Cheira a III Guerra Mundial

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EPA

Benjamin Netanyahu e Vladimir Putin

Ucrânia e Médio-Oriente são apenas duas peças de um puzzle que já é muito maior. Só esperemos que nunca se encaixe totalmente.

Quem nos dera que o título fosse só uma comparação ligeira com o grande sucesso dos Nirvana, Smells Like Teen Spirit. Mas o que “cheiramos” é mais sério, muito mais grave, do que o espírito adolescente.

Este artigo não pretende lançar nenhum alarme. Vai juntar apenas factos e declarações; umas mais antigas, outras muito recentes. Não há suposições.

Até pode parecer estranho publicar esta análise poucos dias depois ao anúncio de cessar-fogo entre Israel e Hezbollah. O Líbano deve ficar mais calmo em breve (com o Hamas a anunciar que também está pronto para o cessar-fogo em Gaza).

Israel-Irão

Mas é preciso ouvir na íntegra a comunicação de Benjamin Netanyahu ao país. O primeiro-ministro de Israel explicou que, com este acordo com o Hezbollah, agora Israel pode concentrar-se na “ameaça iraniana”.

É que ainda se espera/teme um ataque do Irão a Israel. Ou melhor, um novo ataque do Irão a Israel, mas desta vez a causar estragos sérios.

E, nesse cenário, já “cheira a III Guerra Mundial”, escrevia em Abril o Apostrophe, antecipando o que aconteceria depois de ataques iranianos a Israel.

As consequências militares e políticas desse eventual ataque estarão directamente relacionadas com a intensidade da resposta de Washington, do tipo de apoio dado a Israel – os EUA entrariam em cena e a escala seria outra.

Síria

Na semana do cessar-fogo no Líbano, a Síria aparece nas notícias um pouco por todo o mundo.

A Rússia apareceu, surpreendeu, e começou a bombardear Alepo, a segunda maior cidade da Síria. É uma forma de ajudar o Governo local a combater os rebeldes que conseguiram controlar diferentes bairros de Alepo. Mesmo assim, são os rebeldes que estão a controlar a maioria da cidade, incluindo o aeroporto.

Também neste sábado, a Casa Branca associou esta ofensiva de rebeldes à dependência do regime sírio de Bashar al-Assad da Rússia e do Irão.

“A recusa persistente do regime de Assad em se envolver no processo político e a sua dependência da Rússia e do Irão criaram as condições para os acontecimentos actuais, incluindo o colapso das linhas controladas pelo regime de Assad no noroeste da Síria”, justificou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Sean Savett.

Aqui entra a primeira ligação entre dois conflitos – mas não é a única. A Síria faz fronteira com o Líbano. E, três dias depois do cessar-fogo, Israel atacou o Hezbollah, alegando que só atingiu alvos que estavam a ser usados pelo Hezbollah para transportar armas da Síria para o Líbano. Era uma violação do cessar-fogo, justificam os israelitas.

Rússia-Ucrânia

Não há como esconder: os receios de III Guerra Mundial multiplicaram-se desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, há quase três anos. Naquela altura, Vladimir Putin terá pensado que chegava a Kiev em poucos dias, ou em poucas semanas, e controlava o país vizinho.

Não foi isso que aconteceu. Os ucranianos resistem mais do que o Kremlin queria e, com o passar do tempo, países ocidentais passaram a estar mais envolvidos. Sobretudo os EUA. Não cediam tanques, depois cederam; o mesmo com os caças F-16; e mais recentemente Joe Biden autorizou primeira vez Ucrânia a atacar a Rússia com mísseis de longo alcance.

Perante um, e mais um, e mais outro momento de envolvimento ocidental, Vladimir Putin foi deixando uma, e mais uma, e mais outra ameaça: quem ajudar a Ucrânia também será atacado.

E há poucos dias o presidente da Rússia assinou um decreto que alarga a possibilidade de utilização de armas nucleares.

