Heinrich Hoffmann, Krause Papierwerke/Wikimedia Commons

Ferdinand Porsche revela o conceito Volkwagen na presença de um Adolf Hitler visivelmente entusiasmado, ao descobrir que o motor se situa na mala do carro.
De “carro do povo” a lenda das estradas, eis a história do icónico carro da Volkwsagen.
Todo a gente tem (ou gostava de ter) uma história com um Carocha, fosse ele o carro do avô ou o carro da primeira aventura na estrada. Para quem não tem, o seu simpático design arranca sorrisos. O que muitos não sabem é que este ícone tem uma ligação direta com nada mais nada menos que Adolf Hitler.
O nascimento do projeto que culminou no Carocha deve-se a uma das missões mais desafiantes da engenharia automóvel, encomendada diretamente pelo governo alemão pouco antes da Segunda Guerra Mundial. A história de como foi desenvolvido o Volkswagen Carocha é uma das mais fascinantes do universo automóvel: uma combinação de genialidade técnica com um contexto histórico complicado. Vamos então apertar o cinto de segurança e entrar nesse túnel.
Hitler, Porsche e o Carocha
A ligação improvável arranca com uma ordem direta do führer ao lendário engenheiro Ferdinand Porsche: criar um “carro do povo” (em alemão, Volkswagen). O desafio, no entanto, foi acompanhado de uma lista de exigências que pareciam impossíveis para a tecnologia da década de 1930.
A tarefa de Porsche não era simples: este carro deveria mudar o mundo. Deveria ser robusto, fiável e, acima de tudo, acessível à família de classe média alemã.
As especificações eram incrivelmente rígidas e detalhadas, no que toca a preço, capacidade, desempenho, economia e manutenção: o carro não poderia custar mais de 1.000 Reichsmark, o valor de uma motocicleta, na altura; tinha de transportar confortavelmente dois adultos e três crianças; deveria atingir e manter uma velocidade de 100 km/h; não podia consumir mais do que 7 litros por 100 quilómetros e o seu motor tinha de ser refrigerado a ar, para resistir aos rigorosos invernos sem congelar.
O design que conquistou o mundo
Para cumprir a missão, Porsche e a sua equipa tiveram de pensar fora da caixa, criando soluções que se tornaram marcas registadas do Carocha durante décadas. O design não era só sobre a aparência; cada curva e cada peça tinham uma função.
À boleia do Carocha vimos chegar várias inovações, como o motor traseiro refrigerado a ar. A escolha do motor boxer de quatro cilindros na traseira foi um golpe de génio. Eliminava a necessidade de um radiador e de um complexo sistema de arrefecimento a água, reduzindo custos e aumentando a fiabilidade. Além disso, melhorava a tração nas rodas traseiras.
O chassis em plataforma, em vez de uma carroçaria montada sobre um chassis de longarinas, garantia rigidez estrutural, simplicidade na produção e uma versatilidade incrível, que mais tarde daria origem a outros ícones como a Kombi e o Karmann-Ghia.
A suspensão por barras de torção, simples, robusta e económica, proporcionava um conforto surpreendente para a época e uma durabilidade lendária em estradas em mau estado pelo mundo fora.
E o formato de besouro, de carroçaria arredondada, inspirada em estudos de aerodinâmica, não era apenas para dar um ar “fofo” ao carro: ajudava-o a atingir os 100 km/h com um motor de baixa potência.
Apesar de o seu desenvolvimento ter sido interrompido pela Segunda Guerra Mundial, o projeto sobreviveu. Após o conflito, a fábrica foi reerguida e a produção em massa arrancou, transformando o pequeno e humilde carro num fenómeno global. Tornou-se num símbolo da reconstrução alemã e, mais tarde, num ícone da contracultura e da liberdade nas décadas de 1960 e 1970.
ZAP // CanalTech