ZAP // Robert Ghement / EPA; vverve / Depositphotos; The Times & Sunday Times

Esforços e mais esforços, reuniões inéditas — mas nenhum dos lados cede. A guerra europeia mais sangrenta desde a 2.ª Mundial vai fazer quatro anos e ainda tem vários pontos de discórdia nas trincheiras.
Ao que tudo indica, Volodymyr Zelenskyy e Vladimir Putin vão estar juntos pela primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia, há três anos e meio. Esquecendo a paz em si, este é, para muitos, o maior passo possível nas conversações pelo fim da guerra. No entanto, o conflito europeu mais sangrento na Europa desde a Segunda Guerra Mundial não parece ter um fim próximo à vista.
As duas partes continuam muito longe de um acordo e quem está a mediar e a acompanhar de perto as negociações não está necessariamente confiante, mesmo depois da reunião Putin-Trump no Alasca e Trump-Zelenskyy na Casa Branca este mês.
Um dia depois do encontro entre os presidentes ucraniano e norte-americano na Sala Oval, o Kremlin desvalorizou a cimeira anunciada entre Putin e Zelenskyy; também os líderes europeus não “deitaram foguetes”: o resultado da reunião é “um grande se, tratando-se de Putin”, desabafou o Presidente finlandês. Mais ao menos ao mesmo tempo, Donald Trump contrariava-se: se na Casa Branca “sussurrou” ao presidente francês Emmanuel Macron que acha que “Putin fará um acordo” por si, disse horas depois que “é possível” que o presidente russo não queira um acordo para o conflito que acha “difícil” de resolver.
Entre muitas palavras vagas, Trump poucos avanços anunciou após o encontro de 3 horas com Putin; esta segunda-feira, do ponto principal da esperada reunião com Zelenskyy — as garantias de segurança da Ucrânia num cenário pós-guerra — pouco ou nada se espremeu além da vontade da União Europeia e (possivelmente) dos EUA.
Assim, os principais pontos de discórdia permanecem por resolver.
1. Território e saída de Zelenskyy
A Ucrânia exige um cessar-fogo estável antes de sequer considerar discussões sobre território.
A Rússia controla atualmente cerca de um quinto do território ucraniano e exige o reconhecimento internacional da anexação de cinco regiões da Ucrânia — Crimeia, Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporíjia. O Kremlin tem sublinhado que não devolverá nenhuma área conquistada: para um eventual acordo, exige a incorporação formal desses territórios na Federação Russa.
Trump já garantiu: “haverá troca de territórios” e a Crimeia nunca voltará para as mãos de Kiev.
Além da saída de Zelenskyy do poder, Moscovo exige ainda a desmilitarização da Ucrânia, com limites à dimensão das forças armadas e às características do seu armamento. Também tem exigido constantemente a proibição de posse e/ou aquisição de armas nucleares.
Já a Ucrânia de Zelenskyy tem rebatido que a integridade territorial é inegociável. “Os ucranianos não vão abandonar a sua terra aos ocupantes”, tem dito o presidente ucraniano.
Zelenskyy só aceita discutir questões de soberania num formato trilateral — entre Ucrânia, Estados Unidos e Rússia, uma reunião também anunciada esta semana que deverá acontecer após o encontro entre Putin e Zelenskyy.
2. Garantias de segurança
A possível adesão da Ucrânia à NATO é outra linha vermelha para Putin, desde sempre. O Kremlin exige que Kiev se comprometa a permanecer neutra.
Zelenskyy contraria Putin e insiste que a integração futura na NATO é a mais forte garantia de segurança para o país. Pensa o mesmo sobre uma eventual adesão à UE.
Aqui, mais uma vez, Trump deu murro na mesa: Ucrânia não irá aderir à NATO. Já sobre a adesão à UE, a pedido da Europa, ligou esta segunda-feira ao presidente húngaro, Viktor Orbán — que tem bloqueado a ajuda à Ucrânia e apoiado diplomaticamente a Rússia — para lhe perguntar porque continua a bloquear as negociações de adesão da Ucrânia à União Europeia, segundo fontes próximas dos contactos citadas pela Bloomberg.
