A adesão à NATO da Finlândia e da Suécia pode não ser assim tão fácil — e a culpa é de uma disputa na Croácia

Damir Sencar / Wikimedia

O Presidente croata quer impedir a adesão da Suécia e da Finlândia à NATO enquanto que o primeiro-ministro é a favor e acusa o chefe de Estado de ser um agente russo. A entrada de novos países na aliança tem de ser aprovada por todos os estados-membros.

A guerra na Rússia tem aproximado a Suécia e a Finlândia da NATO, especialmente depois das ameaças do Kremlin. Mas a adesão à aliança atlântica pode não ser tão fácil como parecia inicialmente devido a um braço de ferro interno na Croácia que pode vir a pôr em causa todo o processo, já que a adesão tem de ser aprovada por unanimidade por todos os estados-membros.

O Presidente croata, Zoran Milanovi, afirmou no início desta semana que nenhum político no país vai aprovar a entrada dos dois países nórdicos na aliança antes do Ocidente apoiar os vizinhos na Bósnia e quem desafiar esta ordem arrisca-se a ser considerado um traidor.

Os comentários do chefe de Estado foram desafiados publicamente pelo primeiro-ministro Andrej Plenkovic. Na Croácia, tal como em Portugal, o primeiro-ministro tem o poder executivo enquanto que o Presidente da República tem um papel mais cerimonial, apesar de ser o chefe das forças armadas, escreve a Bloomberg.

A relação entre Milanovic e Plenkovic já é azeda há muito e o chefe do Governo acusou o Presidente de estar a servir os interesses da Rússia. “A posição de ser contra a expansão da NATO é uma posição pró-russa. Isto é uma catástrofe e muito danoso para a Croácia”, afirmou.

Esta disputa interna no país pode assim vir a pôr em causa as promessas que Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, tem feito à Suécia e à Finlândia de que as suas eventuais entradas na aliança aconteceriam sem percalços e de que os dois países seriam recebidos “de braços abertos”.

Historicamente neutros, os dois países têm tipicamente uma posição de desalinhamento militar, apesar de já terem alguma proximidade da aliança atlântica e fazerem exercícios conjuntos com as tropas da NATO nos seus países.

No entanto, a guerra na Ucrânia e as sucessivas ameaças de Moscovo têm feito o poder político e a opinião pública começar a olhar para uma possível adesão à aliança militar com outros olhos, na esperança de que a entrada da NATO dissuada quaisquer intenções russas de agressão militar.

Milanovic, que também já foi primeiro-ministro pelo partido Social-Democrata de centro-esquerda, continua a ser o político mais popular da Croácia. Condenou a invasão das tropas russas, mas também tem tecido críticas ao apoio incondicional que o Governo tem dado a Kiev e acusou a Ucrânia de ser um estado corrupto.

Por sua vez, o primeiro-ministro, que é de centro-direita, pediu desculpas à Ucrânia em nome do país e tem acusado o Presidente de ser um agente russo. O conflito entre os dois pode ainda trazer mais instabilidade a uma nação que é o mais recente membro da União Europeia e pode aderir ao euro e ao espaço Schengen já no início do próximo ano.

Adriana Peixoto, ZAP //

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