
As lamelas retocadas de sílex e de outras rochas regionais apontam para várias estadias, no sítio de Penascosa, há 26.000 anos
Novas escavações no Vale do Côa revelaram a existência de utensílios de pedra lascada e outros elementos líticos utilizados em fogueiras, que atestam a presença de grupos humanos durante o Paleolítico superior, perto da famosa rocha 3.
Uma equipa de arqueólogos, em trabalho de investigação no sítio da Penascosa, no Vale do Côa, encontrou utensílios de pedra lascada que confirmam a presença humana no local há mais de 26 mil anos.
“É um achado importantíssimo, que após 30 anos da primeira tentativa de identificação de acampamentos dos criadores da arte paleolítica no Vale do Côa, as escavações em curso no sítio da Penascosa revelem agora a existência de utensílios de pedra lascada e outros elementos líticos, usados em fogueiras, que atestam a presença de grupos humanos durante o Paleolítico Superior”, disse à agência Lusa o novo presidente da Fundação Côa Parque, João Paulo Sousa.
Segundo o responsável, “as características técnicas das lamelas retocadas de sílex e de outras rochas regionais apontam para várias estadias no sítio, há cerca de 26 mil anos”.
“A par dos estudos desenvolvidos no sítio do Fariseu, onde até às presentes escavações se conhecia o único caso de preservação de contextos de habitat junto a painéis gravados ao ar livre, também agora na Penascosa, o estudo e as datações radiométricas vão permitir estabelecer a cronologia precisa destas ocupações humanas”, vincou João Paulo Sousa.
Os investigadores salientam que “resultados como estes, em que se confirma a coincidência de vestígios de acampamento em áreas com rochas gravadas, podem trazer dados importantes para a compreensão das atividades e comportamentos dos artistas paleolíticos do Parque Arqueológico do Vale do Côa”.
As sondagens foram realizadas no âmbito do projeto “Côa 3P: Paleogeografia, Paleoecologia e Paleontologia” do Côa e territórios envolventes, pela equipa de arqueologia da Fundação Côa Parque, juntamente com a empresa de geociências MORPH, com a colaboração de doutorandos da Fundação para a Ciência e Tecnologia e estagiárias do Centro de Arqueologia da Universidade Nova de Lisboa.

Trabalhos arqueológicos na Penascosa, um dos sítios de arte paleolítica do Vale do Côa
Segundo João Paulo Sousa, uma visita e formação específica sobre estes novos resultados terão lugar durante nos próximos dias, e serão integrados futuramente na apresentação do sítio da Penhascosa, um dos mais emblemáticos da Arte do Côa.
Em 12 de julho, durante uma reportagem da agência neste local, havia certeza, por parte dos investigadores, da continuidade da expressão artística no Paleolítico, num ciclo de 30 mil anos jamais interrompido.
De acordo com os arqueólogos, depois desta intervenção, surgiram dados “complemente novos”, porque não se conhecia a extensão e a distribuição originais das rochas, na Penascosa.
As sondagens ainda em curso envolvem o trabalho no terreno, a escavação, a análise dos solos, a documentação pormenorizada dos achados, entre outras ações, assim como o apelo a novas tecnologias para identificação das áreas de interesse.
Todo o local das prospeções está aliás a ser passado a ‘pente fino’, com recurso a novas tecnologias, embora a arqueologia prática e convencional, também se aplique no terreno, com os arqueólogos a limpar, lavar, esfregar e a decalcar em papel todos os pormenores que evidenciam a presença da Arte do Côa, de forma contínua, neste local classificado como Património da Humanidade.
Segundo os investigadores, este trabalho é importante “para melhor compreender este sítio para memória futura“.
No ano de 2024, visitaram o sítio arqueológico da Penascosa, em pleno Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), em particular, mais de 8.800 pessoas, o que atesta a importância arqueológica da Arte do Côa.
O PAVC, por razões de salvaguarda e conservação do ‘santuário’ de arte rupestre, está limitado a um número máximo total de 15 mil visitantes por ano, o que tem vindo a acontecer.
Quando da criação do PAVC, em agosto de 1996, foram identificadas 190 rochas com arte rupestre. Atualmente há 1511, das quais 38 são pintadas, o que representa um total de 15.661 motivos identificados, em mais de uma centena de sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30 mil anos, num ciclo artístico que nunca foi interrompido.
A Arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como Património Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Como uma imensa galeria ao ar livre, o PAVC ocupa 20 mil hectares de terreno que estão distribuídos pelos concelhos Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda, a que se junta o concelho de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, com manifestações de arte rupestre.
// Lusa