Reuters revela o que Putin exige para acabar a guerra: Dombass, NATO, tropas ocidentais

Viacheslav Prokofyev / Sputnik / Kremlin / EPA

O presidente da Rússia, Vladimir Putin

Vladimir Putin exige que a Ucrânia abandone toda a região oriental do Donbass, renuncie às ambições de aderir à NATO, permaneça neutra, e mantenha as tropas ocidentais fora do país, disseram à Reuters três fontes familiarizadas com o que pensa a hierarquia do Kremlin.

Com base num relato detalhado de fontes russas sobre a oferta que Vladimir Putin fez a Donald Trump na recente cimeira do Alasca, a agência Reuters conseguiu delinear os contornos do que o Kremlin gostaria de ver num possível acordo de paz para acabar com uma guerra que matou e feriu centenas de milhares de pessoas.

Essencialmente, disseram à Reuters três fontes russas, o presidente da Rússia fez concessões nas exigências territoriais que tinha apresentado em junho de 2024, que implicavam que Kiev cedesse a totalidade das quatro províncias que Moscovo reivindica como parte da Rússia: Donetsk e Luhansk, na Ucrânia oriental (que constituem o Donbas), mais Kherson e Zaporizhzhia, no sul.

Kiev rejeitou na altura estes termos, que considerou equivalentes a uma rendição.

Na sua nova proposta, o presidente russo manteve a sua exigência de que a Ucrânia se retire completamente das partes do Donbas que ainda controla. Em troca, porém, Moscovo cessaria hostilidades nas atuais linhas da frente em Zaporizhzhia e Kherson, acrescentaram as três fontes russas ouvidas pela Reuters.

Segundo estimativas norte-americanas e dados públicos, Rússia controla atualmente cerca de 88 % do Donbas e 73 % de Zaporizhzhia e Kherson.

Institute for the Study of War

Regiões da Ucrânia controladas pela Rússia a 19 de agosto de 2025

Moscovo está também disposta a entregar as pequenas partes que controla nas regiões ucranianas de Kharkiv, Sumy e Dnipropetrovsk, como parte de um possível acordo de paz.

Putin mantém também as suas exigências anteriores de que a Ucrânia abandone as suas ambições na NATO e de que haja um compromisso juridicamente vinculativo da aliança militar liderada pelos EUA de que não se expandirá mais para leste.

O presidente russo exige igualmente limitações ao exército ucraniano e um acordo de que nenhuma tropa ocidental será destacada no terreno na Ucrânia como parte de uma força de manutenção da paz, disseram as fontes.

No entanto, mais de três anos depois de Vladimir Putin ter ordenado às tropas russas que entrassem na Ucrânia, numa invasão em grande escala que se seguiu à anexação da península da Crimeia em 2014, os dois lados permanecem muito afastados — e prosseguem combates no leste do país entre separatistas apoiados pela Rússia e tropas ucranianas.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy rejeitou repetidamente a ideia de se retirar de território ucraniano internacionalmente reconhecido, como parte de um acordo de paz, e sustenta que a região industrial do Donbass é uma praça-forte — que impede os avanços russos mais profundamente na Ucrânia.

“Se estamos a falar de nos retirarmos do leste, não podemos fazer isso“, disse Zelenskiy nesta quinta-feira. “É uma questão da sobrevivência do nosso país“.

Entretanto, aderir à NATO é um objetivo estratégico consagrado na constituição do país, e que Kiev vê como a sua garantia de segurança mais fiável. Zelenskiy mantém que não cabe à Rússia decidir sobre a adesão à aliança.

Segundo o cientista político Samuel Charap, qualquer exigência de retirada do Donbass continua a ser inaceitável para Kiev — tanto política como estrategicamente.

“A abertura à ‘paz’ em termos categoricamente inaceitáveis para o outro lado é presumivelmente mais uma encenação de Trump do que um sinal de verdadeira disposição para compromisso”, diz Charap.

ZAP //

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