Muitos especialistas e políticos – incluindo o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel – asseguram que Putin não vai usar armas nucleares. Mas, na véspera de 24 de Fevereiro de 2022, muitos especialistas e políticos asseguravam que a Rússia não ia invadir a Ucrânia. A escala é outra, mas…

Europa

Também muito recentemente, a Rússia passou a ter a ajuda de milhares de soldados da Coreia do Norte, que vão ajudar nas batalhas na Ucrânia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi rápida a reagir: “É uma escalada significativa e uma ameaça muito séria à segurança da Europa e à paz no mundo”.

Não foi só von der Leyen a reagir dessa forma, nos últimos tempos.

Ainda no início deste ano, foi revelado um plano secreto da Alemanha, que prevê a possibilidade de a III Guerra Mundial começar em 2025, com um ataque da Rússia à NATO.

No Reino Unido, o líder do exército, Patrick Sanders, avisou que as autoridades do seu país devem “mobilizar a nação” para esta se preparar para uma guerra com a Rússia.

Nas últimas semanas, Suécia, Finlândia e Noruega começaram a distribuir panfletos à população sobre como reagir, como sobreviver, “se a crise ou a guerra vier”.

Há poucos dias soube-se que a Alemanha está a elaborar um novo plano de bunkers; as autoridades vão analisar estações de metro e comboio, parques de estacionamento e outros edifícios públicos e privados, que podem ser utilizados como abrigos.

Ainda na Alemanha, o ministro da Defesa não evitou o aviso: a guerra na Ucrânia já não é um conflito regional, local. “No seu discurso no final de Outubro, Putin falou de uma ‘luta séria e irreconciliável por uma nova ordem mundial’”, recordou Boris Pistorius, que acha que a Alemanha deve “acelerar e investir mais nas suas capacidades militares”.

Já neste sábado, o alto representante da União Europeia para a política externa, Josep Borrell (de saída do cargo), reforçou que “a Europa está em perigo e deve aprender a falar a linguagem do poder”.

“Guerra secreta”

Queda de avião na Lituânia; pacote suspeito e ameaças de bomba em Londres, incluindo na embaixada dos EUA; drones sobre as bases dos EUA também no Reino Unido; grande explosão numa área industrial do País de Gales.

Corte de cabos de telecomunicações submarinos no mar Báltico; aparentes interferências nas viagens de comboio na Chéquia (que já mataram passageiros); ou as ofensivas que atingem satélites europeus e alteram programações de canais de televisão.

Todos estes incidentes/ataques (e ainda outros) aconteceram na Europa, ao longo dos últimos meses. Todos parecem isolados e sem relevância a nível global. Mas talvez estejam ligados, com a Rússia por detrás.

O The Telegraph juntou estes eventos – e vários outros, sendo que alguns estão fora do conhecimento público – no seu mapa e deixou o aviso: a Rússia entrou numa “guerra secreta” com o Ocidente.

Será uma escalada de actos de sabotagem russos na Europa (e não só). A ideia do Kremlin será semear o maior sentimento de instabilidade na Europa desde o fim da Guerra Fria.

Da Alemanha já chegou o aviso: a NATO poderá evocar legítima defesa para responder a estas “medidas híbridas” da Rússia. Não explicam como.

Na véspera, Richard Moore, chefe dos serviços secretos do Reino Unido, falou sobre uma rede de sabotagem “incrivelmente irresponsável” da Rússia para criar o “caos” na Europa.

“A nossa segurança — britânica, francesa, europeia e transatlântica — está em risco”, reforçou o responsável do MI6.

Países envolvidos

Ou seja, no início, supostamente só estariam quatro países/territórios envolvidos nos conflitos mais mediáticos: Rússia, Ucrânia, Israel e Palestina.

Agora, se fizer a contagem nos parágrafos anteriores, já mencionámos 19 países. Uns com envolvimento directo em conflitos, outros a prevenirem-se e a mencionarem já uma guerra global.

