Zelenskyy vai estar com Putin, cessar-fogo “desnecessário”. O que se passou no encontro Trump-Zelenskyy

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PRESIDENTIAL PRESS SERVICE ; HANDOUT/EPA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (à direita), reunido com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy (à esquerda), no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, DC, EUA, 18 de agosto de 2025.

Putin e Zelenskyy vão encontrar-se nas próximas duas semanas, cara a cara, e “se tudo correr bem” vão reunir os dois com Trump. Não se saiu de Washington com nada definido sobre garantias de segurança, mas Zelenskyy deu um prazo aos aliados.

Novo outfit, novo tom, nova tática de Volodymyr Zelenskyy. Sorridente e calmo, o presidente ucraniano despiu o estilo militar e vestiu de preto, discreto e minimalista, para visitar Donald Trump esta segunda-feira, pondo para trás das costas o “ralhete” que levou da última vez que tinha estado na Sala Oval da Casa Branca para conquistar o apoio de Donald Trump — crítico da vestimenta simbólica do homólogo ucraniano.

“Vou usar um fato depois de esta guerra acabar”, disse Zelenskyy, recorde-se, em inglês, em março, antes da discussão aquecer (e muito) na Sala Oval.

Meses passaram-se e, após uma cimeira no Alasca na sexta-feira com Putin não ter produzido nenhum anúncio relacionado com um acordo para a guerra em curso, ficou definido esta segunda-feira que Putin e Zelenskyy vão encontrar-se nas próximas duas semanas, cara a cara, com data e local ainda por definir, antes de uma reunião a três, isto é, dos dois líderes com o presidente dos EUA.

O chanceler alemão confirmou que o Presidente russo aceitou, em conversa telefónica com o Presidente dos EUA, reunir-se com o homólogo ucraniano, nas próximas duas semanas.

“Se tudo correr bem” na primeira reunião Putin-Zelensky, haverá uma outra, trilateral, com Trump, garantiu o Presidente finlandês, Alexander Stubb, que também esteve na reunião desta segunda-feira, mas que admitiu: “tratando-se de Putin”, o resultado da primeira reunião é “um grande se”.

A reunião foi “produtiva“, disse Zelenskyy. “Estamos prontos para uma reunião bilateral e depois, pode ser trilateral. Estamos prontos para qualquer tipo de formato, mas ao nível dos líderes”, sublinhou o líder ucraniano.

A certo ponto, na Casa Branca, Trump foi “apanhado” por um microfone, que achava estar desligado quando confessou aos líderes europeus: “Eu acho que ele quer fazer um acordo para mim. Por mais maluco que isto pareça”.

Mais tarde, Trump confirmou nas redes sociais que a reunião bilateral, seguida da trilateral, vão acontecer.

Trump interrompeu a reunião com os líderes europeus para falar com Putin e combinar a reunião, confirmou o chanceler alemão.

Quem vai garantir a segurança da Ucrânia

As garantias de segurança da Ucrânia num cenário pós-guerra foram o principal ponto de discussão na reunião desta segunda-feira. Zelenskyy disse que os aliados ocidentais vão formalizar essas garantias “dentro de uma semana a dez dias”, mas não há detalhes sobre a participação dos Estados Unidos nesse processo.

O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, afirmou no entanto que os Estados Unidos também se envolverão num esforço de cerca de 30 países para garantir a segurança da Ucrânia no quadro de um acordo de paz com a Rússia.

O responsável holandês, ressalvou, porém, que na reunião esta segunda-feira na Casa Branca não foi acordado o envio de tropas para o terreno nem foi concretizado o papel dos Estados Unidos. Isso “não se discutiu de forma alguma”, garantiu.

Após o encontro, Rutte declarou à Fox News que a Administração norte-americana “quer estar envolvida” num esforço internacional para garantir a segurança da Ucrânia, liderado pelo Reino Unido e pela França e que inclui nações como o Japão e a Austrália.

