As tropas de elite norte-coreanas recentemente destacadas para a Rússia são, de facto, forças especiais — mas não parecem ser propriamente os seus melhores membros. A dúvida é levantada por um ex-soldado das forças especiais norte-coreanas.
Os desertores norte-coreanos na Coreia do Sul, que seguem de perto os relatos de soldados do Norte que se juntaram às forças russas na Ucrânia, levantaram dúvidas sobre a sua prontidão para o combate.
Ao contrário do que afirmou o líder norte-coreano Kim Jong-un, que garantiu que cada um dos seus tropas vale por 100, funcionários sul-coreanos descreveram as tropas enviadas para a Ucrânia como jovens e inexperientes (ou, mais especificamente, “carne para canhão”).
Lee Woong-gil, que desertou para a Coreia do Sul em 2007 depois de ter servido no “Storm Corps” da Coreia do Norte, disse ao The Korea Times as tropas enviadas para a Rússia “não parecem ser membros de equipas de nível 1”,
Os militares da “Storm Corps” norte-coreana estão habituados a ser “destacados para o estrangeiro em missões altamente perigosas, como o rapto e o assassínio de desertores norte-coreanos, missionários e agentes secretos sul-coreanos”, explica Woong-gil.
As imagens que circulam nas redes sociais russas parecem mostrar soldados norte-coreanos mais baixos e com uma estrutura mais pequena, o que leva a crer que poderão estar subnutridos e vulneráveis a doenças.
Woong-gil recorda que, mesmo durante o período em que serviu no Storm Corps, os soldados sofriam de tuberculose e de subnutrição, apesar de receberem melhores abastecimentos do que outras unidades.
Segundo explica ao The Wall Street Journal o especialista em assuntos militares JB Park, Kim Jong-Un poderá ter enviado inicialmente soldados menos experientes para “testar as águas” na Ucrânia e abrir caminho para os mais experientes.
Depois de uma primeira vaga de 1.500 forças especiais ter sido vista a entrar no leste da Rússia, relatórios de Washington e Kiev estimam que cerca de 11.000 soldados norte-coreanos foram “oferecidos” a Vladimir Putin para ajudar na guerra em curso com a Ucrânia. Entre eles, cerca de 8.000 soldados foram enviados para a região de Kursk, perto da fronteira ucraniana.
A Coreia do Norte planeia enviar até quatro brigadas para a Rússia — cerca de 12.000 tropas de elite no total.
O Ministério da Defesa da Coreia do Sul estima que o Storm Corps seja composto por cerca de 200.000 membros — um número surpreendentemente elevado para uma unidade de forças especiais.
A Ucrânia informou que as tropas norte-coreanas já entraram em combate, incluindo um ataque de artilharia na região de Kursk.
Andrii Kovalenko, chefe do Centro de Combate à Desinformação da Ucrânia, adiantou que se tratou de “um combate normal” e salientou que os soldados norte-coreanos estão a ser treinados para operar drones de ataque e reconhecimento.
Entretanto, uma das primeiras consequências da nova vida na Europa dos soldados norte-coreanos foi terem tido acesso inédito e ilimitado à Internet ocidental. O resultado? Estão a “devorar” pornografia.
O envolvimento direto de Pyongyang na guerra na Ucrânia, em curso desde fevereiro de 2022, suscitou preocupações quanto a uma escalada do conflito à escala global.
Em resposta, a Coreia do Sul está a reconsiderar a sua proibição de exportar armas para a Ucrânia, uma mudança política significativa que poderá também ter impacto na dinâmica da guerra.