionado.

Mas houve um lado positivo inesperado: o impacto das ondas de calor no envelhecimento diminuiu durante o período de estudo de 15 anos. As razões por trás desta adaptação ao calor não são claras, mas o acesso melhorado a tecnologias de arrefecimento pode desempenhar um papel, diz Guo.

Ainda assim, “a mensagem é que o calor nos envelhece um pouco mais rápido do que normalmente faríamos, e isso é algo que gostaríamos de evitar”, salienta Alexandra Schneider, epidemiologista ambiental no Helmholtz Munich na Alemanha, que não esteve envolvida no estudo.

ZAP //

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