O aye-aye, o sifaka-sedoso e o sapo tomate nasceram graças ao isolamento e condições especiais da ilha africana. Mas a vida selvagem tão especial de Madagáscar enfrenta um futuro repleto de incertezas.
Os animais mais estranhos e invulgares do planeta estão numa ilha, ao largo da costa leste de África. Em 1314 espécies de vertebrados terrestres e de água doce nativos do Madagáscar, até 90% não existem em nenhum outro lugar na Terra.
Todos os mamíferos terrestres (excluindo os morcegos) e anfíbios são exclusivos da ilha, bem como 56% das aves, 81% dos peixes de água doce, 95% dos mamíferos e 98% dos répteis.
Mas a que se devem esta diversidade e exclusividade únicas?
Deve-se, em grande parte, ao longo isolamento da ilha. Antigamente parte do supercontinente Gondwana, Madagáscar separou-se de África há cerca de 160 milhões de anos e afastou-se depois do subcontinente indiano há entre 90 e 66 milhões de anos.
Desde então, manteve-se isolada pelo Canal de Moçambique e tornou-se num laboratório evolutivo, onde as espécies são moldadas por ambientes e pressões muito particulares.
Entre as criaturas malgaxes mais fascinantes está o que vemos na imagem acima, o fossa, um mamífero predador que se assemelha a um pequeno puma, mas que está mais próximo do mangusto e da civeta.Come, maioritariamente… lémures.
O inquietante aye-aye, o maior primata noturno do mundo, usa o seu dedo alongado para bater nos troncos em busca de insetos. Só o encontramos no Madagáscar. O raro sifaka-sedoso, lémure branco como a neve, é um dos mamíferos mais raros do mundo e está entre os 25 primatas mais ameaçados do planeta.
O lémure-de-cauda-anelada, muito famoso graças à saga de filmes de animação Madagascar,é o maior vislumbre de como a ilha é um lugar muito especial para a vida animal.
Mas não são só os mamíferos que são especiais. Répteis e insetos não ficam atrás na ilha, que conta com espécies como a osga-satânica-cauda-de-folha ou a Mariposa-lua-de-Madagáscar, ou o sapo tomate.
Historicamente, a ilha também acolheu gigantes como a ave-elefante, uma das vítimas da extinção. E hoje, a herança de fragilidade ainda vive na ilha.
Um estudo publicado em julho deste ano, citado pelo IFL Science, identificou Madagáscar como o país com o maior número de espécies em perigo crítico de extinção — 670, no total, dos quais 98,7% não existem em mais lado nenhum.
O isolamento que tornou Madagáscar neste lar único dita agora o fim eterno para muitas das espécies que só existem por aqui se terem desenvolvido.
E claro, a ocupação humana, a desflorestação, a atividade industrial, as espécies invasoras, os conflitos, as doenças e as alterações climáticas intensificam as pressões sobre ecossistemas moldados ao longo de milhões de anos.