E ainda há mais: China-Taiwan. A Bloomberg, que também avisa que não é nula a probabilidade de começar uma III Guerra Mundial, acrescenta o contexto muito delicado naquela região asiática, onde ainda recentemente a China simulou um “cenário de guerra” que deixou Taiwan “totalmente isolada do mundo exterior”.

“Espero sinceramente que nenhum destes cenários negros se concretize”, confessa Niall Ferguson na Bloomberg.

Palcos

O Instituto Americano para o Estudo da Guerra já sugeriu que as tácticas de ataque do Irão têm semelhanças com as operações russas na Ucrânia.

E não é de estranhar. Tal como noutros tempos – basta lembrar a II Guerra Mundial – há blocos de aliados. Se França, Inglaterra, EUA ou URSS combatiam Alemanha, Itália e Japão, agora a NATO junta de um lado 32 países, enquanto do outro lado a Rússia tem Irão, Coreia do Norte e China como aliados.

Lembramos que Rússia, Coreia do Norte e China têm armas nucleares; tal como EUA, Reino Unido ou França.

E, tal como na II Guerra Mundial, que se espalhou por vários continentes, agora também há diversos focos espalhados pelo globo.

Só esperamos que o puzzle não fique completo, que as peças não se encaixem.

Embora o antigo comandante ucraniano, Valery Zaluzhny, já tenha dito: “Em 2024, já podemos absolutamente acreditar que a III Guerra Mundial começou“, misturando no mesmo discurso Ucrânia, Rússia, Coreia do Norte e Irão.

É provável que alguns leitores comentem que já ouviram há meses (ou anos) outros avisos semelhantes, à volta do “vem aí a III Guerra Mundial”. Mas o contexto não era este, as movimentações não eram estas e as declarações de altos responsáveis não eram estas.

Mas Vladimir Putin – e para tentar tranquilizar quem estiver mais assustado – já explicou há uns anos que a III Guerra Mundial não começou porque “o medo do extermínio mútuo sempre conteve os actores internacionais” e “travou as principais potências militares na hora de levar a cabo movimentos bruscos”. As principais potências nucleares sempre revelaram “respeito mútuo” por temerem que uma III Guerra Mundial “pode ser o fim da civilização“, comentou o presidente da Rússia.

Que tipo de guerra?

Regressando ao foco da Ucrânia, Há quem defenda que a guerra está quase a acabar, com a vitória da Rússia. E, nesse cenário, Putin vai ficar-se pela Ucrânia?

Depois (e agora sim, fechamos com suposições), fica a pergunta: que tipo de guerra teríamos?

Há especialistas que defendem que não seria propriamente uma guerra no terreno, com milhares e milhares de soldados, mas sim uma guerra cibernética, focada na tecnologia, no ciberespaço. Mas também há quem defenda que seria baseada em armas nucleares.

O mundo, sobretudo a Europa, está em alerta. Não em pânico, mas em alerta evidente.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

5 Comments

  1. A foto da reportagem provoca ânsia de vômitos pelo destaque das duas figuras nefastas: Natandiabo e putinho. O Universo podia aproveitar os 2 juntos e lançar um raio que partisse os dois vermes e os exterminasse da face da Terra.

  2. A foto da reportagem provoca ânsia de vômitos pelo destaque das duas figuras nefastas: Natandiabo e putinho. O Universo podia aproveitar os 2 juntos e lançar um raio que partisse os dois vermes e os exterminasse da face da Terra.

  3. “Também muito recentemente, a Rússia passou a ter a ajuda de milhares de soldados da Coreia do Norte, que vão ajudar nas batalhas na Ucrânia.”

    O que é assustador é que haja cabeças capazes de dizer disparates destes. Pior que a maior das invasões dos mongóis, é a invasão da estupidez…

  4. Netanyahu está-se nas tintas para o “cessar-fogo”. Tal como aconteceu no passado, ele vai inventar motivos para quebrar o cessar-fogo logo que possível. Esse canalha está apostado na guerra total e em aniquilar os palestinos e, a breve trecho, também o Irão.

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