Galamba demite-se, mas diz que tinha condições para continuar

Tiago Petinga / Lusa

Na “corda bamba” há algum tempo e um dos focos da crise política portuguesa atual, João Galamba apresentou a demissão – embora tenha referido que tinha condições políticas para continuar “equilibrado” no exercício das suas funções. Em maio, já tinha tentado demitir-se, mas António Costa não deixou.

João Galamba apresentou, na tarde desta segunda-feira, o pedido de demissão do cargo de ministro das Infraestruturas, tendo sido já exonerado pelo Presidente da República.

O governante demissionário referiu, em comunicado, que a decisão vem na sequência de uma “profunda reflexão pessoal e familiar”, considerando que – apesar de tudo em que está envolvido – as suas condições políticas “não estavam esgotadas”.

“Apresentei este pedido de demissão após profunda reflexão pessoal e familiar, e por considerar que na minha qualidade de pai e de marido esta decisão é a única possível para assegurar à minha família a tranquilidade e discrição a que inequivocamente têm direito. (…) Apresentei o meu pedido de demissão apesar de entender que não estavam esgotadas as condições políticas de que dispunha para o exercício das minhas funções”, escreveu.

O arguido na Operação Influencer disse ainda que a esta tomada de posição não significa um assumir de responsabilidades, sublinhando que está totalmente disponível para esclarecer todas as dúvidas que pairam sobre ele.

“Este pedido de demissão não constitui uma assunção de responsabilidades quanto ao que pertence à esfera da Justiça e com esta não se confunde. Apenas posso dizer que estou totalmente disponível para esclarecer qualquer dúvida que haja a respeito do desempenho das minhas funções governativas”, esclareceu.

João Galamba enalteceu o trabalho levado a cabo, ao longo dos seus cinco anos de Governo: enquanto secretário de Estado da Energia (2018-2023) e ministro das Infraestruturas (2023-), voltando a referir que tinha condições para continuar.

“O trabalho feito, os seus bons resultados e o desempenho das minhas funções são, em meu entendimento, as condições políticas necessárias para o desempenho de funções governativas (…) [procurei] soluções para que todos os projetos de investimento no País referentes às minhas áreas de atuação lograssem concretização e trouxessem o desenvolvimento económico que os portugueses anseiam e merecem”, lembrou.

Galamba mudou de ideias

João Galamba tinha estado há pouco mais de 72 horas (sexta-feita), na Assembleia da República, a defender o Orçamento do Estado para 2024, onde deixou claro que não tinha intenção de se demitir.

O governante sublinhou que estava ali apenas para discutir o Orçamento do Estado para 2024 (OE2024): “As circunstâncias a que eu hoje estou aqui é simples de entender: estamos no debate da especialidade do Orçamento do Estado“.

O ministro das Infraestruturas acabou, no entanto, por responder à questão mais esperada (e óbvia): “vai ou não demitir-se?” Galamba disse que, por iniciativa própria, não se demitia, referindo que era uma decisão que competia ao primeiro ministro.

Já era sabido que António Costa iria decidir o futuro político de João Galamba, esta terça-feira, juntamente com Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém.

Demissionário reincidente

Em maio, João Galamba já tinha estado no centro de uma polémica a envolver alegadas “omissões” de informação, numa comissão parlamentar de inquérito à TAP, tendo apresentado a demissão.

Só que Costa não aceitou… assegurando que Galamba, nunca quis ocultar informação: “Pelo contrário, foi o ministro que entregou a informação que foi pedida”.

“Em minha consciência, não posso aceitar este pedido de demissão. Sinto-me confortável com esta decisão. Contarei com ele como ministro das Infraestruturas – e o tempo vai revelar que ele será um excelente ministro das Infraestruturas. Se assim não for, a responsabilidade será minha. E desejo a maior força a João Galamba”, disse, em maio, o primeiro-ministro.

Na altura, Marcelo Rebelo de Sousa não concordou com a decisão de António Costa, referindo que Galamba tinha invocado “razões de peso relacionadas com a perceção dos cidadãos quanto às instituições políticas”.

Galamba é, atualmente, suspeito em quatro negócios concessão dos negócios da exploração de lítio, hidrogénio verde e do data center de Sines.

Miguel Esteves, ZAP //

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