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Os dejetos de 1,5 milhões de catalães alimentaram linha Bus de Barcelona durante 5 anos

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Life Nimbus

O projeto europeu Life Nimbus produziu biometano a partir de lamas de esgoto para abastecer autocarros

Investigadores da Veolia, empresa responsável pela distribuição de água em Barcelona, trabalharam na recuperação de lamas de esgoto para produzir biometano, um combustível sustentável que emite menos 80% de CO2 do que o gás natural.  E nada é tão renovável como os resíduos humanos…

Inodoro, silencioso, sustentável. No último dia de julho, os passageiros entraram na linha de autocarros V3 de Barcelona sem saber de onde vinha o combustível.

Escrito em letras grandes na fachada do autocarro, logo abaixo do nome “Nimbus”, uma placa dizia claramente: “Este autocarro funciona com biometano produzido a partir de lamas de ecofábrica“.

Ainda assim, a explicação era provavelmente demasiado vaga para que a maioria compreendesse o seu significado completo: os dejetos humanos de mais de 1,5 milhões de residentes da cidade catalã.

Acho que é uma ideia fantástica. Já aproveitámos os dejetos animais, então porque não os nossos?”, diz Rosa Maria Gay, uma reformada de 68 anos, quando lhe explicaram o sistema de combustível do autocarro, citada pelo Le Monde.

“Nunca tinha ouvido falar disto antes – é uma ótima ideia. Se os nossos excrementos servem para alguma coisa, melhor ainda!”, acrescentou a rir a rececionista Leire Muños, de 32 anos.

Pensei que fosse um autocarro elétrico; desde que seja de energia renovável e não cheire mal, acho que é ótimo”, nota Alessandra Spano,  estudante de informática de 18 anos, com os olhos arregalados e a sorrir.

Durante cinco anos, investigadores da empresa de distribuição de água da cidade (Veolia) trabalharam em parceria com a empresa de transportes públicos de Barcelona (TMB) e a Universidade Autónoma de Barcelona para alimentar os transportes públicos com biometano proveniente de lamas humanas.

O ensaio não produziu qualquer odor desagradável e emitiu muito menos emissões do que o combustível tradicional, conta o Tech Spot.

Os investigadores utilizaram a estação de tratamento do Baix Llobregat, uma das maiores instalações industriais de purificação de água da Europa, para desenvolver um combustível renovável que emite 80 % menos dióxido de carbono do que o gás natural.

A instalação está concebida para processar cerca de 400 000 m3 de águas residuais por dia, sendo 95 % da água “regenerada” e reutilizada na irrigação agrícola e urbana, recarga de águas subterrâneas e outras aplicações. Pode mesmo ser utilizada para produzir água potável durante secas extremas.

A parte sólida dos resíduos humanos é habitualmente transformada em material seco para uso agrícola, com a central a gerar cerca de 250 toneladas desta substância todos os dias.

No entanto, o projeto de Barcelona — conhecido como “Nimbus” — converteu 4 m3 de lamas por hora em dezenas de quilos de biometano, o suficiente para alimentar diariamente a linha V3 durante 100 quilómetros.

O biometano é um combustível renovável obtido ao refinar biogás até alcançar uma concentração mínima de 90% de metano.

Ao remover o CO2 e outras impurezas, o gás obtido torna-se suficientemente puro para ser injetado diretamente nas redes de distribuição ou utilizado em veículos com motores a gás natural. De acordo com os investigadores espanhóis, o biogás proveniente de lamas de esgoto contém cerca de 65% de metano e 35% de dióxido de carbono.

O processo da Veolia para produzir biometano, porém, não passa apenas pela separação dos dois gases.

Os investigadores combinam o CO2 com hidrogénio — proveniente da água da própria estação e de fontes renováveis — para transformar “quase” todo o biogás em biometano.

O combustível não liberta mais dióxido de carbono do que aquele que armazena, embora ainda se formem pequenas quantidades de óxidos de azoto e partículas finas. Ainda assim, o biometano usado na linha V3 cumpre as normas Euro VI de emissões impostas pela União Europeia.

O projeto Nimbus tem como objetivo responder às necessidades de transporte nas zonas periféricas de Barcelona, onde os autocarros elétricos ainda não são suficientemente eficazes devido à menor capacidade de passageiros e à autonomia limitada.

Depois de cinco anos de funcionamento bem-sucedido, a experiência do Nimbus vai agora “alimentar” um novo projeto denominado SEMPRE-BIO.

O objetivo é que estes projetos-piloto possam crescer até se tornarem iniciativas industriais em larga escala para o transporte público com base em fontes verdadeiramente renováveis.

E nada é tão renovável como os resíduos humanos.

ZAP //

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