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Mesmo com medidas, peritos preveem 14 mil casos (e 150 óbitos) diários em 2 semanas. Recolher ao fim de semana teve efeito

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José Sena Goulão / Lusa

O Governo reuniu esta terça-feira com os especialistas para aferir a situação epidemiológica do país. O encerramento – ou não – das escolas é a maior incógnita das medidas do novo confinamento que entrará em vigor a partir de quinta-feira.

André Peralta Santos, da Direção Geral de Saúde (DGS), começou a retratar a situação epidemiológica do país, comparando a segunda onda da pandemia e o momento atual: “A situação, em comparação com o pico da segunda fase, é de maior homogeneidade e de agravamento da incidência.”

Segundo o especialistas, as hospitalizações aumentaram desde o início do ano, referindo que a região Norte tem uma tendência decrescente, ao contrário das outras regiões.

Os óbitos têm tendência claramente crescente “em máximos históricos”, que se verifica em todas as regiões, mas a “subida tem maior expressividade no Alentejo”.

Óscar Felgueiras, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, explicou que houve uma incidência de crescimento “particularmente forte na última semana” na região Norte, com um crescimento acima de 30% em grande parte do território, o que sugere que “o crescimento ainda está a manter-se com força”.

Quanto às faixas etárias, a maior incidência a Norte é no grupo dos “20 aos 29 anos”. O perito alerta que o crescimento na região é “transversal em todas as faixas etárias” e o “ritmo de crescimento é muito rápido”.

Uma das incidências mais elevadas a Norte é Bragança, onde existem vários surtos em lares, aponta Óscar Felgueiras, sendo o Porto “o distrito que apresenta uma incidência mais baixa e um crescimento não tão forte”.

Viana do Castelo é “o concelho mais crítico” a Norte, onde o crescimento está a ser mais acentuado do que no resto da região. “O crescimento dá-se na população ativa e mostra uma clara transmissão comunitária”.

Já em Lisboa e Vale do Tejo, segundo Duarte Tavares, os casos por cem mil habitantes são transversais em todos os concelhos e há aumento de contágios na faixa etária dos 20 aos 29 anos. “Verifica-se que de novembro para dezembro, e de dezembro para janeiro, temos cada vez mais casos em mais jovens”, explicou.

No Aeroporto de Lisboa, os casos importados nos primeiros dias de janeiro são quase tantos como em novembro. Há também muitos portugueses ou cidadãos a residir em Portugal que se recusam a ser testados quando chegam à Portela.

Confinamento ao fim de semana teve efeito

Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, falou da evolução da incidência e transmissibilidade da epidemia, apontando que o número de casos ultrapassa em 130% o valor máximo de novembro.

O especialista apontou que é no “retalho e no lazer” que é possível estabelecer uma relação com maiores movimentos de contactos social e que é possível identificar uma mobilidade na véspera de Natal e na Passagem de Ano. “Nos dias antes da Passagem de Ano, a mobilidade é praticamente igual ao período pré-pandemia e depois uma queda muito significativa, que se aproxima do período de confinamento geral de março”.

O especialista disse ainda que os confinamentos de fim de semana, com recolhimento obrigatório em concelhos de risco mais elevado no país, teve efeito. A incidência estava a crescer 3% antes destas medidas e passou a 1,4%.

Baltazar Nunes explicou que, “se nada for feito, o número de hospitalizações e de novos casos vai continuar neste aumento”. Já com medidas durante duas semanas, “aparentemente passado esse período, o R [índice de transmissibilidade] volta a 1%”.

“É claro que quanto maior for o confinamento, e mais fechadas estiveram as escolas e a comunidade, maior é a redução da transmissão”, disse, acrescentando que, mesmo assim, “fechando tudo menos as escolas, o R ficará abaixo de 1%”.

Pelo menos 14 mil casos diários em 2 semanas

Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, destacou que houve, entre 24 e 29 de dezembro, “aproximadamente 5 mil casos que escaparam ao processo normal de testagem. Não foram testadas, muitas não deram importância à sintomatologia ou tinham e não foram testadas”.

O especialista notou ainda que “muitas delas não estavam sequer no seu agregado familiar normal e depois deslocam-se” para junto das famílias.

