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Reconstrução 3D do Paranthropus boisei, feita por Moacir Elias Santos e ilustrada por Cícero Moraes.
Há 3 milhões de anos, antes de o género Homo aparecer, descendentes do Australopithecus transportaram pedras a 13 km de distância para fabricar ferramentas.
Os primeiros a fabricar e utilizar ferramentas de pedra terão planeado previamente a construção, muito mais cedo do que se pensava até agora, ao recolher matérias primas em locais a quilómetros de distância.
Um novo estudo publicado a 15 de agosto na Science Advances antecipa em cerca de 600 mil anos a capacidade de mapear mentalmente o território e gerir recursos de forma estratégica, segundo o IFL Science.
A investigação decorreu no sítio arqueológico de Nyayanga, no Quénia, onde foram analisados geoquimicamente 401 artefactos líticos pertencentes ao chamado “conjunto Oldowan”, a tradição mais antiga de fabrico de utensílios humanos.
Os resultados revelaram que as pedras usadas provinham de locais situados até 13 quilómetros de distância, significativamente superiores à qualidade das rochas disponíveis no próprio local.
“Não ligamos os artefactos a fontes definitivas e específicas, por isso não temos uma distância exata calculada”, explicou a autora do estudo, Emma Finestone, “mas mais de 10 quilómetros é a forma conservadora de o dizer, e 13 quilómetros é mais realista, tendo em conta o que mostra a nossa disponibilidade de matéria-prima”.
A equipa estima que os artefactos tenham entre 2,6 milhões e 3 milhões de anos, uma cronologia especialmente relevante, uma vez que poderá anteceder o aparecimento do género Homo, até agora associado ao desenvolvimento destas capacidades cognitivas.
Em trabalhos anteriores, os mesmos investigadores já tinham apontado para uma idade mais próxima dos 3 milhões de anos, o que reforça a hipótese de que a utilização planeada de ferramentas não era exclusiva dos primeiros representantes do nosso próprio género.
Os autores especulam ainda que a presença de fósseis do género Paranthropus em Nyayanga, linhagem anterior ao Homo que também evoluiu do Australopithecus, pode ter sido responsável pela criação e utilização das ferramentas encontradas.
“O facto de termos Paranthropus e não o género Homo em Nyayanga sugere a possibilidade de que Paranthropus possa ter sido o fabricante de ferramentas do conjunto Nyayanga”, admite a autora.
“Não me surpreenderia se o Paranthropus fosse capaz de o fazer, mas, até à data, não há forma de saber definitivamente que espécie de hominídeo estava a fabricar as ferramentas de Nyayanga e a trazer as pedras de 10 a 13 quilómetros de distância”, sublinha.