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Uma bomba de gasolina e um presente misterioso: assim começou o escândalo no Brasil

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dgcomsoc / Flickr

O ex-presidente do Brasil, Lula da Silva

A investigação do caso Lava Jato começou quase por acaso, e já chegou ao ex-presidente do Brasil, Lula da Silva

O imenso escândalo de corrupção que cerca o governo brasileiro nasceu quase por azar, num posto de gasolina – e continuou com um presente caro que deixou os investigadores intrigados.

O Posto da Torre ocupa um grande espaço comercial no centro de Brasília e tem, além de 16 bombas de combustível, um mini-mercado, um café e uma lavandaria.

Quando a Polícia Federal brasileira ali chegou, há dois anos, havia também uma casa de câmbios onde se suspeitava que ocorria lavagem de dinheiro.

A operação policial foi baptizada de Lava Jato, ainda que no local não houvesse um serviço de limpeza de automóveis.

O nome passou a ser usado para todo o caso de corrupção que envolve a Petrobrás, que levou à prisão políticos e empresários poderosos, e que fez do ex-presidente Lula da Silva um alvo de investigação.

Com mais de 90 condenações realizadas até agora e cerca de 670 milhões de euros recuperados pelos investigadores, o caso Lava Jato é considerado o maior escândalo do género na história do país.

O terramoto político que causou pode custar caro à presidente Dilma Rousseff, que tem índices de popularidade baixíssimos e enfrenta uma acção da oposição para terminar o seu mandado, com um processo de impeachment no Congresso e outro no Tribunal Superior Eleitoral.

Lavagem de dinheiro

Era difícil prever todo este cenário, a 17 de março de 2014, quando os investigadores chegaram ao Posto da Torre, no centro de Brasília.

Ninguém imaginava que a Lava Jato se ia tornar no que é hoje“, diz à BBC um agente da policia federal que, desde o início, está próximo das investigações feitas a partir de Curitiba, no Paraná.

“Era algo pequeno, que desde então não para de crescer”, acrescenta.

O posto em Brasília entrou na mira dos investigadores depois de terem sido escutadas as comunicações telefónicas do seu proprietário, Carlos Chater, em julho de 2013.

A investigação chegou a Chater na sequência da averiguação de supostos delitos de lavagem de dinheiro, ligados ao ex-deputado José Jatene, que, até à sua morte, em 2010, tinha negócios no Paraná.

Organizações criminosas

A polícia suspeitava que Chater actuasse como doleiro, nome dado no mundo do crime a operadores ilegais do mercado de câmbios, que criam uma espécie de sistema bancário oculto usado por indivíduos e organizações para ocultar e lavar dinheiro sujo.

Geraldo Magela / Agência Senado

Alberto Youssef, o doleiro om o qual começou a operação Lava Jato

Alberto Youssef, o doleiro om o qual começou a operação Lava Jato

Depois de vigiar Chater durante alguns meses, os investigadores concluíram que, na realidade, não estavam diante de uma, mas quatro organizações criminosas que interagiam entre si, com vários doleiros no seu comando.

Uma destas organizações era encabeçada por Chater, que mais tarde seria condenado à prisão pelo juiz responsável pelo processo, Sérgio Moro, por lavagem de dinheiro.

Outra das organizações tinha como líder Alberto Youssef, que, segundo os investigadores, era um “antigo conhecido da Procuradoria da República e da Polícia Federal”.

Um presente luxuoso

De facto, Youssef já tinha sido preso em 2003 por lavagem de dinheiro e outros crimes contra o sistema financeiro, num caso anterior de evasão de fundos do banco Banestado.

Na ocasião, Youssef conseguiu escapar a uma pena maior assinando um acordo de colaboração inédito no Brasil, para reduzir a sua condenação em troca de fornecer informações, homologado pelo juiz Sérgio Moro.

O caso Banestado foi um antecedente chave para o escândalo que estremece o Brasil agora: além de ter à frente o mesmo juiz, vários investigadores deste esquema ilícito passaram a trabalhar na Lava Jato.

Quando voltaram a vigiar Alberto Youssef pela sua ligação a Carlos Chater, os investigadores encontraram um email que aludia a um presente luxuoso: um jipe Range Rover Evoque.

Ligação à Petrobrás

Os investigadores ficaram assombrados ao descobrir que o destinatário do presente de Youssef era Paulo Roberto Costa, que, entre 2004 e 2012, tinha sido director de aprovisionamento da Petrobrás, um cargo crucial na gestão de contratos da petrolífera brasileira.

Uma inesperada ligação da petroleira estatal à rede ilegal de lavagem de dinheiro ficou nesse momento exposta aos investigadores, que só meses mais tarde conseguiriam resolver o quebra-cabeças.

GOVBA / Flickr

Batismo da Plataforma P-59 da Petrobras em Maragogipe

Baptismo da Plataforma P-59 da Petrobras em Maragogipe

A primeira fase da Lava Jato, iniciada no Posto da Torre, resultou em 81 mandados de busca e 28 mandatos de prisão preventiva em várias cidades do país. Foram apreendidos carros desportivos, jóias, obras de arte e relógios de luxo.

O propósito era desarticular uma rede que lavava dinheiro de narcotráfico, comércio ilegal de diamantes e de desvio de dinheiro público.