O especialista previu que “teremos pela frente as semanas mais difíceis desta pandemia” e que, mesmo com um confinamento como o de março com as escolas fechadas, “dificilmente evitaremos 14 mil casos daqui a duas semanas” e entre 140 a 150 mortos por dia.

Sem medidas, a 19 de janeiro atingiremos mais de 18 mil casos e a 26 de janeiro o país terá mais de 37 mil casos, segundo o especialista.

“A única boa notícia é que depois disto só pode melhorar”, afirmou o especialista.

O epidemiologista Henrique Barros, presidente do Conselho Nacional de Saúde, explicou que as pessoas com mais de 80 anos são as que demoram mais tempo a atingir o pico da infeção e que a letalidade “é muito próxima dos 20%”. “Dos cerca de 3 mil casos que já temos em janeiro [>80 anos], iremos ter 600 óbitos e que são eles a locomotiva das mortes”, referiu.

Escolas: encerrar ou não?

João Paulo Gomes, microbiologista, disse que, ao contrário do que se pensava inicialmente, “não há evidência” de que a variante do Reino Unido afete mais os jovens em idade escolar.

Durante seis semanas, a começar em dezembro, num total de 16 mil testes, 4.610 deram positivo. Destes, explica, 371 (8%) eram potencialmente da variante britânica.

Henrique Barros disse que o pico “não é nas idades escolares, não são a locomotiva da infeção.”

Já entre os jovens dos 20 aos 29 anos, onde há muitos universitários, Henrique Barros diz que há “menos riscos” de contágio entre aqueles que com esta idade estudam, ou seja, as pessoas com a mesma idade, “mas com menos instrução”, estão mais expostas ao vírus.

O epidemiologista diz ainda que “há uma ausência de surtos nos espaços escolares” – tanto escolas como instituições de ensino superior. “Os contágios não ocorrem nas escolas, mas fora delas.”

1.ª fase da vacinação não acabará antes do fim de março

O coordenador do Plano de Vacinação, Francisco Ramos, afirma que “dificilmente conseguiremos ultrapassar a primeira fase da vacinação no primeiro trimestre do ano” devido ao ritmo da distribuição da vacina pelos países.

Francisco Ramos explicou ainda que vai começar a vacinação nos profissionais de saúde dos hospitais privados, “a começar pelos que têm acordos para acolher doentes covid”. Serão disponibilizadas quatro mil doses para este efeito.

Nas próximas semanas, planeia-se dar prioridade à vacinação nos lares e na rede de cuidados continuados. “Onde houver surtos, não haverá vacinação. Só no final do surto”, acrescentou.

Maria Campos, ZAP //

21 Comments

  1. Não compreendo. Então a vacinação não resolve? Não cura? Os biliões de euros dados pelos contribuintes só na Europa para as farmacêuticas e depois para comprar cada vacina não está a resultar no fim dos “enjaulados” nem das medidas orientais, como uso de máscara? Que especialistas são estes? São especialistas sem trabalho na área ou experiência?? Já que os contribuintes estão a pagar que se contratem os melhores, porque a vida não tem preço. Porque o número de casos é bastante preocupante.

    • Para ja na dizer que as vacinas so agora estao a chegar e em numero reduzido. E e preciso 2 doses (que ainda ninguem tomou) e so 1 semana depois da segunda e que faz efeito, que mesmo assim nao e 100%.

      Uma vacina nao e cura, serve apenas para prevenir.
      Se ja tem covid, nao faz nada obviamente.

  2. Existir vacina , não significa que o surto acabou! Se existisse 10000 doses para aplicar por dia, de segunda a sábado, seria vacinado 60000 pessoas, e para obter uma imunização de grupo na melhor das hipóteses, com 60% da população vacinada, se a nossa população for de 1000000, seria necessário vacinar 6000000, o que corresponderia a 100 dias. Não existe vacinas nessas quantidades disponíveis, logo teremos que usar mascara e distanciamento social, mais uns meses, e não pensem que isso acaba no inicio do verão! A mascara e desinfeção vai ser nossa realidade ainda mais um ano…

