EPA/Roman Pilipey

Do “boom” de energia verde à militarização do Ocidente, são várias as consequências para todo o mundo da guerra entre Rússia e Ucrânia.
A guerra na Ucrânia não dá sinais de abrandamento. Apesar dos apelos da Ucrânia e da comunidade internacional, a Rússia não pretende abandonar o território ucraniano tão cedo.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo negou que a Rússia pretenda pôr fim à guerra na Ucrânia a 9 de maio, quando se celebra o Dia da Vitória, apesar de alguns analistas preverem o fim do conflito nessa data.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, alertou recentemente que a crise militar e política provocada pela Rússia poderá prolongar-se por dois ou três anos.
Há ainda quem entenda que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia poderá estender-se por mais anos e até envolver mais países.
Entretanto vão-se contabilizando os prejuízos, humanitários e económicos, causados pela guerra. O The Insider compilou previsões do que está reservado para o mundo com o prolongamento da guerra.
Crise e pobreza
O comércio internacional foi um dos principais alvos da guerra. Juntas, a Rússia e a Ucrânia produzem mais de metade do óleo de girassol comercializado no mercado mundial, cerca de um quarto do trigo e cevada e um quinto do milho. As sanções aplicadas à Rússia e a guerra que decorra na Ucrânia significam que os países têm agora de encontrar novas cadeias de fornecimento.
Os preços dos produtos agroindustriais já estão a atingir níveis que prometem gerar instabilidade política, semelhante a uma “nova Primavera Árabe” nos países em desenvolvimento mais vulneráveis, especialmente na África e no Médio Oriente.
O aumento dos preços de bens e da energia faz com que 1,7 mil milhões de pessoas em 107 países possam enfrentar a deterioração da qualidade de vida, desnutrição e empobrecimento.
A OCDE acredita que o conflito armado reduzirá o crescimento económico mundial em mais de 1 ponto percentual e aumentará a inflação em 2,5 pontos percentuais. O Banco Mundial cortou a sua previsão para o crescimento do PIB mundial em 2022 de 4,1% para 3,2% e o FMI de 4,4% para 3,6%.
“Boom” de energia verde
Após semanas de discussão entre as instâncias centrais europeias e os Estados-membros, a Comissão Europeia apresentou esta semana um novo pacote de sanções contra a Rússia que inclui a proibição total das importações de petróleo, seja ele marítimo e oleoduto, bruto e refinado.
O anúncio foi feito esta manhã por Ursula von der Leyen, que especificou que o embargo será implementado de “forma progressiva e ordenada”, de modo a que os países e os seus parceiros europeus possam “assegurar rotas de abastecimento alternativas” e “minimizar o impacto nos mercados globais”.
A Rússia fornece cerca de 45% das importações de gás e carvão da Europa, bem como 25% das suas importações de petróleo.
A consultora Roland Berger considera que o embargo permite à Europa mudar para uma energia predominantemente verde a médio prazo. Assim, a percentagem de energias renováveis no consumo final da Europa pode crescer de 33% em 2021 para 50-60% em 2030.
Militarização do Ocidente
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, que o Velho Continente não era palco de uma guerra entre diferentes países europeus.
A guerra na Rússia tem aproximado a Suécia e a Finlândia da NATO, especialmente depois das ameaças do Kremlin.
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, insistiu esta terça-feira que “se a Finlândia e a Suécia aderirem à aliança, transformar-se-ão num espaço de confronto entre a NATO e a Rússia com todas as consequências que isso possa implicar”.
Mas a adesão à aliança atlântica pode não ser tão fácil como parecia inicialmente devido a um braço de ferro interno na Croácia que pode vir a pôr em causa todo o processo, já que a adesão tem de ser aprovada por unanimidade por todos os estados-membros.
O papel da NATO ganhou uma nova importância face à ameaça russa. A Ucrânia pode não ser o único alvo. Caso outro países se aliem a Kiev, Moscovo já prometeu que não ficará quieto. A adesão à NATO dos países do leste e do norte da Europa também é um tema sensível para o Kremlin.
O período de paz vivido na Europa desde o fim da 2.ª Guerra Mundial levou, durante muitos anos, os membros da NATO a economizaram em gastos com Defesa, alocando menos do que os 2% do PIB recomendados.
Agora, os países estão a voltar a investir neste setor, como o caso da Alemanha que anunciou um reforço de 100 mil milhões de euros. A cibersegurança também é um tema a que os países devem começar a dar mais atenção.
A consultora KPMG sugere que empresas e agências governamentais terão que responder a ameaças cibernéticas muito mais complexas e frequentes no futuro.
Ascensão do “nacionalismo do silício”
Antes da guerra, as empresas ucranianas alimentavam o mercado mundial com aproximadamente 50% do néon necessário para produzir microchips.
A pandemia de covid-19 já tinha afetado a escassez de microchips semicondutores — fundamentais para a maioria dos equipamentos eletrónicos, como computadores e telemóveis —, com impacto significativo na indústria automóvel.
Em março do ano passado, os Estados Unidos anunciaram que estavam a ficar sem reservas destes microchips, feitos a partir de silício, com o Presidente Joe Biden a declarar que o país precisa “de cadeias de fornecimento resilientes, diversas e seguras para assegurar a nossa prosperidade económica e a segurança social”.
Agora, a escassez de néon ameaça exacerbar a crise. A UBS prevê a ascensão do “nacionalismo do silício”, o abandono da prática de anos de terceirização de matérias-primas e tecnologia na produção de semicondutores indispensáveis para indústrias de alta tecnologia.