O Banco de Portugal (BdP) terá feito uma “inspeção-relâmpago” ao EuroBic durante três dias no final de outubro após as declarações de Ana Gomes sobre as alegadas “lavagens” de Isabel dos Santos.
A inspeção-relâmpago, ordenada pelo BdP após Ana Gomes escrever sobre o “jeito que dá” a Isabel dos Santos ter quase metade do capital desse banco, em parceria com o empresário luso-angolano Fernando Teles, acabou por determinar que se viesse a realizar uma inspeção mais aprofundada no mês seguinte.
Em declarações ao Jornal Económico, Ana Gomes revelou que foi após essas suas declarações que o BdP avançou com uma “investigação-relâmpago” para confirmar se Isabel dos Santos realmente usa o EuroBic para branquear capitais.
“Só recentemente, na sequência de declarações minhas sobre o facto de o EuroBic ser um instrumento de lavandaria para a acionista Isabel dos Santos e outros elementos da cleptocracia angolana, o BdP ordenou uma operação relâmpago ao EuroBic, no final do passado mês de outubro”, disse.
A “investigação-relâmpago” surgiu na sequência de outra inspeção feita em 2015 ao mesmo banco, na altura por se considerar que este era de “risco intrínseco alto”. Contudo, a ex-eurodeputada socialista disse que “tudo indica que o BdP nunca extraiu consequências práticas do relatório que mandou elaborar em 2015”.
Em outubro, Ana Gomes escreveu no Twitter que a empresária angolana “endivida-se muito porque, ao liquidar as dívidas, lava que se farta”. O tweet deu muito que falar, porque a ex-eurodeputada acabou por referir o EuroBic, levando o próprio banco e Isabel dos Santos a avançarem com processos na Justiça. A empresária angolana ficou ofendida com as publicações e exigiu a Ana Gomes 5.000 euros por dia caso a antiga eurodeputada não eliminasse os tweets.
Não seria a primeira vez que afirmações polémicas de Ana Gomes dariam origem a processos contra si em tribunal. Recentemente, a antiga diplomata também abordou a transferência milionária de João Félix do Benfica para o Atlético de Madrid por 126 milhões de euros, questionando a legalidade da operação.
Os encarnados consideraram que Ana Gomes teve o “propósito de denegrir o nome do Benfica e dos membros dos seus órgãos sociais” e, nesse sentido, solicitaram “a apreciação desta questão pelos órgãos constitucionalmente competentes para o efeito, os tribunais, o que fará pela instauração de um processo através dos seus advogados”. Isto aconteceu no passado dia 5 de julho e Ana Gomes disse que estava “sentadinha à espera” que a processassem.
Justiça angolana está a investigar Isabel dos Santos
Recentemente, o Tribunal Provincial de Luanda, em Angola, decretou o arresto preventivo de contas bancárias pessoais de Isabel dos Santos, do marido, Sindika Dokolo, e do português Mário da Silva, além de nove empresas nas quais a empresária detém participações sociais. Isabel dos Santos detém participações em Portugal em setores como a energia (Galp e Efacec), telecomunicações (Nos) ou banca (EuroBic).
Luanda acusa os três de “ocultar património obtido às custas do Estado” e afirma que a filha do antigo Presidente de Angola, “por intermédio do seu sócio Leopoldino Fragoso do Nascimento, está a tentar transferir alguns dos seus negócios para a Rússia, tendo a Polícia Judiciária portuguesa interceptado uma transferência de dez milhões de euros que se destinava à Rússia”.
Numa sessão de esclarecimento no Instagram, a empresária respondeu também a perguntas sobre o arresto dos seus bens, indicando que esta ação pode levar ao fecho de algumas das empresas que fundou e que lidera. Isabel dos Santos poderá ficar com os bens arrestados durante dez anos.
No fim-de-semana, soube-se ainda que Isabel dos Santos se mudou com o marido para o Dubai, um dos mais conhecidos paraísos fiscais. Além disso, estará a usar nacionalidade russa, da parte da sua mãe, estando cada vez mais afastada de Angola, onde diz estar a ser alvo de uma “perseguição política”.
A empresária Isabel dos Santos acusa ainda os serviços secretos angolanos de terem acedido indevidamente aos servidores das empresas que detém em Portugal e de terem “forjado e falsificado” provas contra si.