Porque as Spaceships de Elon Musk continuam a explodir espetacularmente

SpaceX

Depois de uma série de falhanços estrondosos, o maior foguete da SpaceX enfrenta outro voo de teste, que põe à prova as ambições espaciais dos EUA. Conseguirá a icónica empresa aeroespacial de Elon Musk resolver o problema das suas “Starships Explosivas”?

A SpaceX está a preparar mais um voo de teste do seu foguete Starship, depois de os lançamentos anteriores terem resultado em falhanços espetaculares.

A imponente nave espacial, com dois estágios e 122 metros de altura, tem tido dificuldade em sobreviver além dos primeiros momentos de voo; as três últimas tentativas em 2025 culminaram em explosões violentas.

O CEO e fundador da empresa, Elon Musk, chama a estes incidentes uma “desmontagem rápida não planeada” — uma forma eufemística de descrever a natureza das catastróficas falhas da sua nave espacial.

O próximo lançamento, que deverá acontecer este domingo, na Starbase da SpaceX, no sul do Texas, será o 10.º voo de testes da Starship.

O plano prevê que o gigantesco lançador Super Heavy, movido por 33 motores, impulsione o foguete até à borda do espaço, se separe e regresse para um pouso controlado no Golfo do México. O estágio superior deverá então atingir a órbita, libertar a carga e reentrar na atmosfera em segurança.

Apesar destes objetivos ambiciosos, os voos anteriores demonstraram os desafios inerentes ao desenvolvimento do maior foguete reutilizável alguma vez imaginado, nota a Scientific American.

A Starship foi concebida para revolucionar os voos espaciais: tem como missão transportar cargas e tripulações para a órbita a custos sem precedentes, apoiar as missões Artemis da NASA à Lua e, em última instância, possibilitar a colonização humana em Marte.

Conseguir que o monumental Super Heavy, o mais poderoso lançador alguma vez desenvolvido, se eleve sequer do solo, já é por si só uma proeza da engenharia aeroespacial, e sempre um momento emocionante que continua a impressionar a cada novo lançamento.

“Desenvolver um veículo deste tamanho e lançá-lo repetidamente não é fácil”, diz Jonathan McDowell, astrofísico no Center for Astrophysics | Harvard & Smithsonian. O sucesso do Starship é central para a visão de Musk de um futuro interplanetário sustentado em hardware revolucionário.

Mas nem tudo está a correr como planeado: os anteriores lançamentos resultaram invariavelmente em desastre, com exceção do quarto lançamento, em junho de 2024, após o qual a Starship fez pela primeira vez um voo completo.

As falhas recorrentes envolveram sobretudo fugas, incêndios e explosões no sistema de combustível do foguete, que usa uma mistura criogénica de metano e oxigénio líquidos.

Manter estas substâncias em estado líquido requer temperaturas extremamente baixas, abaixo de –162 °C para o metano e de –183 °C para o oxigénio. Os esforços térmicos associados à movimentação e queima destes combustíveis, combinados com as vibrações durante o lançamento, têm-se revelado difíceis de controlar.

“O metano é um combustível novo para lançamentos espaciais, por isso ainda estamos a aprender como gerir o seu fluxo”, explica McDowell.

Os desafios estruturais agravam o problema. A Starship tem de transportar cargas enormes de combustível ao mesmo tempo que se mantém extremamente leve, para atingir a sua capacidade alvo de 110 a 165 toneladas em órbita — muito acima da capacidade do jás retirados foguetões espaciais da NASA.

Os engenheiros tiveram de reduzir drasticamente a massa estrutural, um processo que alguns descrevem como um “regime de perda de peso” para o foguete.

Esta leveza extrema torna o veículo vulnerável às vibrações e às forças dinâmicas durante o lançamento, levando a especulações de que estas forças estão na origem das falhas repetidas.

Voos anteriores revelaram também que “oscilações harmónicas” — vibrações nas condutas de combustível e outros componentes — provocaram fugas e incêndios.

A SpaceX tentou soluções como o reforçar as condutas de combustível, adicionar sistemas de ventilação e melhorar os ladrilhos resistentes ao calor.

A SpaceX tem aparentemente usado uma iterativa inspirada nos processos criativos de Silicon Valley: “construir-testar-destruir-reconstruir”: cada falha serve para dar informações sobre a próxima iteração do design. Mas as apostas em jogo são elevadas, nota a Scientific American.

Os especialistas alertam que, embora a haver progressos incrementais, o equilíbrio entre reforços estruturais e capacidade de carga é delicado. Acrescentar reforços na estrutura da nave implica um aumento da sua massa e pode reduzir o desempenho, potencialmente comprometendo o objetivo central da Starship: voos espaciais rápidos e reutilizáveis.

A pressão para ter sucesso não é apenas comercial. A NASA planeia usar a Starship na missão Artemis III, que visa pousar astronautas no polo sul da Lua em 2027. Atrasos ou capacidades de carga reduzidas podem comprometer estas ambições, bem como os planos de Musk a longo prazo de levar o Homem a Marte.

“Cada vez que adicionas um componente para corrigir algo, aumentas a massa e diminuis a capacidade de carga”, sublinha McDowell.

Apesar dos inúmeros contratempos, a SpaceX mantém-se comprometida com o desenvolvimento do Starship.

A cada novo lançamento de mais uma Starship, investidores, clientes e entusiastas do espaço acompanham atentamente a jornada épica da empresa, que procura provar que consegue ultrapassar os obstáculos técnicos que até agora têm estado na notícias pelos piores motivos.

E neste domingo, iremos uma vez mais ver se a Starship consegue finalmente sair da plataforma de lançamento intacta — ou se fará outra entrada dramática nos noticiários.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.