Reviravolta

Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, foi preso a 20 de março de 2014, depois de familiares seus terem sido filmados por câmaras de segurança a entrar e sair, com bolsas e mochilas, de um edifício onde funcionava a sua empresa.

Segundo os investigadores, estavam a destruir provas.

A colaboração internacional também foi importante: procuradores suíços informaram os seus pares brasileiros de que havia nos bancos do país mais de 20 milhões de euros em contas pertencentes a Costa.

Tudo indicava haver um esquema oculto de desvio e lavagem de dinheiro proveniente da Petrobrás, mas faltava descobrir exactamente como funcionava e até onde chegava.

Entretanto, o caso teve uma reviravolta importante quando, em agosto de 2014, Paulo Roberto Costa chega a um acordo de delação para reduzir a sua pena.

Em troca, deveria devolver dinheiro, relatar os crimes e indicar os outros implicados.

Então, Alberto Youssef fez o mesmo – e tinha bastante a revelar.

Acordos de delação

Com estes novos testemunhos, os promotores denunciaram que as principais construtoras do país, entre elas gigantes como Odebrecht e Camargo Corrêa, tinham formado um cartel para partilhar entre si contratos multimilionários com a Petrobrás.

Para os obter, pagavam subornos a directores da Petrobrás e a meia centena de políticos de diferentes partidos – incluindo do Partido dos Trabalhadores, no poder, e seus aliados.

O dinheiro desviado variava entre 1% e 3% do valor dos contratos conseguidos e ia para empresas, que o disfarçava como pagamentos por consultorias, após o que passava por Youssef e outros doleiros, antes de chegar aos seus destinatários.

Agência Brasil / Flickr b

O ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) brasileiro, João Vaccari Neto

O ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores brasileiro, João Vaccari Neto

O escândalo não parou de crescer, alimentando um total de 49 acordos de colaboração que permitiram recuperar quase metade dos 1.6 mil milhões de euros pagos em subornos, segundo os promotores.

Mil anos de prisão

Até ao momento, 179 pessoas foram acusadas criminalmente. As condenações já emitidas em primeira instância somam quase mil anos de prisão.

Entre eles, estão o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, antigos directores da Petrobrás e o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, condenado a 19 anos e 4 meses de prisão.

Youssef e Costa receberam também penas de 20 anos e alguns meses de prisão cada um. Mas, como tinham condenações prévias e foram delatores no caso, poderão beneficiar de reduções de pena atribuídos por Sérgio Moro.

Agora, resta a pergunta: até onde chegará a investigação?

Lula investigado

O ex-presidente Lula da Silva está a ser investigado por suspeitas de ter recebido benefícios das construtoras envolvidas no caso.

Mas Lula nega-o, criticando Moro e os investigadores, sugerindo inclusivamente que estes causaram prejuízos à economia brasileira.

A semana passada, o Supremo Tribunal Federal brasileiro pediu a Sérgio Moro que enviasse ao tribunal as investigações (e escutas) sobre Lula, e retirou a investigação sobre o ex-presidente ao juiz.

Na sua decisão, o juiz Teori Zavascki critica o facto de Moro ter divulgado conversas telefónicas de Lula gravadas por escutas – nomeadamente uma escuta de Lula com a presidente Dilma Rousseff.

Heinrich Aikawa / Instituto Lula

Lula da Silva e Dilma Rousseff

Lula da Silva e Dilma Rousseff

A escuta contém uma conversa que aumentou as suspeitas de que Dilma terá nomeado Lula como ministro para dar ao ex-presidente imunidade e evitar a sua eventual prisão.

A nomeação de Lula como ministro foi entretanto suspensa pelo juíz Gilmar Mendes.

Os juízes foram unânimes em considerar que cabe ao Supremo analisar as gravações, já que envolvem personalidades com imunidade, como a presidente Dilma Rousseff e o ministro Jaques Wagner.

O Supremo irá agora decidir se as investigações serão integralmente mantidas no STF, ou desmembradas para que possam continuar sob a jurisdição de Moro os procedimentos contra pessoas sem foro privilegiado, como Lula, já que a sua nomeação está suspensa.

A expectativa é de que na próxima semana o Supremo decida também se Lula pode ou não assumir a Casa Civil.

O ex-presidente, num discurso este sábado, explica porque aceitou a nomeação como ministro da Casa Civil e diz que quer mesmo tomar posse na quinta-feira.

Entretanto, o posto de gasolina onde tudo começou continua a atender centenas de veículos por dia na capital do país.

Mas, agora, sem ter uma casa de câmbios nas suas instalações.

Posto da Torre - muito mais que um posto. E era verdade.

ZAP / BBC

2 Comments

  1. AAAAahahahaestanamoda e ja é CURSO UNIVERSITARIO em muitos paises e inclusive na EUROPA a CORRUPÇÃO, LAVAGEM DE DINHEIRO, FRAUDES, ROUBOS etcetc e PORTUGAL ja vai a reboque com SOCRATES PASSOS COELHO, PAULO PORTAS,ASSUNÇÃO CRISTAS,ASSUNÇÃO ABUQUERQUE,o Novo PRESIDENTE bARCO REBELO 8rissss),oé so fazer as contas eeeheheh LUL. DILMA etcetcetc e venha cada vez mAIS JUDICARIA uiuiuie nunca mais para……eheheehiiiiiiiiivaila vaiiiii………
    a.g.p. e vira milho.

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