    • Sim… Concordo. Mas não se esqueça! Alguém que está vacinado (com as duas doses) pode ainda infetar outros através do contacto. Algo que não é dito frequentemente é que o Sars-Cov-2 sobrevive durante algum tempo (entre uma semana a quase um mês) nas superfícies e a pele e outros objetos que transportamos diáriamente são… superfícies! Por isso, mesmo vacinadao, deve ter-se igualmente cuidado. Porque esta informação não é divulgada de forma massiva, os números de infetados vão aumentar porque as pessoas vão pensar que já não infetam… Vão facilitar… ainda mais! E os que não estão ainda vacinados é que se vão lixar…

  3. Ainda assim não vejo ações que são aoptadas noutros países com menos incidencia da pandemia do que no nosso, concretamente:
    Pórticos de desinfeção obrigatórios para acesso a edifícios.
    Obrigatoriedade de controlo da temperatura para acesso a espaços fechados de acesso público.
    Desinfeção obrigatória das mãos antes do acesso a lojas mais concretamente em supermercados.
    Limpeza e desinfeção horária de espaços fechados de acesso público.

    • É! Deve ser um dos poucos que chegou a essa conclusão (e é verdade que a verdade dói – mas há muitos que ainda não a atingiram). Pena que pertença a uma pequeníssima minoria… Assim como eu.

      • Sim e não… Nim! Porquê? É verdade que o Governo não esteve nada bem (mesmo nada) mas o povo também não. Quando se diz continuamente “mantenha as distâncias, use a máscara (corretamente) e higienize as mãos”, o povo faz orelhas moucas. Mas tem também razão. Devia ser mais restritivas. Porquê? Porque o povo só faz se fôr obrigado e/ou se tiver medo. caso contrário é absolutamente egoísta! Mas o Governo não tem as “bolas” para isso. Não é popular. Na prática, o que eu quero dizer é que quando o povo não se sabe comportar (o que está mais que provado) é preciso tratá-lo como uma criança. mas o Costa não quer. E vamos continuar nesta “dança” de mortos e infetados durante muuuuito tempo. A culpa não é do vírus! A culpa disto tudo é do homem (humanidade) que o espalha. O vírus não consegue viver sem o ser humano. Mas o ser humano ainda não percebeu que para matar o virus (que só tem dois propósitos – comer e reproduzir-se – não tem qualquer malícia ao contrário do homem) é preciso impedir que este chegue a outro ser humano. Até agora só temos ajudado o virus a proliferar.

  4. O combate à pandemis devia ter seguido uma estratégia muito diferente:
    1. Proteção a todo o custo dos mais idosos e doentes;
    2. Liberdade para todos os outros que poderiam nada fazer para evitar o contágio;
    3. Vacinar os mais vulneráveis.
    Resultado:
    Já teria acabado a pandemia com um número insignificante de mortos.

      • Penso que o Brilhante está enganado,
        Se verificar nos dados disponibilizados pela DGS pode ver qui a maioria dos infectados, cerca de 75%, pertence às faixas etárias até aos 59 anos enquanto que os óbitos dão-se maioritariamente, cerca de 96%, nas faixas etárias acima dos 60 anos.
        Parece não haver uma relação directa causa-efeito entre infecções e óbitos.

      • “Parece não haver uma relação directa causa-efeito entre infecções e óbitos.”. Pois… É com essas conclusões “brilhantes” dos pseudo-peritos que estamos como estamos e vamos piorar… muito! Acorde! Há um fator comum em todas as infeções! O ser humano! É ele que transmite a outros! E não sou perito de nada! É apenas senso comum que parece haver em muito pouca quantidade.
        Sabe? Gostava muito de estar errado. Os mortos e crescente infetados (que morrerão muitos de sequelas, no futuro) é prova mais que evidente que a atribuição de consciência/responsabilidade ao povo português tem efeitos desastrosos. Daí que a segunda proposta do Sr Nuno Cardoso da Silva é absolutamente absurda no que respeito ao combate eficaz á pandemia que, não foi “criada” pelo vírus mas sim pelo total desrrespeito por si e pelos outros por parte da maioria da população mundial. E não me venham com números dos especialistas. Tem dado raia sempre! Se eles acertassem, já estaríamos com números irrisórios e… NÃO ESTAMOS!!!

