É apresentada como uma forma de melhorar o humor, a concentração e a criatividade – mas os desfechos não se têm ficado por aí.
Uma tendência crescente na microdosagem de cogumelos, promovida como forma de melhorar o humor, a concentração e a criatividade, está a ser sinónimo de um aumento acentuado de casos de intoxicação nos Estados Unidos da América (EUA).
As autoridades de saúde alertam que a crescente disponibilidade de produtos comestíveis à base de cogumelos, como gomas e chocolates comercializados como “nootrópicos” ou “smart drugs”, levou a várias hospitalizações devido a ingredientes mal rotulados ou tóxicos.
A microdosagem consiste na ingestão de quantidades muito pequenas de cogumelos psicadélicos, abaixo do limiar que provoca efeitos alucinogénicos.
Embora os cogumelos que têm psilocibina continuem a ser ilegais a nível nacional, o interesse público, a procura, têm aumentado por mudanças locais na legislação e pela investigação científica sobre os seus potenciais benefícios, explica o The Conversation.
Essa procura incentivou empresas a comercializar alternativas legais que têm cogumelos não psicoativos. No entanto, para se diferenciarem, alguns produtores recorreram a espécies mais arriscadas – como os Amanita, aqueles com chapéus vermelhos e pintas brancas (e maior toxicidade).
Ao contrário da psilocibina, considerada segura em doses terapêuticas, os cogumelos Amanita têm compostos como muscarina e ácido iboténico – que podem provocar náuseas, convulsões, problemas cardiovasculares e, em casos graves, hospitalização. Embora também possam induzir experiências psicadélicas, funcionam de forma muito diferente no cérebro e apresentam riscos acrescidos.
A falta de regulamentação nos produtos de cogumelos nootrópicos agrava o perigo. Muitos suplementos apresentam apenas “misturas proprietárias”, sem divulgar os ingredientes exatos, deixando os consumidores sem saber ao certo o que estão a ingerir.
Investigações revelaram produtos que tinham, não apenas compostos tóxicos de cogumelos, mas também aditivos não declarados: cafeína, efedrina e mitraginina, uma substância presente na planta kratom.
Um caso alarmante na Virgínia levou cinco pessoas ao hospital depois de consumirem gomas que tinham compostos derivados de Amanita. Uma análise subsequente de outras marcas revelou a presença de ingredientes não declarados, incluindo psilocibina.
Noutro incidente grave, mais de 180 casos de intoxicação foram reportados em 34 estados em 2023, ligados a produtos comestíveis da marca Diamond Shruumz. Os sintomas incluíram vómitos, convulsões e crises epiléticas; foi aberta uma investigação e os produtos foram retirados em todo o país, no ano passado.
A Food and Drug Administration (FDA) já emitiu um comunicado, no qual avisa que os cogumelos Amanita não são seguros, são aditivos alimentares aprovados. Apesar desse alerta, continuam a ser vendidos online e em lojas físicas.
Para além do problema dos ingredientes ocultos, especialistas destacam outro risco persistente: a identificação incorreta.
Os cogumelos são difíceis de distinguir visualmente, e até analistas experientes cometem erros. Espécies comestíveis e tóxicas podem parecer quase idênticas, mas diferem drasticamente na sua composição química.
Nos EUA, centenas de pessoas dão entrada em serviços de urgência todos os anos após ingerirem acidentalmente cogumelos venenosos.