Menu do dia: almoço, sobremesa e uma selfie com um leãozinho, por 130 euros

Um restaurante na província de Shanxi, no norte da China oferece abraços com crias de leão enquanto os clientes desfrutam da sua refeição. Está a ser criticado por grupos de defesa dos animais e condenação nas redes sociais, mas garante que as crias são bem tratadas.

Nas últimas semanas, alguns clientes do restaurante Wanhui, na cidade de Taiyuan, publicaram fotografias e vídeos nas redes sociais chinesas WeChat e Weibo, nas quais aparecem a embalar crias de leão.

O Wanhui, que abriu em junho, vende cerca de 20 bilhetes por dia a clientes que queiram aconchegar-se com os animais. O “prato” faz parte de um menu fixo com o preço de 1.078 yuan (cerca de 130 euros).

O restaurante confirmou à Reuters que tem, de facto, crias de leão no local, e que estas são muito bem cuidadas, com tratadores especializados responsáveis pelo seu bem-estar.

Embora alguns jardins zoológicos no mundo, como em Singapura ou na Austrália, ofereçam experiências gastronómicas junto a recintos com animais ou com vista para a vida selvagem, é raro um restaurante permitir interação física direta com animais selvagens.

Além das crias de leão, o restaurante mostra também lamas, tartarugas e veados na sua página do Douyin, a versão chinesa da aplicação de redes sociais TikTok.

Nas redes sociais, a maior parte dos utilizadores critica a invulgar iniciativa do restaurante chinês, que consideram ser perigosa e prejudicial para os animais. “É uma diversão para os ricos”, escreveu um utilizador do Weibo. Outro pede ação das autoridades: “os departamentos competentes deviam intervir.”

Mais do que comentários nas redes sociais, o menu especial do Wanhui tem sido alvo de críticas de organizações de defesa dos direitos animais.

“Arrancar crias de leão às suas mães para que clientes as possam manusear durante o chá da tarde é exploração, não entretenimento. Estes animais são seres vivos e sensíveis, não brinquedos”, disse à Reuters Jason Baker, vice-presidente da ONG Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais, PETA. “Os animais estão a ser tratados como nada mais do que adereços para redes sociais”.

Peter Li, especialista em políticas da China na Humane World for Animals, diz por seu turno que “explorar animais selvagens para selfies e manobras de marketing não é apenas um atentado chocante contra o bem-estar animal, é também potencialmente arriscado para os clientes”.

“Mesmo um leão jovem é capaz de se revoltar e ferir um ser humano. Tratar animais selvagens como adereços é moralmente inaceitável e perigosamente irresponsável”, acrescenta Li.

Em junho, as autoridades chinesas investigaram o hotel Lehe Ledu Liangjiang, em Chongqing, que oferecia um “serviço de despertar” com pandas-vermelhos, uma espécie protegida na China e que está na lista de espécies em risco da IUCN.

Segundo o South China Morning Post, o hotel permitia que os animais subissem para as camas dos hóspedes para os acordar. Os clientes têm normalmente alguns minutos para interagir com o panda vermelho, dependendo do seu estado de espírito, com um cuidador presente por razões de segurança.

Embora os pandas-vermelhos sejam conhecidos por serem dóceis e relativamente mansos, também são tímidos e podem assustar-se quando manuseados. É crucial manter uma distância segura entre os animais e os humanos.

Em fevereiro, recorda o SCMP, uma hóspede de um outro hotel com temática de vida selvagem, na província de Jiangsu, a norte de Shangai, relatou que o seu marido foi mordido na barriga um panda vermelho enquanto brincava com ele.

Ter animais selvagens a despertar hóspedes de hotel ou a dar abracinhos à sobremesa parece uma ideia de marketing genial — até ao dia em que um cliente azarado se torne a sobremesa de um leãozinho mais esfomeado.

ZAP //

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