Fazem-no sempre durante o voo: é uma estratégia de higiene. Cientistas querem agora investigar os alívios das gaivotas.
Na passada segunda-feira, um estudo publicado na revista Current Biology revelou um comportamento insólito da cagarra-do-pacífico (Calonetris leucomelas): a ave marinha defeca, em média, cinco vezes por hora, com intervalos de quatro a dez minutos. Quase sempre durante o voo.
A descoberta foi feita por investigadores da Universidade de Tóquio, que instalaram pequenas câmaras na parte inferior de 15 aves de uma colónia na ilha Funakoshi Ohshima, no Japão. Ao longo de cerca de 36 horas de filmagens, foram registados 195 episódios de excreção.
Surpreendentemente, quase todos os episódios de defecação ocorreram enquanto as aves estavam no ar, com apenas uma exceção, à superfície do mar, provavelmente por acidente.
O comportamento sugere que as cagarras evitam defecar enquanto estão pousadas na água, mesmo que isso implique gastar alguma energia para levantar voo apenas para se aliviarem.
A opção de defecar em voo pode ser uma estratégia de higiene, já que evita sujar as penas e reduz o risco de atrair predadores através da concentração de dejetos. Além disso, a postura durante o voo pode facilitar a pressão abdominal necessária para a excreção, acreditam os investigadores.
Impacto ambiental e circulação de nutrientes
Apesar de parecer apenas uma curiosidade, o hábito tem implicações relevantes para o meio ambiente. Tal como as baleias redistribuem nutrientes no oceano através das fezes, também as aves marinhas podem desempenhar um papel importante na circulação de elementos vitais como o fósforo e o azoto.
Estima-se que cada cagarra elimine até 5% da sua massa corporal por hora, — o equivalente a um humano a perder cerca de quatro quilos de excremento por hora, enquanto conduz, sem parar — o que pode influenciar tanto a aerodinâmica da ave como a fertilização marinha em áreas de grande concentração de indivíduos.
Outro ponto de atenção é a possibilidade de disseminação de patogénicos, incluindo o vírus da gripe das aves. Como muitas destas aves sobrevoam regiões onde outras estão pousadas, parte dos dejetos pode cair diretamente sobre indivíduos à superfície, facilitando a transmissão.
Os cientistas pretendem agora investigar se o padrão identificado nesta espécie marinha também ocorre noutras, como as gaivotas, de forma a compreender melhor o impacto ecológico e epidemiológico deste comportamento ainda pouco estudado.
ZAP // CanalTech