O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou esta terça-feira o decreto que alarga a possibilidade de utilização de armas nucleares, dois dias depois de os EUA autorizarem a Ucrânia a atacar solo russo com mísseis de longo alcance.
Horas depois de os Estados Unidos terem autorizado Kiev a atacar solo russo com mísseis de longo alcance, a Rússia deixou um aviso aos inimigos: se vir a sua soberania posta em causa, poderá usar armas nucleares.
A assinatura do decreto ocorre quando se assinalam mil dias da ofensiva contra a Ucrânia.
O “documento de planeamento estratégico” inclui a “posição oficial sobre a dissuasão nuclear”, “define os perigos e ameaças militares contra os quais se pode atuar com dissuasão nuclear” e garante uma resposta à “agressão” de “um potencial inimigo”, quer contra a Rússia, quer “contra os seus aliados” – por exemplo, a Bielorrússia.
O decreto, publicado no portal de documentos legais das autoridades russas, visa “melhorar a política estatal no domínio da dissuasão nuclear” e contempla a sua entrada em vigor a partir da mesma assinatura de Vladimir Putin.
Putin já tinha advertido, no final de setembro, que o seu país já poderia usar armas nucleares no caso de um “lançamento massivo” de ataques aéreos contra a Rússia e que qualquer ataque realizado por um país não nuclear – como a Ucrânia – mas apoiado por uma potência com armas atómicas – como os EUA – poderia ser considerado uma agressão “conjunta” – que exige potencialmente o uso de armas nucleares.
Esta ação surge agora noutro contexto, depois de os EUA terem autorizado a Ucrânia a atacar solo russo com os mísseis de longo alcance.
Numa análise à Antena 1, o especialista Tiago André Lopes explica que esta é uma resposta a dois níveis: “É uma resposta aos Estados Unidos; mas é também uma pré-resposta quer à França quer ao Reino Unido, numa altura em que discutem se vão dar o mesmo tipo de permissão à Ucrânia”
“Aquilo que o Kremlin está a tentar fazer é criar um sentimento de que este tipo de ação pode ter uma reação por parte da Rússia mais musculado do que aquela que até agora era legalmente possível”, acrescentou.
O professor de Relações Internacionais da Universidade Lusíada do Porto ajudou ainda a perceber os contornos do documento, esclarecendo que a atual situação não é suficiente para desbloquear o uso de armas nucleares.
“O documento é bastante claro: diz apenas que quando a Rússia sentir a sua soberania está ameaçada – e obviamente que ataques a Kursk não ameaçam a soberania da Rússia – poderá ativar o uso de armas nucleares. Ou seja, a Rússia está a tentar prevenir ataques, por exemplo, contra Moscovo; e contra a ideia de perda de território. É esse tipo de ameaça que poderão levar a uma resposta de cariz nuclear”, explicou.
Passo perigoso dos EUA?
No domingo, o Presidente norte-americano, Joe Biden, autorizou a Ucrânia a atacar o território russo com mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA.
Os mísseis norte-americanos, com um alcance máximo de várias centenas de quilómetros, permitirão à Ucrânia atingir os locais de logística do exército russo e os aeródromos de onde descolam os bombardeiros.
Os mísseis ATACMS fornecidos pelos Estados Unidos deveriam ser inicialmente utilizados na região fronteiriça russa de Kursk, onde soldados norte-coreanos foram destacados para apoiar as tropas russas.
A decisão de Washington de autorizar a Ucrânia a utilizar estes mísseis terá sido, precisamente, uma reação à presença do destacamento de tropas norte-coreanas.
ZAP // Lusa
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