São autistas, mas não sabem. Quase todos os maiores de 40 anos continuam sem diagnóstico

9 em 10 adultos autistas com mais de 40 anos continuam por diagnosticar.

Os diagnósticos de autismo aumentaram acentuadamente nas últimas décadas, levando a especulação de que a condição é nova ou desencadeada por fatores ambientais modernos.

No entanto, uma revisão abrangente da investigação sobre adultos autistas com mais de 40 anos pinta um quadro muito diferente.

A investigação publicada na semana passada, no Annual Review of Developmental Psychology, revela que o autismo está também bastante presente nas gerações mais velhas, com até 90% dos casos a ficarem por diagnosticar.

O estudo revela que cerca de 89% dos adultos autistas entre os 40 e os 59 anos e 97% com mais de 60 não têm diagnóstico formal.

Os investigadores do King’s College London (KCL) alerta que o facto de a vasta maioria das pessoas autistas com mais de 40 anos permanecer por diagnosticar tem consequências significativas para a saúde, bem-estar e qualidade de vida.

Investigações passadas já mostraram que indivíduos autistas têm um risco quatro vezes maior de demência precoce, seis vezes maior risco de pensar em suicídio e uma esperança de vida que fica seis anos abaixo da dos seus pares não autistas.

“Estas estimativas muito elevadas de subdiagnóstico sugerem que muitos adultos autistas nunca terão sido reconhecidos como sendo autistas, e não lhes terá sido oferecido o apoio adequado”, lamenta o líder do estudo, Gavin Stewart, da KCL, à New Atlas.

“Isto pode torná-los mais suscetíveis a problemas relacionados com a idade, por exemplo estar socialmente isolados e ter pior saúde”, acrescentou.

Além dos problemas de saúde mental e neurológica, adultos autistas têm taxas mais elevadas de um conjunto de condições graves, como doenças autoimunes, cardiovasculares e gastrointestinais, doença de Parkinson, osteoporose e artrite.

Enfrentam também maiores desafios no acesso a cuidados de saúde e apoio, além de uma taxa mais elevada de problemas no emprego e relações pessoais. Cerca de 20% dos adultos autistas com mais de 40 anos relatam estar socialmente isolados, em comparação com 4% dos pares não autistas.

Apesar do aumento da consciencialização e dos diagnósticos em todo o mundo, os adultos mais velhos continuam a não estar reconhecidos nas estatísticas. E uma razão principal reside na forma como o autismo foi historicamente definido.

Como lembra a New Atlas, durante grande parte do século XX, a Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) foi descrita de forma estreita como “autismo infantil”.

Os critérios de diagnóstico para a PEA foram gradualmente alargados a partir da década de 1980, captando uma imagem mais precisa do espetro. Isto significa que o aumento atual da prevalência de autismo é largamente explicado por mudanças no reconhecimento, nos critérios e na consciencialização.

“As elevadas taxas de subdiagnóstico significam também que grande parte da nossa investigação tem sistematicamente ignorado uma grande proporção da população autista, potencialmente enviesando a nossa compreensão de como as pessoas autistas envelhecem, e deixando lacunas críticas em políticas e serviços”, admituu Stewart.

Miguel Esteves, ZAP //

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