      • Este seu comentário é mesmo “Brilhante”- Fez-me lembrar uma imagem em que Deus oferecia o cérebro do conhecimento ao homem e este lha responde: – Não preciso, acredito no meu governo.
        Não é por minha culpa que estamos como estamos, não sou perito, não sou influenciados nem mando nada, apenas me reservo o direito de pensar.
        Vamos fazer um exercício:
        Você deve estar na faixa dos 30 aos 39 anos, ainda não pensa. No site da DGS, onde informa o número de mortos e de infectados, o seu grupo é responsável por cerca de 15% das infecções mas apenas obteve 0,05% dos óbitos. Causa directa, os jovens são responsáveis pela maioria das infecções mas sobrevivem. A minha faixa etária é responsável por menos de 7% das infecções mas os óbitos ascendem a mais de 20%.
        Resultado, os jovens andam nas “raves” e infecta-se mas, como são resistentes, não morrem. Depois vão para casa infectar os pais e avós que, por terem uma resistência menor acabam por morrer. Daqui conclui-se que os jovens andam a matar os velhos, mas os velhos é que são os culpados, hehehe.
        E vêm para aqui com o discurso da cassete, despejar frases que nem entendem só para se mostrarem “Brilhantes”.
        Aceite lá o cérebro que Deus lhe ofereceu e comece a usá-lo, não envergonhe a humanidade.

      • Bem… Julgando pelo seu discurso “Brilhante” você “também” não aceitou o dito cérebro, ou… ainda não teve a oportunidade de o usar. Apenas lhe digo o seguinte, sabendo que esse cérebro provavelmente continuará sem uso: TODOS NÓS ESPALHAMOS O VÍRUS!!! Seja que faixa etária fôr. Esss peritos das percentagens não andam na rua e não vêm o que eu vejo. Multidões a passear sem qualquer distanciamento e… sem qualquer distinção de faixa etária… E alguns sem máscara o com ela a proteger… o queixo!
        Nunca disse que você que era a sua culpa que estamos como estamos. Disse que são pessoas que “pensam” como o senhor que fazem proliferar o vírus.
        Nota: “Não preciso, acredito no meu governo.” Não. Não acredito de todo no “meu” governo. Não depois das bacuradas que tem feito nesta pandemia.
        “Aceite lá o cérebro que Deus lhe ofereceu e comece a usá-lo, não envergonhe a humanidade.” Depois deste “conselho” respondo-lhe com outro. “Tenha cuidado. Manrtenha SEMPRE o distanciamento (mesmo que seja preciso andar mais um pouco) e use a máscara corretamente. Penso em si e nos seus. Se não tiver cuidado, outros sofreram com isso”. Fique bem. Fique seguro. Fique em casa.

  5. Bom dia para todos, incluindo para o Comunista “Eu!”.
    De facto, o tesouro que chegou a Portugal há exatamente dezassete dias – façam as contas, bebés – não está a ajudar no combate, porque temos um governo que só toma medidas quando o vírus fica mais forte.
    Aqui é que se constata a preguiça intelectual dos nossos governantes, e também a incoerência e a desobediência aos juramentos porventura feitos antes do início do mandato/ou antes do início de um cargo de vigarice.
    Não confiem nestas coisas. Protejam-se.

  6. O “Eu!” vem para aqui com o rei na barriga, mas não faz ideia daquilo que escreve.
    “Eu!”, vá ser esquerdista para outro lado.

    • Eh lá… ò alminha, de que buraco saíste tu??!
      Nota-se que precisas desesperadamente de atenção, mas, se queres alguma reacção da minha parte tens que responder diretamente aos meus comentários, senão, como eu tenho muitos admiradores alucinados (como tu) e não tenho tempo para ler tudo, corres o risco de ser ignorada… e é pena, porque se nota que os meus comentários são mesmo muito importantes para ti!
      Vá, agora volta lá para tua caverna antes que aparecem por aí os fantasmas “comunistas” e “esquerdistas” à tua procura!…

      • Saí de um buraco há alguns anos… quase vinte e seis. E tem corrido tudo bem, quando não me aparecem pessoas arrogantes no caminho.

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