“Desempenhamos o nosso papel de forma adequada”, disse o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, “tendo em conta o que podemos e devemos fazer dentro do nosso quadro legal e das nossas capacidades”, afirmou: “Neste momento, não podemos dizer especificamente o que vamos fazer”. A atual Constituição japonesa, que entrou em vigor em 1947 durante o período de ocupação norte-americana após a Segunda Guerra Mundial, só permite o uso da força em defesa própria, o que limita as ações do país no exterior.

Rutte esclareceu ainda que o envolvimento não contempla a adesão da Ucrânia à NATO, mas sim “garantias de segurança do tipo do Artigo 5.º” — a regra que estipula que uma agressão armada contra um membro da organização atlântica é um ataque contra todos os seus membros.

“O que os Estados Unidos disseram agora é que querem estar envolvidos nisto. O que significará exatamente essa participação? Isso será discutido nos próximos dias”, disse o líder da Aliança Atlântica.

Segundo Donald Trump, Vladimir Putin estará disposto a aceitar tais garantias de segurança. “O Presidente Putin concorda que a Rússia deve aceitar garantias de segurança para a Ucrânia e esse é um dos pontos centrais que devemos ter em conta, e vamos tê-lo em conta nesta mesa”, declarou Donald Trump no início da reunião.

No entanto, a Rússia voltou a rejeitar a presença de forças da NATO na Ucrânia após um eventual cessar-fogo, afirmou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova.

“Confirmamos a nossa rejeição categórica a qualquer cenário que preveja a presença de um contingente militar da NATO na Ucrânia, o que implica uma escalada incontrolável do conflito com consequências imprevisíveis”, disse Zakharova, num comunicado publicado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

Zelenskyy “pronto” para Putin dá 10 dias aos aliados

O Presidente ucraniano, por sua vez, anunciou que os seus aliados ocidentais vão formalizar “dentro de uma semana a dez dias” as garantias de segurança para a Ucrânia, para impedir qualquer novo ataque russo ao país.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que uma das garantias de segurança para a Ucrânia, a acompanhar qualquer acordo de paz com a Rússia, deverá ser um exército ucraniano suficientemente “robusto, capaz de resistir a qualquer tentativa de ataque e dissuadi-lo, e, portanto, sem limitações em número, capacidade ou armamento”.

Zelenskyy disse que está “pronto” para uma reunião bilateral com Putin para pôr fim à invasão russa do seu país. “E, depois disso, esperamos uma reunião trilateral” com Trump, disse à imprensa.

A questão de eventuais concessões territoriais exigidas pela Rússia à Ucrânia — um tema que ficou de fora da Casa Branca esta segunda-feira — “é uma questão que deixaremos entre mim e Putin“, acrescentou o líder ucraniano.

Cessar-fogo é necessário?

“A exigência russa de que Kiev ceda as partes livres do Donbass corresponde, francamente, a uma proposta de que os Estados Unidos cedam a Florida”, disse Friedich Merz aos jornalistas. “É necessário haver um cessar-fogo antes de novas negociações”, afirmou o chanceler alemão, contrariando o que Trump tinha dito antes de que “é desnecessário um cessar-fogo” prévio para negociar o fim ao conflito na Ucrânia.

“Sei que isso poderia ser uma coisa boa, mas também entendo por que, estrategicamente, um país ou outro não o quereria”, afirmou Donald Trump.

A Comissão Europeia apresenta como condição para a paz o regresso de “todas as crianças ucranianas” a casa, referindo-se aos menores deportados e separados das famílias nas zonas ocupadas por Moscovo na Ucrânia.

A Ucrânia reclama a devolução de cerca de 20 mil menores retirados à força das suas terras pela Rússia, um tema sensível para Kiev e que levou o Tribunal Penal Internacional a emitir em março de 2023 mandados de captura contra o líder do Kremlin, Vladimir Putin, e a comissária russa para os direitos da criança, Maria Lvova-Belova.

Tomás Guimarães // Lusa

3 Comments

  1. Quando a Rússia diz que não admite tropas da NATO na Ucrânia quer dizer exactamente o quê? Apenas que não admite tropas em nome da NATO ou de qualquer país membro desta organização, por exemplo a Turquia?

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