Washington tem sinalizado disponibilidade para oferecer garantias de defesa bilaterais, semelhantes às previstas no artigo 5.º do tratado da Aliança Atlântica, mas sem enquadramento formal na NATO, mas voltou a descartar, esta terça-feira, o envio de tropas norte-americanas para a Ucrânia como garantia de paz.
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, afirmou no entanto que os Estados Unidos também se envolverão num esforço de cerca de 30 países para garantir a segurança da Ucrânia no quadro de um acordo de paz com a Rússia.
Putin, segundo enviados norte-americanos, estará disposto a aceitar garantias de segurança, confirmou também Trump esta segunda-feira. Mas não se sabe que tipo de compromissos estaria disposto a assumir.
O Kremlin rejeita a presença de forças de manutenção de paz estrangeiras em território ucraniano, sobretudo de países da NATO, e defende a proibição de qualquer atividade militar de terceiros em solo ucraniano. Voltou a sublinhá-lo esta semana: “confirmamos a nossa rejeição categórica a qualquer cenário que preveja a presença de um contingente militar da NATO na Ucrânia” disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A criação de um tribunal especial para investigar crimes russos também faz parte das exigências ucranianas.
3. Sanções
As sanções impostas por Washington e pelos aliados europeus têm vindo a fragilizar a economia russa. Trump sinalizou abertura para negociar o levantamento parcial destas restrições como parte de um eventual acordo.
Moscovo insiste que todas as sanções são “ilegais” e devem ser levantadas. Mas um alívio, no mínimo, é bem vindo, com vista o enfraquecimento da frente unida do Ocidente, dizem analistas ao Washington Post.
Entre as prioridades russas estão o regresso ao sistema financeiro internacional e a liberalização da venda de petróleo e gás. Mas um dos pontos mais sensíveis prende-se com os mais de 300 mil milhões de dólares em ativos do Banco Central da Rússia, congelados no Ocidente. A Ucrânia não só exige que os ativos não voltem para os bolsos da Rússia, como exige que a Rússia pague indemnizações substanciais pelo custo da guerra.
A União Europeia decidiu usar os juros gerados por esses ativos para financiar a reconstrução da Ucrânia, uma medida que Putin classificou como “roubo descarado”. Paris sugeriu que os fundos servissem como garantia num eventual acordo de cessar-fogo, podendo ser confiscados em caso de incumprimento por parte de Moscovo.
No memorando apresentado em junho, a Rússia exigiu ainda a restauração gradual das relações diplomáticas e económicas com terceiros países, bem como a suspensão das sanções bilaterais entre Moscovo e Kiev.
4. Regresso de crianças e militares
Outro ponto prioritário para Kiev é o regresso das milhares de crianças deportadas para território russo desde o início da invasão.
A exigência essencial ucraniana foi reforçada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, esta segunda-feira, na reunião na Casa Branca.
A Ucrânia reclama a devolução de cerca de 20 mil menores retirados à força das suas terras pela Rússia, um tema sensível para Kiev e que levou o Tribunal Penal Internacional a emitir, em março de 2023, mandados de captura contra Putin e contra a comissária russa para os direitos da criança, Maria Lvova-Belova.
O governo ucraniano procura igualmente garantir a libertação de soldados e civis detidos, incluindo jornalistas. Em maio, os dois países realizaram uma troca de centenas de prisioneiros, mas milhares permanecem em cativeiro.
Guerra na Ucrânia
-
20 Agosto, 2025 Tudo o que Ucrânia e Rússia exigem para pôr fim à guerra
Porque não deixar as regiões ocupadas pelos Ruzzos entregues à ONU por 2 ou 3 décadas, ao fim das quais os seus habitantes escolheriam a nacionalidade? Com tropas não da NATO mas de várias partes do Mundo? Porque não há-de a Ucrânia firmar tratados de defesa mútuos com vários países amigos e/ou vizinhos, sem aderir oficialmente à NATO? As exigências de Zelenskyy são justas, mas impossíveis de realizar na totalidade. Já as de Putin, são colonialistas/imperialistas e de curto prazo (pois a sua ambição é muito mais abrangente).